segunda-feira, 19 de abril de 2010

EU PLAGIADOR ME CONFESSO


(PLAGIEI ESTA IMAGEM DAQUI)







 Quando eu nasci, comecei por mamar nos seios da minha mãe. Parece que era usual lá na aldeia. Acho que era assim que os “mafarricos” como eu, paridos no meio do campo, faziam. Olhando para os gestos que os meus pais mostravam, comecei a comer, a beber e a copiar tudo em memória fotográfica. Toda a gente dizia que eu podia. 

Fui crescendo, olhando o sorriso do meu vizinho, e vendo que, como planta carnívora para aliciar insectos, pela sua simpatia, atraía toda a gente e todos gostavam dele, não fui de modas: copiei o seu sorriso.



Na escola primária, onde aprendi o a, e, i, o, u, reparei que o Idalécio, um “caramelo” muito bem comportado, que dominava todas as áreas, desde as ciências, passando pela aritmética, até à história, era muito respeitado por todos. Durante uns tempos, como animal a estudar a sua vítima, copiei toda a sua forma de ser, e não fui de modas. Tornei-me um Idalécio, mas com outro nome. Procurei ser bom no que podia. Até o Rui, um rapazinho com uns carritos de corda, que era um bocado lerdo na aritmética, passou a vir comer à minha mão. Comecei a ver que através de imitar os outros, mesmo sendo uma grande nódoa, poderia chegar longe e em direcção ao futuro.
 Até vir para a cidade as minhas necessidades fisiológicas eram feitas num barracão ao fundo nosso quintal. Eu copiava o meu pai e outro pessoal que alinhava nas mesmas modas lá no lugarejo. Nunca tinha visto nada diferente que me servisse de referência para evacuar os dejectos.
 Quando vim para a cidade, posto perante uma sanita, reparei que a evolução para a modernidade começava ali. Copiei tudo. Nunca mais frequentei o barracão dos fundos do quintal. Estava a tornar-me um plagiador formatado. Toda a gente dizia que eu podia e devia copiar.
 Comecei a ganhar gosto pela escrita. Comecei lá por casa, para ver o que podia açambarcar, mas nada. Os meus pais não sabiam ler nem escrever.
 Iniciei-me a ler tudo o que era banda desenhada: o “Falcão”, o “Mundo de Aventuras”, o “Condor”, o “Seis Balas” e até muitos livros do “Patinhas”. De vez em quando ia plagiando umas coisas. As pessoas diziam que eu podia.
 Entrei na adolescência, sentia um frémito cá dentro, precisava de uma mulher para me iniciar, mas a coisa estava preta. Era difícil perder o estatuto de virgem. Foi então, mais ou menos com 14 anos, num assomo de coragem e necessidade, que me atirei à menina Geninha. A Eugénia era uma rapariga rodada nas lides do amor. Certamente, ao olhar para as minhas borbulhas no rosto, manifestação da testosterona, as minhas hormonas em delírio febril, e talvez compreendendo a minha carência, fez de mim um homem e ensinou-me tudo o que um rapaz precisa de saber para fazer feliz uma mulher. Tive sorte, estávamos em 1970, ainda não se tinha descoberto a pedofilia. Sim porque a menina Geninha tinha mais de trinta anos. Com ela aprendi a seguir o que os outros homens faziam. O meu tio, é que não foi de modas, quando descobriu: “alto e pára o baile”, dissera. Mas que interessava isso? Eu já tinha as aulas de condução. Só me faltava a carta, mas, calma, ela viria mais tarde.
 Como os outros fumavam, eu, que era plagiador em tudo o que via, ia para o cinema Tivoli e para o Sousa Bastos, em Coimbra, e, no intervalo, lá estava eu de cigarro na boca, como se fosse já um grande entre os maiores. Se tivesse uma moeda a mais, encostado ao balcão com as pernas a fazer um quatro, até bebia uma cerveja só para parecer um homem a sério.
Então, em balanço, eu já comia, já bebia, já fumava, já me enfiava na cama com uma mulher como os grandes, mas as pessoas diziam que eu não…devia. Bem argumentava que me limitava a plagiar mas eles é que não queriam saber da minha arte de copiar: não podia e pronto…ou ponto final e parágrafo, sei lá!
  A trabalhar, fui crescendo, tornei-me maior, fazendo como os outros, casei pela igreja, vieram os filhos, olhando para o que se passava à minha volta, eduquei-os o melhor possível, e fui sempre andando…no copianço. Numa mimética obsessiva, sempre a fazer igual ao que os outros faziam.
 Fui escrevendo, lendo aqui, gravando acolá, e sempre no plágio. Nunca consegui ser original. Olhando para trás verifico que tudo o que fiz foi mesmo um plágio completo de todos aqueles que me antecederam. Mas, juro, ainda não desisti de encontrar qualquer coisa que me torne um protótipo, um modelo original. Todos os dias penso nisso, mas, para minha frustração, verifico que sou mesmo mais do mesmo. Já pensei em mil e umas coisas. Sei lá! Por exemplo, tocar e cantar na rua às três horas da manhã. Mas acabei por desistir. Às tantas ainda ia parar à esquadra e me aparecia um agente mal-encarado, como um que há dias embirrou comigo, que não tendo nenhuma sensibilidade perante a minha notoriedade e talento em potência, ainda me punha a dormir no “chilindró”.
 Então o que me resta? Pouco. Nada! Por um lado querem que eu seja igual a todos. Por outro, querem que eu seja diferente. Nesta minha luta pela originalidade, chegam a acusar-me de plagiar. Como é que descalço esta bota?
Tenho de continuar a ser um ser igual a outro qualquer. Mas é pena, palavra de honra! Eu esperava muito mais de mim. Isto só pode ser mesmo embirração do destino. Se a sorte compensa os audazes, porque é que não olha para mim e me bafeja? Será que eu não mereço? Sei lá! Se calhar não! Ao menos, nem que fosse por cinco minutos…


2 comentários:

Anónimo disse...

Plagiar é como mentir, todos o fazemos de forma consciente ou inconsciente, quem não o admitir só pode estar a mentir.
Jorge Neves

Todo homem nasce original e morre plágio.
Millôr Fernandes

Plagiar, é implicitamente, admirar.
Júlio Dantas

O plágio é necessário. É o progresso que o implica. Ele analisa de perto a frase de um autor, serve-se das suas expressões, apaga uma ideia errada, substitui-a pela correcta.
Isidore Lautréamont

Eu sou o plágio do que ouço e vejo por aí.
Kléber Novartes

Plágio é quando se rouba de um autor. Pesquisa é quando se rouba de vários autores
Wilson Mizner

Anónimo disse...

http://www.agenciafinanceira.iol.pt/economia/new-york-times-plagio-media/1139637-4058.html

http://roney.posterous.com/editoras-suspeitas-de-plagio-landmark-martin

http://aeiou.expresso.pt/criadora-de-harry-potter-acusada-de-plagio=f566055

http://jornal.publico.pt/noticia/15-04-2010/acusacao-de-plagio-da-100-mil-euros-a-miguel-sousa-tavares-19196243.htm

http://aeiou.expresso.pt/pesquisa-ou-plagio-venha-o-diabo-e-escolha=f564511