sábado, 3 de outubro de 2009

UMA FOTO POR ACASO - VIDAS DE SAL




É O CARLITOS "POPÓ". JÁ AQUI FALEI DELE. É UM DAQUELES PERSONAGENS QUE VAGUEIAM NAS CIDADES. NÃO FAZEM MAL A NINGUÉM. SÃO UMA ESPÉCIE DE ROSA BRAVA NUM JARDIM. ENFEITAM MAS NINGUÉM LHE DÁ VERDADEIRA IMPORTÂNCIA. SÃO PESSOAS, QUASE SEMPRE SEM NOME, QUE RARAMENTE OLHAMOS DUAS VEZES. APESAR DO SEU OLHAR TERNURENTO, NO MÍNIMO, A PEDIREM UMA PALAVRA DE APREÇO, NO MÁXIMO UMA MOEDA. 
GOSTO DO CARLITOS, PRONTO!
QUANDO ME VÊ, VEM LOGO COM O HABITUAL PEDIDO: TIRAS-ME UMA FOTO? AO SATISFAZER-LHE A VONTADE PRESSINTO O SEU CONTENTAMENTO. POR UM LADO, ELE SENTE A IMPORTÂNCIA DE, NEM QUE SEJA POR ESCASSOS SEGUNDOS, DE SER UMA PESSOA NOTADA, POR OUTRO, ATRAVÉS DO ACTO DE O FOTOGRAFAR, ELE RECEBE ESSA ATENÇÃO COMO PROVA DE RECONHECIMENTO DA SUA HUMANIDADE ENQUANTO PESSOA. 
AFINAL NÃO ANDAMOS TODOS À PROCURA DE RECONHECIMENTO? O CARLITOS, POR TER UMA LEVE DEFICIÊNCIA, TERIA DE SER PARTICULARMENTE DIFERENTE? CLARO QUE NÃO. 
TODA A GENTE PRECISA DE ATENÇÃO. NEM QUE SEJA UM SORRISO. PENSE NISTO...

1 comentário:

carlos freitas disse...

Relembro o Carlitos de uma forma sui-generis. No tempo em que a baixa era o polo nevrálgico e central da minha cidade de adopção, nos finais de tarde, na Adelino Veiga se via passar uma enorme montanha de desperdicíos de toda a qualidade de papel(caixas de sapatos, etc.)com duas pernas por baixo, tentando passar entre a mole imensa de pessoas. É que não se via mais nada. Duas pernas por debaixo de uma altura medonha de papel num equilibrio permanentemente percário As pernas pertenciam ao Carlitos. Por baixo daquela emorme montanha de papel e cartão ia o Carlitos. Era ele que dava vida aquela montanha de papel e que a levava sei lá para onde. Tirando a sua proeminente presença na cabeça da procissão da Rainha Santa, o Carlitos é uma dessas figuras, no seu caso é já uma lenda,(recordo outras, conheci algumas outras, quando nos anos setenta cheguei a Coimbra) de outros tempos de um Baixa onde viviam pessoas e gentes. Quando a Baixa, para além de zona por exelência de passagem e de comércio, era habitada pelos conimbricenses.