quinta-feira, 8 de outubro de 2009
UMA FLOR NO MEIO DOS CACTOS
Eu fora convidado para o mega-jantar de apoio a Carlos Encarnação, ontem, quarta-feira, no pavilhão da ACIC, por uma pessoa que eu gosto muito e apoio completamente para presidente da Junta de Freguesia de Assafarge –onde resido- que é a Gabriela Patrício. Esta minha amiga concorre àquela autarquia pela coligação “Por Coimbra”.
Então, ontem cerca das 20H00, lá me encaminhei para dentro do pavilhão. Nas proximidades deste espaço, pela profusão de “Volvo’s” e “BMW’s” e outras marcas abaixo, praticamente com todos os recantos ocupados, tudo indicava que o repasto prometia.
As senhoras, com vestidos de cerimónia, longos e generosos colos, bem cheirosas com perfumes caros, sempre acompanhados com sapatos e carteira a condizer na toilette, pareciam ir de facto para um baile de gala.
Dentro do salão, tudo muito profissional. Desde as mesas redondas com uma pequena rosa amarela, um baralho de cartas com a cara do candidato Carlos Encarnação e no verso, em foto, várias obras pretensamente realizadas no seu mandato. Junto às cadeira, e em todas, uma bandeira da coligação por Coimbra.
Cerca das 21 horas, e já depois de estar tudo sentado nas várias centenas de mesas, deu-se o início ao arraial, como quem diz, ao espectáculo promovido pelo Eusébio, o simpático apresentador, “entertainer” de serviço, desde há já muitos anos, do Partido Social Democrata.
Para quem conhece, Eusébio é um verdadeiro mestre de cerimónias –na minha opinião, um pouco a raiar o vulgar-, com as suas frases arrastadas, a parecer o nosso Fernando Correia, naqueles gritos: “GOOOOOOLLLLLO”. E foi assim, durante as cerca de duas horas e meia, as apresentações do Eusébio: “e agora o grande presidente de junta que é…Francisco…Andraaaaaddeeeee”.
Cerca das 21H30 chegaram os pais de Carlos Encarnação. Com a sua entrada começou o “clímax” encomiástico ao candidato.
Nos elogios começaram André Sardet, cantor, depois Pedro Olaio e Mário Silva, ambos pintores, este a oferecer uma Coimbra pintada em tela.
Na mesa ao meu lado, eu ia ouvindo as aventuras políticas de uma ferrenha do PSD a contar as peripécias desta campanha: “eu andava a distribuir canetas, vimos um grupo de escuteiros e começámos a dar uma a cada um. Para minha surpresa, três não quiseram. Estranho, não acham? Eu também achei. Vai daí, perguntei: digam-me lá meninos, porque não aceitam as canetas? Somos do Bloco de Esquerda, responderam os putos. Ai são? E depois? Eu sou do PSD, e qual é o problema? Já viram estes pimpolhos? O Bloco de Esquerda é danado. Instruem-nos em casa. Já viram isto?”. Interrogava em desafio a apoiante incondicional de Encarnação.
Eusébio lá foi fazendo as apresentações de todos os presidentes de junta pela coligação, com alguns a merecer um maior arrastamento do apelido. Certamente aqueles que se prevêem em maior ascensão no firmamento laranja.
De vez em quando Eusébio lá se saía com umas tiradas giras, do tipo: “o Carlos Encarnação comove-se muito. Nos últimos dias tem chorado. Chorado muito, no ombro da Filomena”. Outra, que deu vontade de rir –pelo menos a mim- foi quando pediu uma salva de palmas para a imprensa escrita e falada. “Esta imprensa foi extraordinária na cobertura da nossa campanha”. E o Bloco de Esquerda, e o PCP? Pergunto eu, que não percebo nada disto.
Proeminentes laranjinhas foram sendo chamados. Começou com João Gabriel, professor universitário, a proferir uma oração de sapiência sobre a “co-incineração” em Souselas. Falou tanto, tanto, que estava a ver que os meus compartes na mesa, em revolta, ainda se passavam para o partido comunista.
Mentalmente interroguei-me onde estaria Castanheira Barros. Pelos vistos, aqui em Coimbra, o PSD considera-o outro Passos Coelho.
Depois falou o mandatário Manuel Antunes: “eu não sabia que estava no cartaz –apontado para o enorme painel- “Por Coimbra com amor”. Mentalmente fiz a analogia entre amor e coração. Estava explicada a escolha do mandatário.
Continuava Manuel Antunes: “vamos ter saudades de Carlos Encarnação. E vamos ter também saudades das pessoas que trabalharam com ele”. Mentalmente, pelos verbos conjugados no passado, pensei se estaríamos perante uma oração póstuma do grande “técnico” do coração.
Sempre que era preciso bater palmas, como bonecos mecânicos, todos se levantavam a agitar bandeiras. Na minha mente interrogava se muitos deles, aparentemente tão frenéticos, não estariam a li preocupados com o “juízo final” de Domingo e com medo de perderem os empregos.
Depois falou João Rebelo-“o grande amigo que conto para outras tarefas", como diria Encarnação. O engenheiro abusou do discurso encomiástico. Para além de quando acabou o discurso já ter a comida fria, ao meu lado, uma senhora, um pouco adiposa, transpirava por todos os poros. Pensava cá com os meus botões se seria do discurso de Rebelo se de facto do intenso calor que se sentia dentro do pavilhão.
Neste espectáculo bem organizado houve de tudo. Até papelinhos projectados, daqueles que habitualmente se jogam em noites de vencedor.
A melhor de todas do Eusébio foi quando, ao microfone, anunciou que estavam no pavilhão…3017 pessoas. Ao meu lado, a tal senhora gorda, interrogou: “será que ele está bêbado e já vê em dobro? É que aqui, neste espaço nem metade cá cabe!”.
Outra boa “tirada” de Eusébio: “nós tivemos de recusar centenas de pessoas”. O raio da velha gorda, que estava ao meu lado, que não perdia uma, logo atirou: “pois pudera, sendo este jantar oferecido, quem não viria? Até os comunistas estariam presentes. Deviam ter sido milhares a pedirem para virem jantar. Com esta crise. Isto é um bodo aos pobres”, exclamou a minha colega de mesa.
Carlos Encarnação encerrou o jantar com um discurso de agradecimento aos seus mais directos colaboradores: Marcelo Nuno, Luís Providência, Mário Nunes e João Rebelo. Palmas, palmas e mais palmas.
A minha ovação foi inteirinha para a Gabriela Patrício. Gosto dela. Acho que dará uma boa presidente de junta da minha freguesia. Ali, naquele grande deserto de ideias, a minha amiga pareceu-me uma flor no meio dos cactos. Felicidades Gabriela.
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2 comentários:
Querido amigo Luis Fernandes
Estou muito agradecida pelo que escreve e pela grande estima, amizade e apoio que me tem manifestado.
De facto, depois de me ter lido ao telefone o poema "Gabriela "Simplesmente"", senti-me imensamensamente agradecida, pelo que, foi com muito gosto que o convidei para jantar, sendo este minha oferta.
Por isso, foi um grande jantar, apesar de pago.
Um grande e forte abraço
Gabriela Patrício
Prezado Luís Fernandes :
Obrigado por se ter lembrado de mim no jantar da candidatura da coligação Por Coimbra a propósito da co-incineração de resíduos perigosos .
Nesse dia estava na Suiça e como não tenho o dom da omnipresença estive mesmo ausente .
Enviei contudo mensagem, que lamento não tenha sido lida, a explicar a minha ausência, para que ficasse bem claro o meu apoio ao candidato do meu Partido pese embora as relações de amizade que tenho com o Dr. Pina Prata .
É aliás a 4ª vez que apoio Carlos Encarnação, a 1ª das quais foi em 1982 contra Mendes Silva, com quem perdemos bem . Isso estava também explicado na mensagem, mas como de facto em Coimbra sou um militante incómodo para a nomenclatura ( não uma espécie de Passos Coelho, pois não defendo o liberalismo, mas sim a social-democracia ) a mensagem ficou na gaveta .
Não importa... há mais marés do que marinheiros e se um dia for candidato à Camara de Coimbra pelo PSD não me esquecerei de o convidar para o jantar , mas não à borla como fez ( e está no seu pleno direito ) a nossa candidata Gabriela Patrício, pois aquilo que recebemos como fruto do nosso esforço ( e não de dádivas )tem mais e melhor sabor .
Concorda ?
Receba um cordial abraço do : Castanheira Barros
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