quarta-feira, 28 de outubro de 2009

FIM DO DIA

(FOTO DE LEONARDO BRAGA PINHEIRO)



São 19 horas. É noite cerrada.
Eleutéria fecha a loja, a pensar,
“bolas, mais um dia para nada,
de que modo me hei-de arranjar?,
o tempo, está calor, não agrada,
parece que ninguém quer comprar,
estou velha, vou de abalada,
estou cansada de tanto lutar,
como vou pagar a factura atrasada?”;
É uma guerra, a desta comerciante,
como outros, a verem o calendário,
sempre com a esperança não distante,
mais um dia que passa, como fadário,
e o horizonte a fugir como mutante,
é patroa, mas pensa como operário,
tem contas para pagar a montante,
escreve a fornecedores como notário,
para adiar pagamentos a jusante;
Porque está isto a acontecer?
perguntam-se todos sem resposta,
parece que tudo está a morrer,
o cansaço triste deu à costa,
as montras estão a fenecer,
é um dia, dias, ninguém aposta,
quando um qualquer vai desaparecer,
estranha vida esta, quem gosta?
Quem adivinhava? Quem havia de dizer?
Que porcaria de resto de vida. Uma bosta!


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