segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

REGRESSOU A ÉDITH PIAF DA CALÇADA

(ESTA É A IMAGEM DA DIVA PARISIENSE)


(AQUI A PATRÍCIA, HOJE, EM PLENA PERFORMANCE, NA BAIXA)

Já aqui falei da Patrícia. Esta instrumentista de concertina, de raro talento, que por amor à música, abandonou o curso de Psicologia, costuma presentear os nossos ouvidos com acordes celestiais, como se viessem de um mundo de paz, feito à medida de todos nós, onde as pessoas se encaram como iguais, sem ter em conta a cor, o credo ou a ideologia. Onde não há inveja, maldade, onde não importa o estatuto e o lugar que ocupam na sociedade, o que conta é o valor pessoa. Ali, nas Ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz, a música tocada pelos seus exímios dedos, saída, como milagre, do pequeno instrumento de fole, faz a ponte entre o mundo que temos e vivemos e o idealizado no sonho de um dia termos um mundo melhor. E a música é, sem dúvida, a língua mais “falada” do planeta.
A Patrícia, como andorinha que hiberna, esteve um tempo ausente do nosso convívio. Tenho a certeza que os transeuntes diários daquelas artérias sentiram a sua falta. Esta doce rapariga é já um ícone da Baixa.
“Felizmente tive muito trabalho na música e não pude vir durante estes quase dois meses. Gosto muito de tocar na rua. As pessoas são muito generosas e olham para mim como uma artista e não como alguém que anda “por aqui”. É muito gratificante sentir que sou desejada”, referiu-me a minha baptizada como “Édith Piaf da Calçada”, pelas extremas semelhanças com a cantora parisiense e reconhecida internacionalmente pelo seu talento.
Quando passar pela Patrícia, pare um pouco e deixe-se envolver pelos sons melódicos e de paz interior que ela transmite. Se lhe for possível ajude com o que puder, uma nota ou moeda. Não esqueça que ao dar está a contribuir para que esta (ou outros) artista continue a encantar as nossas ruas. Não confunda esta ajuda com o óbolo que dá a um mendigo. Embora este gesto, em legítima liberdade de cada um, possa ser questionável, porque, muitas vezes, podemos estar a contribuir para o seu aumento, nada tem nada a ver com o que se dá a um músico ou outro qualquer artista que encontramos numa rua qualquer da nossa cidade. Estes artistas, marginais no sentido de não alinhados no sistema tradicional, com o seu trabalho público –pouco reconhecido, diga-se a propósito-, permitem a democratização das artes, no acesso facilitado a um público heterogéneo. Se assim não fosse, num país em que as artes são um filho bastardo, muitas pessoas nunca tomariam contacto directo com uma miscelânea artística, dividida entre o erudito e o popular. Como se pensa, infelizmente, que tudo o que é grátis não presta, é neste aforismo falacioso que, porque se mostram na rua, logo serão renegados pelo meio artístico, e não têm valor. Nada de mais enganoso. Há muitos artistas que tocam na rua pelo gosto. Pelo contacto pessoal das pessoas. A Patrícia é uma delas.

2 comentários:

Anónimo disse...

Já algum tempo não passava nas Ruas Visconde da Luz e Ferreira Borges, e nesta segunda feira tive a oportunidade de o fazer e o som da acordeonista chamou-me a atenção, fiquei encantada foi a primeira vêz que a ouvir. Agora passando por aqui de gostei ler o texto e vou fazer os possíveis para voltar ao local e ouvir a Patrícia com mais atenção.
Obrigada por nos chamar a atenção pelo que vai acontecendo pela baixa da da nossa cidade.

LUIS FERNANDES disse...

Não tem de agradecer. Eu que fico grato pela sua gentileza em ler os meus arrazoados textos.
Volte sempre. É um gosto assistir à sua passagem, ainda mais com um "recado" tão interessante.
Um abraço.