terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

MAIS UMA LOJA QUE SE APAGA




Tinha 25 anos de existência, estava na pujança da vida, como sói dizer-se. Um cancro fatal, uma espécie de peste pneumónica dos anos de 1920 que, sem dó nem piedade, arrasa tudo o que mexe e, ao que parece, segundo os entendidos não se sabe como combater esta maleita destrutiva, decretou a morte da CoimbraMáquinas, Lª, que durante anos e anos esteve implantada na Rua Simões de Castro.
Chegou a ter 14 empregados e actualmente tinha cinco. Há dias encerrou.
Para os menos desligados destas coisas, pensa-se, é mais um que desaparece e outro para o seu lugar virá. O problema é que o seu substituto pode não desempenhar as funções daquela casa de máquinas. Para além de vender máquinas industriais, para jardim e tudo o que poderia fazer a delícia de qualquer amador habilidoso, tinha uma qualidade que tornava esta casa importante: reparava todo o tipo de máquinas electro-mecânicas.
Só iremos sentir a sua falta quando o nosso corta-relva avariar. Nessa altura, você verá a dificuldade em encontrar alguém que faça a sua reparação. Nessa altura sentirá a falta da CoimbraMáquinas e outras casas do género que, aos poucos, têm desaparecido. Vivemos no tempo do usar e deitar fora. Lavoisier perdeu a razão do seu princípio, quando defendia que nada desaparece tudo se transforma. Nesta regra do grande mestre havia um princípio utilitário imanente. Tudo se transformava em algo proactivo, mesmo a própria sedimentação que se diluía na natureza. Hoje, basta olhar em redor, neste obsessivo “usar e deitar fora”, o princípio utilitário desaparece e dá origem a toneladas de lixo ambiental que conspurca o meio ambiente em que estamos inseridos.
Quando interrogo um dos empregados a razão desta morte anunciada agora, responde: “que se há-de fazer? As grandes superfícies rebentaram com este tipo de loja. Hoje compra-se muito barato, vindo o artigo da China. Amanhã avaria, compra-se outro e põe-se o anterior fora. Além disso, como é que podemos competir com eles? Eles têm estacionamento à borla, aqui não. Repare, olhe ali –apontou o dedo para uma agente da PSP que estava meia recolhida, como se estivesse à espera de alguém que pisasse o risco- isto é todos os dias. Ninguém pode parar um minuto que seja para descarregar uma máquina. Se o fizer tem logo a polícia em cima. Por incrível que pareça, a polícia é o maior contribuinte para o encerramento da nossa casa. E, comparando com outras que não têm lugares de estacionamento, este caso é caricato, nós temos aqui (como vê) muitos lugares para parar. O problema é a caça à multa. Não há nada a fazer com este tipo de comportamento. Morre o elo mais fraco”.
Quando lhe pergunto como encarou a situação, responde: “o patrão mandou fazer o balanço, teve uma reunião com todos os cinco empregados e, com sinceridade, expôs a situação. Nós entendemos. Quem é que não entendia? Nós temos olhos na cara. Víamos o que estava a acontecer dia-após-dia. Estamos todos no desemprego…que remédio?!”

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