(ESTA É A IMAGEM DA DIVA PARISIENSE)
(AQUI A PATRÍCIA, HOJE, EM PLENA PERFORMANCE, NA BAIXA)
Já aqui falei da Patrícia. Esta instrumentista de concertina, de raro talento, que por amor à música, abandonou o curso de Psicologia, costuma presentear os nossos ouvidos com acordes celestiais, como se viessem de um mundo de paz, feito à medida de todos nós, onde as pessoas se encaram como iguais, sem ter em conta a cor, o credo ou a ideologia. Onde não há inveja, maldade, onde não importa o estatuto e o lugar que ocupam na sociedade, o que conta é o valor pessoa. Ali, nas Ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz, a música tocada pelos seus exímios dedos, saída, como milagre, do pequeno instrumento de fole, faz a ponte entre o mundo que temos e vivemos e o idealizado no sonho de um dia termos um mundo melhor. E a música é, sem dúvida, a língua mais “falada” do planeta.
A Patrícia, como andorinha que hiberna, esteve um tempo ausente do nosso convívio. Tenho a certeza que os transeuntes diários daquelas artérias sentiram a sua falta. Esta doce rapariga é já um ícone da Baixa.
“Felizmente tive muito trabalho na música e não pude vir durante estes quase dois meses. Gosto muito de tocar na rua. As pessoas são muito generosas e olham para mim como uma artista e não como alguém que anda “por aqui”. É muito gratificante sentir que sou desejada”, referiu-me a minha baptizada como “Édith Piaf da Calçada”, pelas extremas semelhanças com a cantora parisiense e reconhecida internacionalmente pelo seu talento.
Quando passar pela Patrícia, pare um pouco e deixe-se envolver pelos sons melódicos e de paz interior que ela transmite. Se lhe for possível ajude com o que puder, uma nota ou moeda. Não esqueça que ao dar está a contribuir para que esta (ou outros) artista continue a encantar as nossas ruas. Não confunda esta ajuda com o óbolo que dá a um mendigo. Embora este gesto, em legítima liberdade de cada um, possa ser questionável, porque, muitas vezes, podemos estar a contribuir para o seu aumento, nada tem nada a ver com o que se dá a um músico ou outro qualquer artista que encontramos numa rua qualquer da nossa cidade. Estes artistas, marginais no sentido de não alinhados no sistema tradicional, com o seu trabalho público –pouco reconhecido, diga-se a propósito-, permitem a democratização das artes, no acesso facilitado a um público heterogéneo. Se assim não fosse, num país em que as artes são um filho bastardo, muitas pessoas nunca tomariam contacto directo com uma miscelânea artística, dividida entre o erudito e o popular. Como se pensa, infelizmente, que tudo o que é grátis não presta, é neste aforismo falacioso que, porque se mostram na rua, logo serão renegados pelo meio artístico, e não têm valor. Nada de mais enganoso. Há muitos artistas que tocam na rua pelo gosto. Pelo contacto pessoal das pessoas. A Patrícia é uma delas.
2 comentários:
Já algum tempo não passava nas Ruas Visconde da Luz e Ferreira Borges, e nesta segunda feira tive a oportunidade de o fazer e o som da acordeonista chamou-me a atenção, fiquei encantada foi a primeira vêz que a ouvir. Agora passando por aqui de gostei ler o texto e vou fazer os possíveis para voltar ao local e ouvir a Patrícia com mais atenção.
Obrigada por nos chamar a atenção pelo que vai acontecendo pela baixa da da nossa cidade.
Não tem de agradecer. Eu que fico grato pela sua gentileza em ler os meus arrazoados textos.
Volte sempre. É um gosto assistir à sua passagem, ainda mais com um "recado" tão interessante.
Um abraço.
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