(No andar superior comemos na companhia de Augusto Hilário da Costa Alves -O grande precursor da canção de Coimbra, "Hilário", simplesmente como ficou conhecido, embora também se diga que se chamava Lázaro Augusto, andou por Coimbra por volta de 1890, onde frequentou o curso de medicina, vindo a morrer antes de o terminar)
Agora que a Câmara Municipal acordou para o valor patrimonial e turístico das populares casas de “copo e bucha”, criando a “Rota das Tabernas”, dando, finalmente, ouvidos a um historiador e grande amante do património gastronómico e cultural, Paulino Mota Tavares, há uma casa, na Baixa, que é conhecida no mundo inteiro: O “Zé Manel dos ossos”.
Situada no Beco do Forno, por detrás do Hotel Astória e paralelo ao Banco de Portugal, este estabelecimento com mais de cinco décadas se falasse teria milhentas histórias para contar. Mas o interessante é que o seu fundador, o Zé Manel, atento às limitações naturais desta casa de cultura, de uma forma “sui generis”, tratou de que o registo de quem lá passou ficasse marcado em centenas e centenas de mensagens em papel de toalha coladas nas paredes do andar superior. Têm várias camadas sobrepostas, entre poesia e prosa, ou simplesmente pela simples “laracha”, umas em cima das outras.
Há dias estive lá a jantar –a comida é uma maravilha, diga-se a propósito. Enquanto esperava pelo repasto li frases com décadas. O empregado de mesa, sempre solícito e bem disposto, às minhas observações, juntava umas pitadas de humor. Ainda lhe perguntei se nunca tinham pensado em transferir todo aquele arrazoado de expressões escritas para um livro. Seria muito interessante e, quanto a mim, viria enriquecer ainda mais aquele “museu” pantagruélico. Não me deu grande saída. Lá foi dizendo que “o senhor “Zé Manel”, pela idade, já não está à frente da casa. Além disso, as camadas sobrepostas, umas sobre as outras, são tantas que ao retirar as de cima destruiria as do fundo”. Tem lógica, mas, mesmo assim, lá lhe fui dizendo que valeria a pena tentar. Estou certo que depois de eu sair, o simpático empregado, nunca mais pensou no assunto.
Se o leitor passou por aqui, por Coimbra, e quiser matar saudades da boa comida do “Zé Manel”, faça uma visita a esta casa. Acredite que não ficará a perder. Para além do seu “ex libris”, os deliciosos ossos, tem também um delicioso bacalhau. Venha cá, à Baixa, a esta casa e verá que não o enganei.
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