quarta-feira, 1 de junho de 2011

UMA HISTÓRIA DRAMÁTICA NA NOSSA RUA





  Conheci a Sónia Margarida pela primeira vez no início da década de 1980. Era ela então uma criança. Teve a pouca sorte de nascer no meio de uma família disfuncional. Escrever “disfuncional” é ser politicamente correcto, mas não me apetece, nem devo, escrever mais.
Esta rapariga, com a ajuda da mãe –que é uma espécie de barca à vela que, durante a vida, várias vezes atravessou o cabo das tormentas e é uma heroína-, com imensas dificuldades tem conseguido levar uma vida digna e merece a minha mais profunda admiração.
Costumo encontrá-la a meio da Rua Visconde da Luz. Tem uma pequena banca onde vende pistáchios, tremoços, amendoins, pinhoadas e chupa-chupas. Para além de sempre a cumprimentar, de vez em quando compro-lhe uma pinhoada.
Hoje deu-me para ir mais longe.
-Olá Sónia. Como é que estás?
-Viva senhor Luís. Vou andando, conforme Deus quer.
-Tens vendido?
-Pouco, senhor Luís. Faço por dia dois…três euros… nunca mais do que isto.
-Mas estás a receber o Rendimento Social de Inserção?
-Não, não estou. Cortaram-me.
-E o teu companheiro?
-Está receber 250 euros de subsídio de desemprego.
-Tens um filho, não é?
-Não, tenho um  casal de 6 e 9 anos.
-E onde é que estás a morar?
-Ali para os lados da Pedrulha.
-Numa casa?
-Sim numa casinha humilde.
-E quanto pagas de renda?
-200 euros, senhor Luís…
-Então como é que consegues comer?
- (Encolheu os ombros… e os olhos tristes, ficaram mais tristes) … com um “pontapé” da minha mãe… mais outro “pontapé” da minha avó… olhe… (encolheu novamente os ombros, engelhou o nariz, e nem sei bem se uma lágrima lhe começou a balançar nos olhos).
Será preciso escrever mais alguma coisa? Será necessário plasmar aqui que esta família precisa de ajuda? Que diabo…ela não está a estender a mão á caridade, está a tentar trabalhar. Uma pinhoada custa 50 cêntimos. Imagine que apenas vinte leitores daqui de Coimbra, e que passam ali todos os dias, cada um lhe comprava uma pinhoada?

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