Há muitos meses que anda por aqui um angariador a tentar contratualizar tudo o que é casa vazia ou quarto vago para arrendar a estudantes. As normas do acordo assentam sobretudo em contratos de locação –tendo por objecto o arrendamento para fins comerciais de camas- e sublocação –subarrendar quartos a um terceiro. Isto é, qualquer pessoa que tenha um prédio arrendado e tenha um ou mais quartos vagos cede-os a título oneroso para serem ocupados por terceiras pessoas.
Sei do que escrevo porque este senhor já falou comigo pessoalmente. Sei também os valores que estão a ser oferecidos por cama.
Começo por ressalvar que estou a escrever de boa-fé. Isto é, não me move a mínima desconfiança em relação ao operador deste projecto. Aliás, conheço-o mal para levantar qualquer ponta de suspeição.
Porém, como comerciante e residente na Baixa, que quer o melhor para esta zona, como cidadão atento, tenho obrigação de alertar para alguns deveres que é necessário cumprir. Ou seja, sei que a autarquia tem conhecimento deste negócio particular em perspectiva. Sei também que está a abraçar de coração aberto esta possibilidade de poder reabitar o centro histórico com estudantes universitários. Ora, em face deste “envolvimento” tácito a Câmara Municipal de Coimbra tem obrigação de usar de uma certa ponderação no sentido de avaliar o impacto e se, de facto, será mesmo isto que se quer para a Baixa. E, com sinceridade, não pretendo com este meu escrito dar opinião positiva ou negativa.
Mais ainda, é preciso saber se os riscos que alguns proprietários e arrendatários –respectivamente em contratos de locação e sublocação- estão a correr –isto é, se de facto estarão esclarecidos-, e se estarão, de facto, a serem avaliados, por estes, com cabeça, tronco e membros.
Tenho de confessar que estou a escrever com “mãos de lã”. Entendo que poderemos estar em face de um bom projecto de repovoamento de toda esta zona velha e, ao pedir para se pensar, não me cabe estar a colocar areias na engrenagem. Que fique muito claro, não me movem segundas intenções. Se este projecto, tal como outros em estudo, é bom para o desenvolvimento de toda esta zona comercial que venha. O que estou a tentar transmitir é que, nesta altura, considerando estarmos no grau zero, tudo o que se fizer deve ser feito com muito planeamento. É preciso saber o que queremos fazer da Baixa, e, quanto a mim, a autarquia de Coimbra, enquanto poder decisório e que a todos representa terá de colocar este tema à discussão. Nada deve ser feito sob o segredo dos deuses.
Só para tentar aliviar um pouco, deixo a pergunta: o centro histórico precisa de casais a morar dia e noite aqui ou estudantes a residirem de segunda a sexta-feira?
O que me levou a escrever sobre este assunto foi saber que, inserido neste mesmo “pacote” de repovoamento da Baixa, se pretende criar uma cantina para estudantes aqui mesmo no coração das ruas estreitas. E sei que ainda há dias se tentou um ajuste com um grande espaço ali para os lados da Rua Adelino Veiga. E este facto ainda me deixou mais preocupado.
Não preciso de dizer que não risco nada, ninguém me conhece, não tenho qualquer influência, mas ainda há pouco tempo, a convite de um responsável camarário, acerca desta intenção, tive ocasião de lhe transmitir que, na minha subjectividade, a vinda de uma cantina estudantil nesta zona seria a provável destruição de quase toda a hotelaria, que já se encontra agonizante.
Já há muito que discordo que as cantinas universitárias sejam subsidiadas pelo Estado. Acredito que não será unânime a minha posição, mas não posso concordar que à custa do nosso dinheiro de impostos se pratiquem preços impossíveis de competir. Falo de uma refeição por menos de 3 euros. Argumentem lá o que quiserem, que as cantinas serão mesmo apenas e só para estudantes. Não está certo. Ponto e parágrafo. No limite até admito que estes preços fossem destinados a estudantes carenciados –a exemplo da Cozinha Económica-, mas jamais para todos. É um atentado ao direito de igualdade.
A bem do futuro, na minha forma de ver, a Baixa precisa de uma hotelaria forte, que ganhe dinheiro, para se desenvolver. Para que num tempo próximo se veja, porta sim, porta não, uma casa de fado de Coimbra, tascas portuguesas, cafés com arte, e outros grandes projectos que irão surgir com toda a sua pujança e identidade. O futuro terá de passar pela iniciativa privada, com ajudas do Estado, sim, mas sem perder de vista o colectivo e o interesse de todos os empresários. E jamais o de um grupo, classe, ou outra coisa qualquer.
Ora, no meu sentir, que não sou hoteleiro, esta ideia de implantar uma cantina associativa, para além de ser um atentado à livre concorrência, é um prego que se está a colocar na roda do desenvolvimento desta parte histórica. Será condenar à morte financeira os pequenos industriais de hotelaria que cá trabalham todos os dias e, desenfreadamente, lutam para trazer a cabeça erguida. Conheço demasiados casos para os enumerar aqui. Sei também de alguns que em processos de insolvência espalharam ao vento as cinzas dos seus sonhos.
É preciso muito cuidado com o que se pretende fazer pelo futuro da Baixa.
2 comentários:
Eu entendo as preocupações do amigo Luís, concordo com algumas das suas interrogações, mas sou defensor que se deve trazer os estudantes universitários para a baixa e fixa-los através de Residências Universitárias, com o compromisso de só lhes ser alugado o respectivo quarto após o recenseamento na Freguesia local, em contrapartida seria-lhes oferecido um protocolo de descontos no comercio local, muitos deles ficam por Coimbra meia dúzia de anos.
Em relação às cantinas universitárias, eu defendo que os alunos bolseiros e os que não são devido ao novo estatuto de bolseiro, mas que comprovem os baixos rendimentos familiares, devem ter um escalão para as refeições diferentes dos restantes estudantes.
Em relação a ser instalada uma Cantina Universitária na baixa, não vejo que venha a prejudicar em nada os restantes restaurantes, os alunos universitários não fazem qualquer refeição nos restaurantes da baixa, nem frequentam a baixa para tomar café, penso que os restaurantes e cafés até têm a ganhar com a vinda dos estudantes e a abertura do dito refeitório. Mas é preciso disciplinar e regular o acesso ao refeitório, ser de uso exclusivo para os estudantes universitários e as sobras do almoço e jantar serem canalizadas para Instituições de Solidariedade Social.
Eu suspendi a minha vida académica à menos de um ano, algumas vezes ia jantar às Cantinas Amarelas quanto tinha de realizar trabalhos de grupo, e verifiquei imensa vezes que os estudantes mal acabam de jantar se dirigem para os cafés e esplanadas que circundam a Praça da Republica, outros a comeram nas casas de hamburguês e pizzas.
Em suma, a vinda de uma Residência Universitária e de uma Cantina para a baixa seria um bom impulsionador a nível humano, económico e um mercado que poderia potenciar a vinda de outros estabelecimentos para a nossa baixa que está completamente num marasmo e à beira do abismo.
POIS É AFINAL SEMPRE HAVIA "FOGO", NÃO ERA SÓ "FUMO"....
AGORA SÓ FALTA + UMA CANTINA UNIVERSITÁRIA NA BAIXA ....
E HAVIA COMERCIANTES DA BAIXA A NEGAR E A "CANTAR" PARA O LADO...
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