Seriam 14 horas deste sábado. Aqui na Baixa da cidade o movimento de transeuntes era igual a tantos outros dias do mesmo calendário. A maioria das lojas comerciais estava encerrada. Nas ruas estreitas poucas pessoas calcorreavam o asfalto empedrado.
Junto ao Arco de Almedina uma carroça sem burro –curiosamente o “moço” perguntava a toda a gente se tinha visto o seu jumento, alguém lho roubara, argumentava para quem transitava- chamava a atenção de que alguma coisa se passaria para dentro de portas muralhadas. Quem não soubesse estou convencido de que ficaria na mesma.
Transponho o vetusto arco e as portas de Coimbra e entro no átrio das escadas de Quebra Costas. Neste adro, reparo, e antes de me atirar aos degraus, há muita gente a circular e a contrastar completamente com as ruas da calçada e a menos de cinquenta metros. Começo a subir e chego ao Largo da Sé Velha. Ali, então mal se podia romper com tantas pessoas. Centenas, talvez milhares de visitantes olhavam, compravam, provavam as iguarias expostas.
Como já tinha almoçado, tirei umas quantas fotografias e, de repente, dei de caras com uma cigana meia espanholada. E se ela me lesse a sina? Que me diria ela? Sei lá, estas coisas mexem connosco. Naturalmente que eu não serei muito diferente dos demais. Não acredito, não acredito, mas a interrogação está cá. "E se eu, a troco de um euro, lhe desse a minha mão?", pensei para comigo. E dei mesmo. Vamos lá ver o que me vai dizer a “vidente”.
“Eu sei que tu, há muito tempo, tentas chegar, com as tuas mensagens, à Câmara Municipal, e mais propriamente à vereadora da cultura, Maria José Azevedo. Ficas a saber que ela acabará por te escutar -atirou-me logo de supetão e com o dedo indicador em riste.
Essa ideia que trazes no pensamento, de na data de hoje, dia de Feira Medieval, este largo da Sé Velha ser ligado com uma outra feira de Artes e ofícios Tradicionais em toda a Baixa faz muito sentido. Tens toda a razão. Ao fazer esta nova feira para o ano, durante três dias, sexta, sábado e domingo –tal como este ano-, será uma forma de ligar a Baixa à Alta e, nestes três dias, Coimbra ficar em festa. Bem sei que costumas dizer que basta apenas copiar o que se faz em Oliveira de Azeméis. É isso mesmo. Tens razão. Esta Feira Medieval, que ao longo de vinte anos tem sido um sucesso, precisa de dar o salto, crescer e fazer a ligação à parte sem muralhas, à Baixa. Ora nada melhor do que ligá-la com uma outra feira de artesãos e à antiga. Tal como tu defendes, durante três dias, terá de envolver toda a baixinha, nas suas ruas, ruelas, praças, pracetas e largos. Ficas a saber que vai ser desta que a “Mizé” te vai ouvir. Tenho a certeza de que para o próximo ano vai ser feito assim. É um óptimo projecto, esse que defendes. Não colide com a feira Medieval, defendendo a sua idiossincrasia, apenas a projecta para o futuro e envolvendo toda a Baixa comercial. Porque será que não te dão ouvidos? Ai, mas desta vez, vais ver, vão mesmo escutar-te e para o ano verás que Coimbra vai oferecer conjuntamente com a Feira Medieval uma feira de artes e ofícios tradicionais”.
Até fiquei aparvalhado. Como é que a cigana adivinhou o que me vai no pensamento? Será vidente? Às tantas…!
1 comentário:
Que se faça segundo a sua vontade... e o dizer da vidente, que realmente era algo digno de se ver e não implicava "quebrar costas! ;-)
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