Deveriam ser para aí umas 14 horas. Estava eu refastelado na esplanada do café Santa Cruz a “morder o esquema”, como quem diz, a contar o manancial de gajas boas que descem e sobem a ladeira em frente ao vetusto café, quando o meu campo de observação foi totalmente interceptado pelo Adelino Paixão –é o emissário substituto de missões em recado do director do blogue. Quando o vi dirigir-se a mim, pensei logo nas palavras que ele iria proferir: “senhor doutor, dê-me aí uma moeda para comer uma sandes”.
Ora eu que nunca fui doutor, nem sequer da mula ruça, ao ouvir um tratamento destes, até gosto e puxo logo de um euro. Bem sei que não devia, mas que quer? Para o caso de não saber pertenço a uma classe de humanos que detêm mais alçapões na alma que o coliseu Romano. E é claro este tratamento VIP eleva-me a auto-estima. Já que ninguém me liga patavina, e, porque ninguém dá por mim, devo ser mais transparente que um vidro, se tiver um tratamento especial, mesmo vindo de um deficiente que trata todos os burros por igual, isto cai bem. Não sei se me entendem… se calhar não!
Bom, e então estava eu nestas conjecturas quando o Adelino se sai com uma finta em sentido contrário e quase metia golo na minha intuição: “senhor doutor, vá lá falar com o badameco do seu chefe que ele tem muita pressa de falar consigo!”
E lá fui eu para a nossa sede, que é ali numa rua estreita, onde, pelo frio constante é sempre inverno, já que o Sol, que também faz opções, costuma escolher as ruas largas e boas para se pôr. Discriminação, está de ver, mas vou reclamar a quem? Pois é, este é o problema. Arranjam livro de reclamações para tudo, mas nestas coisas da natureza uma pessoa tem de aguentar. E lá cheguei então à sede do Questões Nacionais. Coloquei a minha máscara de aborrecimento, a mais enfadonha possível, que é para o Luís Fernandes, o director, ver que não está certo fazer de mim uma espécie de sapateiro remendeiro. Há quanto tempo não lêem uma crónica assinada “Arnaldo “Ver pr’a além da opacidade”? Pois, aí é que bate. É que eu só sirvo para remendos. Só me chama quando a amante, a Rosete, ou o outro gajo, o “Olho de Lince” estão ocupados. Está certo, isto? Devia-lhe era fazer um manguito assim do tipo do Bordalo. Mas que querem? Às vezes falta-me a coragem.
-Boa tarde, senhor director. Mandou chamar-me?
-Claro. Não mandei o nosso mensageiro especial, Adelino Paixão, ter consigo?
Disse isto, assim um bocado com cara de Ministro das Finanças, ontem ao lado de Sócrates.
-Eu sei, senhor director, mas há tanto tempo que não me manda trabalhar que até pensei que o senhor tinha morrido…
-Ó Arnaldo, desculpe lá, você tem avô? Tem?
Nem respondi ao animal, vi logo que dali não viria coisa boa.
-Como sabe o “Olho de Lince” está no Paquistão a fazer a cobertura da morte de Bin Laden e a Rosete está a cobrir a Troika em Lisboa…
-Ai a Rosete está em Lisboa?
Claro que não disse o que me ia no pensamento. Mal sabe ele que a troika é que está cobrir a Rosete. Ou eu não conhecesse a gaja. O tolo é que pensa que um Mercedes daqueles, de 8 cilindros, se contenta com um homem só. Por que será que todo o cornudo é inocente?
-Pois está, e bastante falta me faz! –E deu um profundo suspiro. Pôs-se a olhar para o tecto, perdido nas entrelinhas do madeiramento.
-Ei, senhor director, acorde lá. Afinal quer o quê?
-Ai, desculpe, que estava aqui a pensar com os meus botões. Queria pedir-lhe que fosse daqui a bocado, à volta das 17h00, à Praça 8 de Maio, fazer a reportagem da apresentação da lista por Coimbra, do Bloco de Esquerda. Vai lá estar o “Manel” Pureza e o “Chiquinho” Louçã. Veja lá se faz um trabalho como deve ser. Você sabe bem que este pessoal é todo virado para as artes… tem muita sensibilidade…
-Se o senhor director não gosta da minha escrita chame outro…
-Ó Arnaldo, desculpe lá, mas que conversa é essa?-
-Não é nada. Deixe lá. Mas, já agora, gostaria de lembrar o senhor que ainda não me pagou o último serviço.
-Tenha calma! Vá lá fazer o servicinho que depois falamos. Que mania esta, de “portuguesitos”, sempre a falar em dinheiro. Porra , há outros prazeres na vida… carago!
Cheguei ao antigo Largo de Sansão já passava das cinco horas. Estava o Pureza a discursar e a fazer apresentação, à cidade, da lista candidata às eleições legislativas.
Por acaso cheguei quando o “Zé Manel” estava com uma avaria no sistema informático. Ai de certeza que era isso. Se não, como é que ele estava sempre a repetir: “Coimbra não tem saudades de José Sócrates por isto… Coimbra não tem saudades de José Sócrates por aquilo…”
Lá estava, entre outros conhecidos de todos nós, a Helena Loureiro, que é filha cá da Baixa, estava lá a nossa maior e mais querida embaixadora teatral, cuja companhia Escola da Noite, recentemente, foi tão maltratada pelo Ministério da Cultura, a Isabel Campante.
Na ponta esquerda, como não poderia ser de outro modo, lá estava a Filomena Amaral –está linda, a esposa do Casimiro Simões.
E entrou então o “Chico” Louçã no palco maior da Praça de Maio para discursar.
Estava ele então embalado na demonstração, a dizer que o actual e ainda primeiro-ministro se escondia atrás de uns arbustos, quando, saída da Rua da Moeda, deu entrada em cena a Elsa, que por acaso, só mesmo por acaso, estava com um grãozinho na asa e, sobretudo por isso, queria descarregar a sua fúria contra Cavaco Silva.
Mas é claro, o Tozé, o bombeiro de serviço de assistência ao Bloco, lá conseguiu apagar o fogo que minava o interior da mulher e ela lá seguiu em paz. E o grande líder Louçã lá pode continuar na paz dos anjos –refiro as belas mulheres que estavam a assistir à cerimónia de apresentação.
Numa assistência heterogenia podia ver-se desde o mais magro ao mais gordo. O povo, na sua expressão singela, estava ali;
desde o revivalista ao contemporâneo, desde o jovem ao mais idoso. O primeiro a sorrir para o presente, o segundo apreensivo quanto ao futuro;
desde a mais bela e linda mulher, onde se constatava a generosidade da natureza; desde a mais projecção de Vénus até Afrodite.
Sentiu-se envolvimento de todos os presentes no largo em frente ao Olímpio Medina. A cidade gostou de conhecer os candidatos do Bloco de Esquerda ao pleito legislativo.
No final, Francisco Louçã estava satisfeito. Com o seu sorriso de "menino tímido", lá estava a receber as queixas de um e outro cidadão.
O grande capital financeiro tem de levar nas bentas para trás.
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