(IMAGEM DE LEONARDO BRAGA PINHEIRO)
“Estava desempregada. Estabeleci-me há um ano e meio. Pago de renda 500 euros. Estou a deixar de ter vida. Como não consigo tirar nada da loja, estou a sobreviver do ordenado do meu marido. O empréstimo da minha casa está em ordem, mas com muito custo. O meu marido, tal como dois filhos, que estão a estudar, até ao domingo trabalham. No mês passado tive de pedir dinheiro ao meu pai para satisfazer a prestação. Já recorri a empréstimos de particulares porque no banco não tive hipótese. Tenho dívidas às Finanças e à Segurança Social. Estou doente. Quando me estabeleci aqui, há um ano e meio, vestia o número 42 de calça, agora basta-me o 36. Estou muito deprimida. Ando a ser medicada com ansiolíticos. Tenho 44 anos, e nunca na vida tinha tomado medicamentos. Eu fui emigrante, sempre vivi muito bem. Já fui rica, agora estou muito pobre. A minha sorte é ter um marido e filhos espectaculares. Neste Natal não dei nada aos meus filhos. Abraçaram-se a mim e chorámos todos. Os dinheiros que eles receberam entregaram-mo todo para me ajudar. Foram três amigas que me encheram o frigorífico. Foi o pior Natal de toda a minha existência. Há pouco tempo, para eu não entrar em incumprimento com o banco, no empréstimo da habitação, uma minha amiga, empregada no comércio, vendeu o seu fio de ouro e emprestou-me o valor correspondente. As notas escolares dos meus filhos, em face desta situação, caíram a pique. Já tenho a renda da loja em atraso, mas, tenho de confessar, o meu senhorio é uma alma boa. Nunca me pressionou. Tenho dívidas à Segurança Social e ao Fisco.”
Em 9 de Fevereiro escrevi este texto, com base no depoimento de uma senhora comerciante.
Hoje fui contactado novamente por esta mulher: “senhor Luís, precisava de falar consigo. O meu senhorio impôs-me um ultimato: deu-me até à próxima quarta-feira para regularizar a renda da loja. Tenho 5 meses em atraso. O que devo fazer, senhor Luís? Encerrar? Mas se fechar o que vai ser do material que tenho dentro loja? E o que vou fazer da minha vida? A que porta devo bater? Acha que alguém me ajuda?”
Estou triste, leitor, acredite. Muito triste. Não estou armado em bom samaritano ou santo. Já fiz muita merda na vida. Não sou melhor do que qualquer um, mas isto custa. Esta impotência dói. Pouco posso fazer. Ou quase nada. O que lhe disse é que se aceitar dar a cara, podendo eu falar no seu nome, na próxima Segunda-feira, farei, novamente, um peditório pelos comerciantes para tentar arranjar algum dinheiro para lhe dar algum amparo. Ficou em pensar –acredito que não seja fácil mostrar a todos que se está na miséria. Quanto ao encerrar o estabelecimento, dei-lhe por sugestão pedir a insolvência da firma. Que não adie mais. Se não dá, encerre quanto antes para não se afundar mais.
Mas estou furibundo. Muito furioso. Depois de ter escrito este texto aqui no blogue, no dia 9 de Fevereiro, e o ter publicado no Diário de Coimbra, dei a ideia ao presidente da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, Armindo Gaspar, no sentido de ajudar esta mulher e outros 8 comerciantes que estavam na mesma situação para se fazer uma feira de saldos hoje, dia 25, nas Ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz, em simultâneo com a Feira de Velharias, na Praça do Comércio. O projecto foi aceite por Armindo Gaspar imediatamente. Para além disso, acrescentou que se deveria realizar nos dois dias, Sábado e Domingo. Ficou assente ser a agência a tomar conta dos trâmites, nomeadamente o licenciamento do espaço público junto da autarquia. Ficou combinado também que uma funcionária da agência passaria pelas lojas a endereçar o convite e posteriormente eu o Armindo Gaspar e o Arménio Pratas iríamos convidar pessoalmente os comerciantes a participarem neste evento. Acontece que, de facto, veio uma funcionária para a rua, mas –como seria de adivinhar- poucos comerciantes se disponibilizaram. Apenas 13. Ora, é isto que me escandaliza profundamente, perante as poucas inscrições, o presidente da APBC, bem como Arménio Pratas, renegou cumprir o compromisso que tinha comigo. E, mesmo depois de o Diário as Beiras anunciar a alegoria, deram o dito por não dito e, com argumento de que havia poucas participações, anularam a feira.
O que mais me aborrece, sinceramente, é que o senhor presidente da APBC, Armindo Gaspar, há menos de um mês teve um problema grave e um pequeno grupo de comerciantes, para o ajudar, andaram vários dias, de porta em porta, a pedir auxílio, e conseguiu-se. Agora, perante a situação aflitiva de vários colegas, o mesmo comerciante, há dias muito vulnerabilizado, depressa se esqueceu e nada fez para socorrer quem está na mesma situação. É lógico, sendo sério, ser mais que provável que a realização da feira não era a salvação, mas, pelo menos, eu e outros, ficávamos com a certeza de que tínhamos feito tudo para ajudar. Está certo não se ter feito nada? E o que vai acontecer a esta senhora? A solidariedade não é uma responsabilização social? Podemos assobiar para o lado esquerdo, esquecendo o que se passa no direito?
É com estas tomadas de posição que se ajuda quem está fragilizado? É assim que deve proceder uma direcção de uma entidade que tem por objecto defender uma classe?
Perante esta insensibilidade escandalosa, no meu entender, o melhor que esta direcção da APBC tem a fazer é demitir-se em bloco e convocar eleições. Mas convocar mesmo. E, finalmente, darem cumprimento aos artigos Décimo e Décimo Sétimo, dos Estatutos.
4 comentários:
Tenho bastante pena do que vou dizer, mas posso o dizer avontade porque nem sou comerciante, mas interesso-me pela minha baixa, pelo comercio tradicional.
A APBC é uma Agência de teorias porque na pratica está quase no marasmo, no caso concreto aos comerciantes virem para a Rua este fimm-de-semana, não vinham 100 vinham os 13 para dar o exemplo.
Muito sinceramente acho que tanto a ACIC como APBC devem acabar nos moldes que estão ou os seus derigentes sairem voluntariamente.
Isto não é nada pessoal contra ninguem mas sim em defesa do comercio tradicional.
Amigo Luis!
Bom texto, sobre uma questão que preocupa a Junta de Freguesia de São Bartolomeu, enquanto elemento directivo da APBC.Sinceramente, lamento que os comerciantes estejam divididos.A APBC, tem uma direcção e possui elementos que têm trabalhado imenso e se mais não fazem é porque não lhes é prestada a devida informação e algumas decisões, são conhecidas depois de anunciadas. Lamento...
O elemento da direcção e representante da Junta Júlio Neves, também dá o seu prestigiado contributo quando é chamado ao trabalho, como outros.
Afinal onde está o tal fundo?
É por isso que o Presidente da Junta se preocupa com a nossa Baixa, mas fico triste ao ler o seu escrito.(Cada um olha para o seu umbigo).
Está na hora de apoiar os comerciantes com dificuldades, á semelhança do que foi feito, quando o azar bateu á porta de Armindo Gaspar.
Grato
José Carlos Clemente
Amigo Luis!
Bom texto, sobre uma questão que preocupa a Junta de Freguesia de São Bartolomeu, enquanto elemento directivo da APBC.Sinceramente, lamento que os comerciantes estejam divididos.A APBC, tem uma direcção e possui elementos que têm trabalhado imenso e se mais não fazem é porque não lhes é prestada a devida informação e algumas decisões, são conhecidas depois de anunciadas. Lamento...
O elemento da direcção e representante da Junta Júlio Neves, também dá o seu prestigiado contributo quando é chamado ao trabalho, como outros.
Afinal onde está o tal fundo?
É por isso que o Presidente da Junta se preocupa com a nossa Baixa, mas fico triste ao ler o seu escrito.(Cada um olha para o seu umbigo).
Está na hora de apoiar os comerciantes com dificuldades, á semelhança do que foi feito, quando o azar bateu á porta de Armindo Gaspar.
Grato
José Carlos Clemente
Concordo inteiramente com o Presidente da Junta de São Bartolomeu. Gostava de esclarecer que quando afirmei que a direcção se devia demitir referia-me ao seu Presidente Armindo Gaspar.
Estou perfeitamente avontade para afirmar que se todos tivessem a garra do representante da Junta de Freguesia o amigo Julio Neves que a APBC de certeza estava bem melhor.
Tambem pergunto onde está o fundo?
Quem vai tomar a iniciativa de ajudar os restantes comerciantes?( neste caso concreto dos 13 que tinham aceite a iniciativa que a APBC recuou)
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