Pela celebração dos 900 anos sobre a entrega da Carta de Foral à cidade, com início nesta celebração, estava programado uma exposição itinerante de xailes e um espectáculo, às 22h00, na Praça 8 de Maio, com José Cid e o Quarteto 1111.
Para surpresa de quem chegou à hora, verificou-se que o espectáculo do grande cantor conimbricense foi transferido para o interior do vetusto café Santa Cruz.
Pelo meio da multidão, que se acotovelava junto à entrada do estabelecimento hoteleiro e que tentava, por todos os meios, esticar o pescoço e colocar os ouvidos em posição de ouvir qualquer coisinha, corriam algumas versões desta mudança de última hora. A mais consistente era de que “por causa daqueles gajos que estão ali em baixo, que não quiseram sair, como não havia nenhum mandado judicial, teve de se optar pelo interior do café”. Foi assim? Não foi?
Vamos lá ouvir os manifestantes. Interrogo um jovem português e de cerca de 20 anos.
-Foi assim Francisco? É verdade que vocês não quiseram sair do átrio da igreja? Interrogo.
-Não senhor. Nós dissemos que eles poderiam actuar, dividindo metade do átrio. Até nos prontificámos a retirar aquela faixa –e aponta. O que dissemos era que não saíamos daqui. A praça é de todos. Nós cabíamos todos, o grupo e o conjunto do José Cid.
Ainda começaram a montar o som, mas depois disseram que como o tempo não estava muito certo, pelas condições atmosféricas, optavam pelo interior do café. Até ajudei a levar as colunas.
Vamos ouvir a Maria do Rosário, que é professora e é apoiante deste movimento contra a ditadura dos mercados financeiros. É uma senhora de meia-idade. Enquanto estou a falar com ela, passa um grupo e um dos transeuntes atira de chofre: “drogados… vão para vossa terra… drogados!”
É verdade o que dizem ali em cima, junto ao café?
-Que eu me apercebesse não houve da nossa parte má-vontade, pareceu-me é que não houve intenção da parte da organização em realizar o espectáculo musical junto a nós. Isso sim!
Nós portugueses, somos um povo muito básico e ignorante. A mentira fica sempre com a quem a proclama.
Já agora vou falar com uma jovem espanhola, a Carmen. Que tem a dizer sobre esta transferência do concerto ali para cima?
-Não tenho muito a dizer. Não nos negámos a sair. Apenas afirmámos que era possível continuarmos aqui e o conjunto actuar ao mesmo tempo. Já estamos aqui desde sábado e domingo até à meia-noite. Voltámos na segunda, terça, quarta e hoje, quinta-feira.
Entretanto deixei este grupo e ao ser reconhecido por uma pessoa, que pediu o anonimato, diz-me de rompante: “ó pá, escreve lá que isto que se passou hoje é uma vergonha. Então, pode admitir-se que ali junto ao Panteão nacional, de manhã, estivessem tipos a dormir dentro de sacos-cama, que nem deixavam passar as pessoas para o interior da igreja? Ainda te digo mais, porque razão é que a vereadora da cultura optou pelo interior do café, se tem um palco montado na Praça do comércio? Deveriam ter prevenido acerca do tempo… é ou não é?
Sabes o que eu te digo, pá?... escreve… esta gente não tem pulso em nada. Planeiam as coisas em cima do joelho, é o que é! Anda tudo ao deus dará! Coimbra é assim!”
1 comentário:
"Então, pode admitir-se que ali junto ao Panteão nacional, de manhã, estivessem tipos a dormir dentro de sacos-cama..."
Esta afirmação não corresponde à verdade, só estavam ocupar o lado esquerdo da entrada da Igreja Santa Cruz.
Enviar um comentário