sexta-feira, 6 de maio de 2011

"À CONVERSA COM O CENTRO HISTÓRICO"




 Conforme foi amplamente noticiado, e também aqui no blogue, realizou-se ontem, na sede da Junta de Freguesia de Almedina uma “tertúlia” sobre o lema “À conversa com o Centro Histórico”.
Nas antigas instalações de uma antiga igreja, onde funciona há muitos anos a junta de freguesia –o que me leva a questionar se este lindíssimo edifício não deveria ser aproveitado para outro fim cultural, tendo em conta as suas espectaculares arcadas em pedra-, com início às 18h00, e com a mesa de painel ocupada pelo presidente da Câmara Municipal de Coimbra, João Barbosa de Melo, pelo vereador Paulo Leitão e pelo recém-empossado presidente da junta Carlos Lopes, que ascendeu a primeiro depois da renúncia da, sucessivamente durante 13 anos, eleita Palmira Pedro. A moderar o debate esteve Sidónio Simões, responsável do Gabinete para o Centro Histórico.
Com uma antecâmara episcopal completamente repleta, durante cerca de 90 minutos, e depois da apresentação, foram debatidos alguns problemas apresentados por particulares com dificuldades a resolver no Centro Histórico.
Sem qualquer tipo de som, os oradores do painel, embutidos no oráculo do altar da velha igreja, a parecerem estar dentro de uma caixa, não se conseguiram fazer ouvir por mais de metade da sala.
Este primeiro encontro pareceu uma pequena mini-assembleia municipal. Em minha modesta opinião, nos futuros encontros, terá de se ser mais ambicioso e deve-se exigir que, cada um dos intervenientes não venha carpir mágoas sobre o leite derramado das suas próprias contrariedades em chegar ao “deus presidente”, Barbosa de Melo, e a queixarem-se apenas e só dos santos, projectados nos funcionários camarários. O que quero dizer é que para debater  dúvidas particulares há sessões específicas, tais como a Assembleia Municipal e a do Executivo, aberta ao público. É preciso disciplinar os participantes. Se estes encontros pretendem ir mais longe, não se pode apenas ficar na “lana caprina”. 
Não quero de modo algum dizer que os lamentos individuais não devam ser ouvidos e não sejam importantes. Nada disso. O que quero dizer é que estas reuniões serão fundamentais para o Centro Histórico se forem planeadas e se procurar ir mais longe, isto é, na procura de soluções. Caso contrário –foi o que senti ontem no final- é  ficar com a sensação de mais tempo perdido; é mais uma reunião que não deixa história; pelo contrário, deixa um vazio de nada se ter aproveitado. É chover no molhado. A referência final proclamada pelo presidente Barbosa de Melo, de que “foram ditas coisas importantes e tomou notas”, é pouco, muito pouco. É assim uma espécie de satisfação política para contentar tolos. É preciso mostrar pragmaticamente que este novo executivo quer ir mais longe e separar a farinha do farelo.
É preciso que o próximo debate seja realizado num espaço maior e com alguma dignidade –não quero dizer que o de ontem não tivesse-, como, por exemplo, o Salão Nobre da Câmara Municipal.
O tempo de uma hora e meia é manifestamente insuficiente. Nestes debates deve ser dada oportunidade a todos de se manifestarem –o que ontem não aconteceu. No inicio destas trocas de opiniões devem ser apresentadas as regras, como por exemplo o tempo de que cada um irá dispor, e independentemente de ser o senhor doutor da “Mula Ruça”, o senhor engenheiro Troca Pontes”, o senhor professor universitário “Não anda, plana como divindade”. Nestes debates sempre falta democracia e respeito pelo tratamento igual de todos os intervenientes na imparcialidade, e igualdade, independentemente do seu estatuto. É preciso de uma vez por todas que sejam exigidas linhas direitas no ouvir de todos, desde o “Jaquim padeiro ao “Toino da loja” e que, só porque é de condição simples, os moderadores tenham uma implícita vontade de lhes retirar a palavra.
Deixo alguns excertos do público que usou da palavra. O primeiro a intervir foi o actual proprietário do prédio e firma “Ferragens de Coimbra”, na Rua Direita. “Sempre que tenho de subir as escadas da autarquia até fico maldisposto”. (…) “O meu projecto esteve parado 3 anos na Câmara Municipal –há 10 anos que ando de volta dos dois prédios para reabilitar”. (…) “Alguns funcionários pensam que a Câmara é deles!”.
A seguir falou Adelino Gonçalves. “Em 2001, nos últimos Censos, a população de Coimbra estava a crescer 4% e o alojamento a 24 por cento”.
Alte da Veiga disse o seguinte: “Há empreiteiros que não fazem obras na Alta, sobretudo pelos acessos, mas também, e essencialmente, pela burocracia. Continuamos a viver num país de papéis. (…) “Queremos uma Alta para turista ou para viver? Temos de fazer uma opção”. (…) “Há “serenatinhas” todas as noites”. (…) “ Coimbra é uma cidade sem lei; ela existe mas não se aplica em Coimbra”.
Berta Duarte, uma outra moradora na Alta, disse o seguinte: “As pinturas grafitadas nos prédios recentemente reconstruídos não podem continuar”. (…) “O lixo colocado fora de horas é uma constante e implica que, durante todo o dia, permaneça espalhado na via pública e depois de os animais romperem os sacos negros”.
António Rocha Gonçalves, proprietário de vários prédios na Alta e inclusive no Bairro de Sousa Pinto lá levou os seus lamentos pessoais –e até contou uma anedota- na ineficácia de quem trabalha no Gabinete para o Centro Histórico –claro que sem esquecer de enaltecer o bom trabalho de Sidónio Simões… que estava presente no debate.
Raimundo Silva, professor universitário, lá explanou o seu sentir sobre a Alta e disse dar aulas nas ruas. Disse ainda que a maioria dos seus alunos só conhece o canal Ferreira Borges/Visconde da Luz e mais nada da Baixa.
De salientar a boa intervenção do jovem vereador Paulo Leitão. É novo na “coisa”, mas consegue jogar bem com a sua inexperiência, gerando simpatia e empatia em quem o ouve. No cômputo geral o painel esteve todo muito bem… pena foi não se ter conseguido ouvir.


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