terça-feira, 7 de dezembro de 2010

COIMBRA E O (MAU) EXEMPLO POLÍTICO




 Segundo o jornal Campeão das Províncias, “Dois vereadores da Câmara Municipal de Coimbra (CMC) eleitos pelo PS responsabilizaram, hoje, Carlos Encarnação pelo impasse em que se encontra o Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM); o prefeito, alegando já ter dado para este “peditório”, insurgiu-se contra o que rotula de politiquice.
(…) O autarca Álvaro Maia Seco, que renunciou à liderança da sociedade Metro Mondego, exortou o presidente da CMC a “procurar unir vontades” acercado projecto de metro de superfície, através de posições em que se revejam os municípios de Miranda do Corvo e Lousã”.
Começo por esclarecer que a sociedade Metro Mondego é constituída pelo Estado, que detém a parte maioritária de leão, pela CP e REFER e pelas três autarquias beneficiárias do projecto, Coimbra, Miranda do Corvo e Lousã. Escrevo também que as autarquias de Coimbra e Miranda do Corvo são de gestão social-democrata e a Lousã socialista. Em comum aos três concelhos o facto de o projecto metro de superfície ter servido de engodo aos eleitores destas edilidades e, subsequentemente, para eleger Carlos Encarnação, por Coimbra, Fátima Ramos, por Miranda do Corvo, e Fernando Carvalho, pela Lousã.
Saliento também que numa absurda e inexplicável medida, depois de ter mandado levantar as travessas e desactivar a centenária via-férrea, o Governo, em Outubro, último, anunciou a pretensão de extinguir a sociedade Metro Mondego. Também no princípio deste mês, por ordens da REFER, as obras na linha, entre Coimbra e Lousã, foram suspensas de vez.
 Continuando, sendo a autarquia da Lousã rosa e as restantes laranja, seria de supor que a primeira, a lousanense, alinharia em argumentos desculpabilizantes ao lado do Governo e as segundas, Miranda e Coimbra, fariam ouvir a uma só voz o seu grito de revolta. Então, para surpresa de muitos, o que veio a acontecer foi o rugir de leão vir exactamente de onde menos seria de esperar, ou seja, da Lousã. Se bem que a indignação de Fátima Ramos, penso, nunca deixou lugar a dúvida. E Coimbra, que pelo cancelamento do projecto será a cidade mais prejudicada, por parte de Carlos Encarnação, ouviu-se ou sentiu-se um tremendo murro na mesa? Um qualquer grosso berro?  O que se notou foi um ruído de fundo muito baixinho e não convenceu. Quanto muito um guincho, tipo miau miau, sem força e sem revolta proporcional à ofensa a todos os conimbricenses. E não foi por falta de motivos para o presidente coimbrão continuar o que estava à sua frente. Era só mesmo estender a mão em oportunidade política e seguir, por exemplo, o abaixo-assinado em forma de Petição Pública que o Diário de Coimbra e Bruno Ferreira levaram ao Parlamento. Mas não, numa quietude incompreensível, inqualificável e morna não se ouviu um apoio por aí além, da Praça 8 de Maio. Nem sequer, mesmo, com as várias cartas de cidadãos publicadas nos jornais da cidade.
Ontem, o vereador do Partido Socialista, na oposição, em reunião do executivo, desafiou o autarca da Coligação Coimbra por Amor a “procurar, sem “partidarice”, congregar vontades de todas as forças partidárias” na defesa do Projecto da Metro Mondego”. Isto é, colocarem de lado os interesses partidários e, todos juntos, lutarem pelo bem comum.
O que respondeu o presidente da Câmara de Coimbra? O inimaginável: “ que já deu para este peditório”.
Poderemos até entender que Álvaro Maia Seco, presidente, durante vários anos, da empresa Metro Mondego (MM) até há pouco, foi um dos beneficiários directos deste falhado projecto e, no limite, até poderemos pensar que, em repulsa, Carlos Encarnação não aceitou o repto por esse facto. Acontece que em Março de 2005, por alturas de eleições, aquando do início das obras de desconstrução do canal na Baixa, foi o presidente da edilidade e juntamente com José Mariz, então presidente da MM, que apareceram a garantir estas obras e numa só voz exclamaram: “é um momento histórico”.
O que quero dizer? É que, solidariamente, ambos detêm responsabilidades comuns neste desgraçado projecto de traçado urbano.
Se aos vereadores do PS na autarquia de Coimbra e ao presidente da câmara da Lousã, ao pedirem a exoneração do secretário de Estado dos Transportes, Correia da Fonseca, e responsabilizarem o ministro da mesma tutela, nada há a apontar, já a estas declarações de Carlos da Encarnação, à luz da defesa comum dos interesses de uma cidade, são um escândalo a todos os níveis. Ao não querer juntar-se à oposição num momento tão importante para Coimbra, Encarnação só parece mostrar que se está a marimbar para o presente e o futuro da cidade dos estudantes e que jurou defender através da eleição política.
Com esta atitude, demonstra que está nas tintas para quem foi empurrado das casas onde nasceram; dos comerciantes que, sob ameaça de expropriação, foram obrigados a negociarem os seus estabelecimentos; dos milhares de pessoas que, vendo o desmantelamento da linha, agora, demorando muito mais tempo, têm de viajar de autocarro.
Ora, no mínimo, perante uma ameaça grave à cidade que representa, a um presidente de uma qualquer autarquia do país, exige-se solidariedade e que coloque os interesses dos seus munícipes acima da guerra política/partidária. É um péssimo exemplo para o país, este que o presidente da Câmara Municipal de Coimbra dá.
Neste oceano de politiquice sonsa e barata, valha-nos a postura sem mácula dos vereadores do partido do Governo na cidade. Um bom exemplo a reter.

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