A Baixa é feminina? É. Poderia ser mulher? Poderia. E a ser assim, fazendo analogia, com quem a compararia? Evidentemente que não seria com a boa, boa, da Rosete “sempre em cima”. Teria de ser com alguma mulher já de muita idade, assim quase com um século, mas, por outro lado, que tivesse um rosto de trintona. Ora, pensando bem, depois de muito matutar, talvez a relacionasse com a Lili Caneças.
Se virmos bem serão mais as aproximações do que as diferenças que as separam. A Baixa é velha; de vez em quando faz, numa ou outra fachada, um “lifting” ao rosto. Durante o dia da semana, quando o comércio está aberto e com todo o movimento, como se estivesse toda maquilhada e apertadinha desde o túnel de Almedina até ao pescoço da Estação Nova, nem se notam as “carnes flácidas”; o problema é à noite e ao domingo, quando se despe perante o seu visitante apaixonado.
Foi isto mesmo que senti hoje. Cerca do meio-dia dei uma volta pelas ruas do Centro Histórico. Apesar de faltar menos de uma semana para o Natal, havia pouca gente a circular nas ruas. Também poucas lojas decidiram abrir, pelo menos durante a manhã, que estava ligeiramente desconfortável –de tarde, talvez porque estava solarenga, já muitos comerciantes apostaram no negócio.
Então, não para desculpabilizar quem não abriu, mas pensando que talvez a Baixa não seja muito agradável para visitar ao domingo, dei por mim, ao longo das ruas e ruelas, a olhar para o ar. O que vi? Prédios e mais prédios tudo a cair de velho e desconjuntado. De vez em quando olhava para o chão de calçada portuguesa: o piso de todas as ruas, sem excepção, está uma lástima. Buraco aqui, pedra lajeada partida acolá, pedrinhas soltas por tudo quanto é canto. E o mais grave, o chão das ruas e becos do Centro Histórico estão imundos. Grandes manchas negras casam sem grande dificuldade com as pedras das Escadas de São Tiago até à Praça do Comércio e estendendo-se até à Rua Adelino Veiga. Como se isto fosse pouco, o lixo urbano permanece abandonado, nalguns casos espalhado no chão, ao longo de pracetas, ruas largas e vias estreitas. Alguém pode entender que o lixo permaneça ao domingo na Baixa sem ser recolhido? Só pode compreender esta medida se for entendida numa continuada omissão, desleixo e falta de cultura cívica e educacional de quem tem responsabilidade para o mandar recolher e não o faz.
Os bancos de madeira em frente à medieval igreja de São Tiago e no início da Rua das Padeiras estão completamente em mau estado. Dizer que a situação se deve ao vandalismo não colhe.
Perante este horror visual, podemos interrogar: o que quer fazer a autarquia deste espaço da cidade? Agora que temos novo presidente, é urgente que Barbosa de Melo, o novo encarregado da edilidade, diga o que quer fazer com uma zona museológica das mais importantes da cidade e que, em tempos, alguém disse que seria candidata a Património Mundial da Unesco.
Por último, deixo outra interrogação, perante a pescadinha de rabo-na-boca, por um lado, o cliente não vem porque as lojas estão encerradas e, por outro lado, os lojistas não abrem porque o consumidor vai para as grandes superfícies comerciais, algum destes grupos, consumidores e comerciantes, terá algum gosto em vir para uma área destas e abandonada desta maneira?
Haja decoro…ao menos! Que é para não se dizer que tudo isto é intencional e para empurrar os compradores para os “shopping’s”.
Mal empregue riqueza histórica e cultural estar entregue a tantos desleixados e insensíveis.
Acho que se fosse visitante e se me dessem a escolher entre a Baixa e... ...escolhia a Lili Caneças.
Porca miséria!!
1 comentário:
Cada fotografia que publicou é um postal ilustrado da nossa Cidade.
Para não ser "acusado" de andar sempre a falar no lixo que abunda na baixa de Coimbra, da não recolha do mesmo tanto pelos serviços da Autarquia como pela ERSUC, estou a ponderar deixar de comentar estes assuntos na época de natal, senão ainda apareçem alguns iluminados a dizer que é aproveitamento politico.
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