segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

ESCREVER POR ESCREVER...




 Nos últimos dias sinto-me um bocado azedo, assim um pouco para o agridoce. Bem sei que você está a pensar que será falta de açúcar, e, embora ainda não me faltasse, só pelo boato de escassez que corre por aí, até poderia ser…mas não é. Eu sei que não é. Esta proximidade do Natal deprime-me. Todos os anos é assim, fico ensimesmado e sem graça –não quero dizer que durante os restantes meses do ano tenha muita-, como se estivesse toldado por um nuvem de angústia, assim parecida com o manto de nevoeiro que cobria hoje a cidade.
A razão, objectivamente, não sei bem porquê, mas suspeito. Estas coisas do comportamento têm sempre a ver com a nossa infância, puberdade e adolescência. Estão relacionadas com tempos que vivemos ou convivemos mal e que como picadas de alfinete nos ficaram marcadas para sempre.
O problema, nestas coisas de angústia, é nós sentirmo-la e não nos podermos libertar dela. Como fantasma perceptível, não me largará dia e noite. Já sei que até aos primeiros raios de Sol e árvores a florir, sinais de uma primavera que emerge, durante os próximos três meses, esta minha amiga forçada andará sempre comigo. Como já estou habituado, a verdade é que já nem estranho. Considero apenas este período do ano talvez como a minha fase de hibernação. Costumo dizer que, se pudesse, de Dezembro a Março, iria viver para o Sul de Espanha, Brasil ou outro qualquer país de clima quente.
Sempre evitei e fui alheio a recorrer a fármacos, a álcool ou outra forma de muletas para preencher o vazio que me mina alma neste altura. Claro que tenho as minhas defesas –escrever é uma delas-, que me impeça de pensar muito no assunto. O que sei é que, nesta altura de fim e começo de novo ano, preciso, mais do que nunca de ter a mente ocupada.
Sei também que, segundo especialistas em psicologia e psiquiatria, provavelmente metade da população portuguesa andará deprimida. Os seus estudos, assentes no aumento de vendas de psicofármacos, sobretudo ansiolíticos, mostram isso. Basta olhar com atenção à nossa volta e dará para ver a tristeza que marca o rosto dos nossos interlocutores ou pessoas com quem nos cruzamos. Com a crise económica, social, política, que estamos a viver, parece que todos perdemos aquela luz de esperança que alimentava a nossa vivência quotidiana. E, em muitos casos, nem é porque a situação não esteja controlada, é simplesmente porque o desânimo, como vírus de pandemia, toca todos.
 Apesar de o futuro próximo dos jovens ser pouco risonho, no sentido da carência de empregabilidade, uma coisa terão de ter em conta: a maioria deles não estará desamparada. A suportar tudo estão os seus pais. Estes sim, tal como eu, da geração de 1950, passaram muito para alcançarem um patamar de desafogo económico. Começámos por laborar ainda imberbes para ajudar os nossos progenitores. Casámos e, desenfreadamente, trabalhámos noite e dia para conseguirmos ter a nossa casa e os nossos haveres. Entretanto os nossos pais envelheceram, tomámos conta deles. Com grande sacrifício, demos a melhor educação que pudemos e soubemos aos nossos filhos. Demos-lhes um curso universitário –atributo que, pela carestia financeira da época, nos foi negado pelos nossos pais- para tentar garantir o seu futuro. Hoje, pela dificuldade de arranjarem trabalho, mesmo depois dos trinta anos, lá permanecem em casa e somos nós, a geração sacrificada, a financiar os seus curtos projectos e a sua vida existencialista.
Entretanto os nossos recursos se já não estão esgotados para lá caminham e cada vez mais vemos e sentimos que iremos acabar muito mal. Apesar desta “Geração Sanduíche” –como alguém a baptizou- ser das que mais descontou para a Segurança Social, corre o risco muito evidente de não vir a receber qualquer reforma. Acabarmos os dias num qualquer lar também parece longínquo porque não haverá dinheiro para pagar a mensalidade.
Então o que nos espera? Ninguém sabe. Provavelmente um lugar num qualquer reformatório de velhos a criar pelo Estado, onde, amontoados, sem qualquer qualidade de vida, acabaremos os nossos dias.
Pode ser que não. Tenhamos alguma réstia de esperança!

Sem comentários: