Mais uma vez e num hábito recorrente, hoje, o
Largo da Freiria está “enfeitado” com um mono, um móvel em madeira
esconjuntado, colocado na via pública por volta da meia-noite e já depois dos
veículos de recolha terem passado duas vezes. É raro não haver lixo durante o
dia nesta singular praceta da Baixa de Coimbra. A primeira apanha acontece
sempre por volta das 20-21 horas e a segunda cerca das 23h00. Ou seja, mesmo
assim, há sempre alguém, morador, obviamente, que vai colocar os detritos
depois dos funcionários camarários passarem. Ao fim-de-semana, tarde e noite de
Sábado e Domingo, o Centro Histórico mete dó.
Já
escrevi tanto sobre este assunto –e já apanhei tantos restos do chão para aliviar
e tentar mostrar uma imagem limpa que não existe- que, como combatente que
perdeu a guerra, já me desliguei desta causa. Querem assim? Então sujem à
vontade!
Há
cerca de um ano, e durante meses, andou um funcionário do Departamento de Higiene
da Câmara Municipal a percorrer todos os espaços habitáveis da Baixa. Desde
comerciantes até moradores, creio, sensibilizou todos para a necessidade de
serem respeitados os horários para colocação de detritos. E valeu alguma coisa?
Zero. Este tempo, que deveria ter sido de utilidade, não valeu nada. E foi
desadequado porquê? Porque, na subsequência da acção, deveria ter sido
acompanhada de coimas -sanção aplicável
no âmbito do direito de mera ordenação social- para os infractores que não
seguissem a recomendação e não foi. Então o resultado é, por um lado, a recolha
não ser eficiente, por rompimento das regras, e, por outro, parecer que estes
residentes gozam de total irresponsabilidade perante os seus pares. Fazendo o
que lhes dá na real gana, desrespeitando
o trabalho e o esforço de quem os serve e coloca à sua disposição escassos meios
públicos que deveriam ser valorizados, o que lhes importa é a satisfação dos
seus intentos abusadores. Com este modo de proceder, é como se quisessem
transmitir que são os eleitos, a casta, os privilegiados que estão acima de
obrigações sociais, e os outros, a quem os rodeia e limpa a merda que fazem, são a ralé, os
insignificantes, que desprezam.
É preciso tomar atenção que
estamos em face de um problema de cultura, um défice de educação (de crianças)
e formação (de adultos), dos portugueses. Os estrangeiros que cá residem ou em trânsito têm outra civilidade.
TRINTA E CINCO TONELADAS
Segundo
os jornais, a última Queima das Fitas, que se realizou há cerca de uma semana,
foi a mais suja de sempre e apresentou um saldo lixeiro de trinta e cinco
toneladas. Mais do dobro do ano passado. Ora, mesmo alegando que choveu este
ano, o facto anómalo de crescimento exacerbado deveria preocupar as entidades
competentes. É bom não esquecer que a organização do Cortejo e as pessoas que o
compõem maioritariamente são doutorados, licenciados e estudantes. Duas
perguntas: a primeira, que mensagens passam estas pessoas à colectividade?
A segunda, por que razão o
dinheiro dos nossos impostos tem de ser canalizado para actos de exagerado
conspurco?
Já sabemos que a alegação é
que, a par da procissão da Rainha Santa, é a festa maior da cidade. Muito bem.
E em nome dessa grandiosidade vale tudo? Conforme fotos saídas na imprensa,
deve continuar-se admitir que se mije
para dentro dos estabelecimentos comerciais?
É festa de todos ou de alguns?
Se é colectiva todos devem partilhar os custos e proveitos. Se é de alguns,
estes, devem custear os meios públicos que são colocados à sua disposição.
COITADINHOS DOS ANIMAIS
São
muitos os que defendem os direitos dos animais. Não se contesta que se devem
relevar os direitos dos irracionais e tratar com urbanidade os ditos. O
problema é quando, como disse recentemente o Papa Francisco, se tratam em desfavor
as pessoas e se esquece as obrigações inerentes à superveniência. Cuidado com o homem que morder um cão. A família está a mudar.
Neste Largo da Freiria, aliás
como em outras partes da cidade, é diário ver comida espalhada no chão em
frente a um prédio abandonado há cerca de uma década –e a causa começa logo
aqui quando a fiscalização da edilidade, fazendo de conta que não vê, permite que um
prédio esteja nestas condições vários anos.
No que toca aos dejectos de
animais já nem vale a pena falar. Estão à distância de uma passada.
PATRIMÓNIO MUNDIAL DE IMUNDÍCIE
Faz
profunda impressão como é que uma cidade que foi classificada pela UNESCO como
Património Mundial da Humanidade não enxerga que esta distinção foi um totoloto
para a sua economia e desenvolvimento. O que se assiste é que por parte da
autarquia não se vêem grandes iniciativas para continuar a merecer a qualificação
–pelos vistos até esqueceu que, no limite, pode ser retirada. Pelo lado dos
munícipes a mesma coisa. Sejam comerciantes ou moradores, ninguém quer saber da
obrigação de receber com dignidade quem nos visita.
ACABAR DE VEZ COM A RECOLHA
PORTA-A-PORTA
Em
muitos países europeus os cidadãos são responsáveis pelo lixo que produzem e estão
obrigados a levar os seus excedentes aos colectores distribuídos em vários pontos
assinalados nas cidades.
Com tantos cortes em serviços
públicos, não se entende muito bem como é que se continua a alimentar este
serviço, alegadamente, de luxo para uma sociedade de lixo.
Já que não funciona de
porta-a-porta, talvez estivesse na altura de requalificar esta tarefa
camarária.
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1 comentário:
Já não assistia ao cortejo da queima há uma dúzia de anos.Este ano ,como um descendente incorporava o mesmo,fui ver.E pasmei com a quantidade de bebida cerveja e não só que era consumida e despejada para cima de tudo e de todos.Pergunto, será que os estudantes não tem melhor forma de se divertir? Será que tem que ser a custa do álcool? Penso que neste caso a comissão de estudantes e a própria Reitoria deviam ter alguma coisa a dizer.As cervejeiras agradecem a publicidade.Depois vem para a televisão fazer campanhas anti alcoólicas.
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