quarta-feira, 23 de agosto de 2017

BAIXA: MEDIDAS DESPENALIZADORAS E A FAVOR DA REVITALIZAÇÃO (8)

(Imagem da Web)



Tendo em conta a continuada situação de empobrecimento e desalento que as actividades comerciais tradicionais da Baixa de Coimbra atravessam, diariamente e até às próximas eleições autárquicas de 01 de Outubro, vou sugerindo medidas que, se houvesse vontade política, poderiam servir para atenuar a queda e o encerramento de mais espaços mercantis.
Estou a escrever p'ro boneco? É o mais certo!


Criação de um grupo de trabalho para estudar a instalação urgente, na Baixa, de uma sala de chuto assistida.


Em surdina, há muitos anos que a toxicodependência na Baixa ocupa uma boa parte das notícias diárias e conversas entre residentes, comerciantes, trabalhadores indiferenciados e polidores de esquina. Resultado de uma degradação social, em premissas repartidas pela conjuntura económica local e nacional, habitacional -numa degradação acentuada do edificado ao longo de décadas-, geracional -se levarmos em conta que os baixos rendimentos dos agregados familiares do centro histórico pode constituir factor de propensão para a adição- de desertificação -quanto menos forem os residentes mais serão notados os fenómenos de toxicodependência- e político -considerando que esta zona de antanho, sem planos de pormenor, sem se saber o que se quer fazer para o futuro, remendando aqui e cosendo acolá sempre no limite, está entregue a si mesma há mais de quarenta anos. A Baixa está para Coimbra como Conímbriga está para Condeixa. É um símbolo histórico, que todos aparentam gostar muito, que todos parecem conhecer bem, mas morto -e que Deus o conserve. Os que mais apreciam estes legados do passado são os turistas internacionais que, colocando as mãos à cabeça, perguntam como é possível todo este abandono, esquecimento e degradação monumental.
Os toxicodependentes tal como os alcoólicos -embora os primeiros, sobretudo em Portugal, sejam parcelas de uma soma de décadas recentes-, cultural e socialmente, são um reverso escabroso que todas as famílias “bem constituídas no tabuleiro societário” sempre tentaram ocultar. Os denominados “drogados”, uma espécie de caruncho familiar que paulatinamente vai carcomendo a super-estrutura doméstica, foram sempre o lado negro, o fantasma da miséria presente e futura, a vergonha de grandes nomes sonantes, de uma colectividade assente em frágeis alicerces de estacas. Não admira, por isso, que o estigma não perpassasse para o cidadão comum, sem vínculo sanguíneo para com o toxicómano, da mesma forma e o encarasse como virulento emissor de uma doença transmissível. Um “lixo” societário cuja responsabilidade de ser expurgado, varrido, cabe sempre aos outros, às autoridades administrativas, desde que não se criem depósitos à nossa porta ou se avistem da vidraça da janela. Foi sempre considerada uma clientela indesejável.
Na Baixa, desde há quarenta anos, tem sido sempre assim. Se nas primeiras décadas de 1970/80, devido à grande densidade populacional e movimento da zona, praticamente não se dava por eles, com o nascimento de novas centralidades citadinas, com esvaziamento habitacional e comercial, progressivamente, de ano-para-ano, estão cada vez mais junto a nós, a injectar-se. Enquanto houve Rua Direita -santuário de todos os pecados e cemitério de vivos-mortos- e zona envolvente andaram por ali numa espécie de almas penadas em campo de concentração.
Muito bem apoiados por estruturas como a Cáritas e outros -cuja população moradora nunca se interessou pelo bem-fazer destas instituições e tratou sempre com desprezo e distância- os viciados, ingerindo a dose fora de vistas, andaram sempre escondidos por entre becos e ruelas esconsas e casas abandonadas.

EM NOME DO METRO, DA AMBIÇÃO E DA DESGRAÇA

A partir de 2002, com o argumento de ser aberto o canal para a passagem do Metro Ligeiro de Superfície, a Empresa Metro Mondego, recorrendo algumas vezes à ameaça de expropriação, foi comprando todo o género de imóveis que pudessem impedir o seu desígnio de monstruosidade ciclópica. Foi assim que se encerraram dezenas de actividades, habitacionais, comerciais e de serviços. Largas dezenas de residentes, nascidos e criados na área, que não aceitaram dinheiro foram transferidos para bairros da periferia. Como é de calcular, ficaram os desenraizados, os sem laços e sem teto, agora com menos abrigos para, sem dar nas vistas, fazerem o “caldinho”.
Para piorar ainda mais, há cerca de três anos foram murados alguns acessos a becos na zona do Terreiro da Erva. E, como seria de prever, diariamente os toxicodependentes, injectando-se em plena luz do dia, estão a invadir cada vez mais o espaço urbano, até há pouco considerado limpo.

ENTÃO? VAMOS DEIXAR CORRER O MARFIM OU CRIAMOS SOLUÇÕES HUMANITÁRIAS?

Sabe-se que estamos perante uma falta de coragem política dos autarcas locais -para não lhe chamar cobardia. A lei que lhe dá desenvolvimento à criação de Salas de Chuto Assistidas é de 2001. Pela sua aplicação prática, cabe aos presidentes de câmara assegurar a sua prossecução. Em Lisboa e no Porto o assunto já está em discussão. Ter medo de o debater nada resolve. Inventem-se novos conceitos. É preciso acabar com esta hipocrisia social. Já temos muitos mártires.
Por tudo o que se escreveu, é urgente a criação de uma Sala de Chuto Assistida na Baixa.


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