(Imagem da Web)
Tendo
em conta a continuada situação de empobrecimento e desalento que as
actividades comerciais tradicionais da Baixa de Coimbra atravessam,
diariamente e até às próximas eleições autárquicas de 01 de
Outubro, vou sugerindo medidas que, se houvesse vontade política,
poderiam servir para atenuar a queda e o encerramento de mais espaços
mercantis.
Estou
a escrever p'ro boneco? É o mais certo!
Criação
de um grupo de trabalho para estudar a instalação urgente, na
Baixa, de uma sala de chuto assistida.
Em
surdina, há muitos anos que a toxicodependência na Baixa ocupa uma
boa parte das notícias diárias e conversas entre residentes,
comerciantes, trabalhadores indiferenciados e polidores de
esquina. Resultado de uma degradação social, em premissas
repartidas pela conjuntura económica local e nacional, habitacional
-numa degradação acentuada do edificado ao longo de décadas-,
geracional -se levarmos em conta que os baixos
rendimentos dos agregados familiares do centro histórico pode
constituir factor de propensão para a adição- de desertificação
-quanto menos forem os residentes mais serão notados os fenómenos
de toxicodependência- e político -considerando que
esta zona de antanho, sem planos de pormenor, sem se saber o que se
quer fazer para o futuro, remendando aqui e cosendo acolá sempre no
limite, está entregue a si mesma há mais de quarenta anos. A Baixa
está para Coimbra como Conímbriga está para Condeixa. É um
símbolo histórico, que todos aparentam gostar muito, que todos
parecem conhecer bem, mas morto -e que Deus o conserve. Os que mais
apreciam estes legados do passado são os turistas internacionais
que, colocando as mãos à cabeça, perguntam como é possível todo
este abandono, esquecimento e degradação monumental.
Os
toxicodependentes tal como os alcoólicos -embora os primeiros,
sobretudo em Portugal, sejam parcelas de uma soma de décadas
recentes-, cultural e socialmente, são um reverso escabroso que
todas as famílias “bem constituídas no tabuleiro societário”
sempre tentaram ocultar. Os denominados “drogados”, uma
espécie de caruncho familiar que paulatinamente vai carcomendo a
super-estrutura doméstica, foram sempre o lado negro, o fantasma da
miséria presente e futura, a vergonha de grandes nomes sonantes, de
uma colectividade assente em frágeis alicerces de estacas. Não
admira, por isso, que o estigma não perpassasse para o cidadão
comum, sem vínculo sanguíneo para com o toxicómano, da mesma forma e o encarasse
como virulento emissor de uma doença transmissível. Um “lixo”
societário cuja responsabilidade de ser expurgado, varrido, cabe
sempre aos outros, às autoridades administrativas, desde que não se
criem depósitos à nossa porta ou se avistem da vidraça da janela. Foi sempre considerada uma clientela indesejável.
Na
Baixa, desde há quarenta anos, tem sido sempre assim. Se nas
primeiras décadas de 1970/80, devido à grande densidade
populacional e movimento da zona, praticamente não se dava por eles,
com o nascimento de novas centralidades citadinas, com esvaziamento
habitacional e comercial, progressivamente, de ano-para-ano, estão
cada vez mais junto a nós, a injectar-se. Enquanto houve Rua Direita
-santuário de todos os pecados e cemitério de vivos-mortos- e zona
envolvente andaram por ali numa espécie de almas penadas em campo de
concentração.
Muito
bem apoiados por estruturas como a Cáritas e outros -cuja população
moradora nunca se interessou pelo bem-fazer destas instituições e
tratou sempre com desprezo e distância- os viciados,
ingerindo
a dose fora de vistas,
andaram
sempre escondidos por entre becos e ruelas esconsas e casas
abandonadas.
EM
NOME DO METRO, DA AMBIÇÃO E DA DESGRAÇA
A
partir de 2002, com o argumento de ser aberto o canal para a passagem
do Metro Ligeiro de Superfície, a Empresa Metro Mondego, recorrendo
algumas vezes à ameaça de expropriação, foi comprando todo o
género de imóveis que pudessem impedir o seu desígnio de
monstruosidade ciclópica. Foi assim que se encerraram dezenas de
actividades, habitacionais, comerciais e de serviços. Largas dezenas
de residentes, nascidos e criados na área, que não aceitaram
dinheiro foram transferidos para bairros da periferia. Como é de
calcular, ficaram os desenraizados, os sem laços e sem teto, agora
com menos abrigos para, sem dar nas vistas, fazerem o “caldinho”.
Para
piorar ainda mais, há cerca de três anos foram murados alguns
acessos a becos na zona do Terreiro da Erva. E, como seria de prever,
diariamente os toxicodependentes, injectando-se em plena luz do dia,
estão a invadir cada vez mais o espaço urbano, até há pouco
considerado limpo.
ENTÃO?
VAMOS DEIXAR CORRER O MARFIM OU CRIAMOS SOLUÇÕES HUMANITÁRIAS?
Sabe-se
que estamos perante uma falta de coragem política dos autarcas
locais -para não lhe chamar cobardia. A lei que lhe dá
desenvolvimento à criação de Salas de Chuto Assistidas
é de 2001. Pela sua aplicação prática, cabe aos presidentes de
câmara assegurar a sua prossecução. Em Lisboa e no Porto o assunto
já está em discussão. Ter medo de o debater nada resolve. Inventem-se novos conceitos. É preciso acabar com esta hipocrisia social. Já temos muitos mártires.
Por
tudo o que se escreveu, é urgente a criação de uma Sala de
Chuto Assistida na Baixa.
TEXTOS
RELACCIONADOS
Sem comentários:
Enviar um comentário