quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

UNIVERSIDADE: O QUE É ISTO?

(A FOTOGRAFIA VAI INTENCIONALMENTE DISTORCIDA, NÃO FOSSE ALGUM PAI ASSUSTAR-SE)


 Ontem, quarta-feira, realizou-se o “Pedi-tascas” 2012 –ao que parece é um ritual de iniciação dos caloiros da Universidade de Coimbra  em que, num roteiro previamente estabelecido pelos veteranos, aqueles, em concurso, percorrem as tascas da Baixa ingerindo copos de vinho. Nestas rodadas estarão sempre dois alunos mais velhos que darão pontos consoante a maior quantidade de álcool ingerido. De salientar que procurando na Internet encontramos vídeos desde 2008.
Este ano, e mais uma vez, algumas das casas de hotelaria escolhidas foram antecipadamente contactadas para receber os alunos e, na hora, foram pagos 85 copos de vinho para distribuir por 17 equipas de cinco pessoas cada. Ou seja, em cada estabelecimento havia um copo para cada aluno. Como não sei quantos estabelecimentos foram contratados, não sei quantos copos teriam sido ingeridos por cada um. Como havia pontos a conquistar pela maior quantidade de vinho engolido, houve vários casos em alunos com 18 anos –idade média dos caloiros- que colocavam um jarro cheio à boca e o néctar desaparecia num ápice. Resultado: o Largo da Freiria, por volta das 17h30, parecia estar a viver uma cena do filme “A Grande Farra”, de 1973, de Marco Ferreri, em que, em sinopse, quatro homens de meia-idade e de sucesso se reúnem num fim-de-semana de excessos. Comem e bebem até ao exagero, a pontos de evacuarem por tudo quanto é buraco físico. Nesta ancestral praceta viam-se várias miúdas –mulheres, maiores de idade, sublinho sem ironia- completamente embriagadas, a caírem para todo o lado, e onde a linguagem em alto som era tudo menos de convento. Quanto aos rapazes –volto a sublinhar, civilmente responsáveis, e também sem ironia-, os gritos de “carvalhadas” eram audíveis nos prédios em redor. Por acaso já não há andorinhas, se houvesse, partiriam a toda a pressa para o Norte de África. Alguns destes alunos e alunas faziam do chão o único amparo possível num equilíbrio impossível. O vomitado nas pedras da calçada, em tom avermelhado, fazia lembrar uma pintura surrealista de Miró ao abandono.
Os transeuntes que passavam na Rua Eduardo Coelho, paravam, olhavam, abanavam a cabeça, e, pela expressão facial, pareciam dizer: “meu Deus! O que é  isto?”
Pode até parecer que estou a exagerar, mas se pecar será por defeito e nunca pelo agigantar.
Não quero parecer um purista –aliás, tenho horror a quem o é. A sociedade, no seu comportamento, precisa sempre de uma margem para além do estabelecido na norma, chamemos-lhe discricionariedade ou outra coisa qualquer. Porém, dentro da minha subjectividade, o que se assistiu ontem ultrapassou em muito esse limite marginal. Em nome dos pais que têm filhos, em nome dos filhos que serão pais, faça-se alguma coisa para acabar com este absurdo.


2 comentários:

Ana "Strobe" Mendes disse...

Este ritual de iniciação à vida académica é já antigo e eu própria o pratiquei. Não com o mesma emoção por si descrita, contudo, não descuro a minha responsabilidade e sei que exageros se cometeram naquele dia, uns piores que outros, mas sim, filhos de muitos pais ali se encontravam a dilacerar o dinheiro que muito provavelmente custara a ganhar aos progenitores. Não existe meio de se pôr términus a tais acontecimentos, e o que vejo é que este tipo de situações sempre aconteceram, o problema está que cada vez mais se desresponsabilizam os jovens até uma idade que já passa muito além do considerado adulto pela lei. (Será que deixar homens de vinte e muitos anos serem considerados gaiatos os ajuda em algo senão fugir à responsabilidade?) Muitos destes jovens apenas sentem uma necessidade inexplicável de aceitação numa "sociedade" que nada de bom lhes trará. Não somos nós que temos de pôr um fim aos exageros, são os pais desses jovens, que deveriam deixar de ser tão crédulos e verificar com os próprios olhos onde se gasta o dinheiro que tanto lhes custou a ganhar.

LUIS FERNANDES disse...

Muito obrigada, Ana, pelo comentário. Comentário não, prefiro dizer documento. Uma curta mas incisiva opinião de quem sabe o que escreve porque viveu por dentro. Agradeço-lhe muito.
Abraço.