segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

UM COMENTÁRIO RECEBIDO (SOBRE...)




Ana Soares deixou um novo comentário na sua mensagem "A CAIXA QUE TRANSFORMOU HOMENS EM MARIONETAS...": 

 De facto o programa é um atentado à dignidade deste nobre povo, que, por sorte ou talvez não, nasceu neste país que se chama Portugal. Mas a maior ofensa a esse mesmo povo, é num país em que uma grande percentagem da população estende a mão à caridade, ou pior que isso procura comida nos caixotes do lixo, haja pessoas que auferem vencimentos deste montante.
Ana Soares 

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NOTA DO EDITOR:

 Obrigada Ana por ter comentado. Antes de prosseguir, devo esclarecer que ainda não vi nenhum programa destes, na TVI. No entanto, pelo que me foi transmitido, não tenho dúvida nenhuma de que estamos perante (mais) um programa que em vez de formar deforma. Mas, infelizmente, isto até nem é novidade. Basta darmos uma volta por todos os canais, incluindo a RTP, para verificarmos os conteúdos miseráveis. São concursos (“Quem quer ser milionário” e os “Ídolos”), são absurdos do tipo da “Casa dos Segredos” –creio que é assim que se chama-, são telenovelas portuguesas e brasileiras, é futebol, e pouco mais do que isto. Não se apresenta uma peça de teatro, ou um concurso que estimule a criatividade -saliento que não considero os "Ídolos" dentro dessa classe. Encarto-os muito mais dentro deste da Fátima Lopes, onde os concorrentes são humilhados e espezinhados em nome do legítimo direito de sonhar.
Fora dos programas que enunciei, são debates sobre a crise –vem ou não vem o FMI-, são reportagens sobre a pobreza e a distribuição de alimentos pelo Banco Alimentar, e a nossa televisão é pouco mais do que uma caixa que nos deprime diária e continuamente.
Quanto ao ordenado da apresentadora, tenho duas formas de avaliar, embora, reconheço que tenho dificuldade. É assim, por um lado, entendo que se vivêssemos numa sociedade minimamente justa, jamais deveriam ser permitidas estas assimetrias. Mas como todos sabemos não há comunidades perfeitas e, quando os empregadores são privados, entendo que os cidadãos, mesmo não estando de acordo, terão de respeitar.
Já quanto ao sector público não tenho dúvida nenhuma que, incluindo gestores, não deveria o Estado permitir o escândalo que se assiste entre 8 e 8000. Claro que para isso, para evitar estas diferenças absurdas, o Estado, na relação contratual que mantém com os seus funcionários, deveria assegurar, por direito, o que contratualizou inicialmente. Ora o que é que estamos a assistir? Exactamente o contrário, desonera de cortes os que mais ganham e retira tudo aos que auferem menos. E isto também porquê? Porque perdeu o pé da racionalidade financeira.
Desde o 25 de Abril para cá, por um lado, através de políticas liberais, o Estado foi deixando de intervir na economia –por exemplo na marcação de preços com margens tabeladas e através das privatizações. Quanto a mim, correctamente, até porque estava obrigado pela Comunidade Europeia. Mas, também aqui, mesmo assegurando o mínimo em PPP, Parcerias, Públicas, Privadas, privatizando tudo a esmo em sectores essenciais, mais uma vez se perdeu a favor dos grandes grupos e prejudicou a maioria dos seus cidadãos.
Por outro lado, com intenções pouco claras de condicionar o voto e ter sempre uma base leal de eleitorado, foi gerando uma subsídio-dependência e foi-se transformando no maior empregador sem controle.
Por outro lado ainda, retomando políticas neoliberais completamente radicais, e desonerando-se da sua qualidade de árbitro/mediador para defender sectores mais débeis, deixou que a economia caminhasse por si só, sozinha, e ao sabor da oferta e da procura. Muito para além do “laissez-faire, laissez-passez”, assistimos aos mais fortes esmagarem os mais fracos. Como cidadãos, sem nada podermos fazer, assistimos à formação de grandes grupos económicos –outros, senão os mesmos que tanto eram apontados na sociedade centralizada do Estado Novo.
Por outro lado ainda mais, o Estado deixa de intervir completamente na economia, colocando-se à mercê destes gigantes, mas, curiosamente, através do digital, cada vez mais avança no querer controlar tudo individualmente. Quer taxando e onerando através de impostos, quer conduzindo o indivíduo por linhas que ele próprio tece através de leis e mais leis.
Falar hoje numa sociedade livre é no mínimo ridículo. E, para não perder o fim à meada, a televisão, através de programas que embrutecem a mente, contribui muito para o actual estado da sociedade civil.

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