Imaginemos que, de repente, alguém se lembrava de me convidar para fazer parte de um programa de rádio? Bom, convenhamos que esta possibilidade é meramente académica. Afinal quem é que me quererá a falar sobre alguma coisa? Mas, eventualmente, suponhamos que sim, que me convidavam mesmo. Sou original em alguma coisa que valha a solicitação? É óbvio que não. Escrevi, ao menos, um livro –mesmo que só vendesse uma centena no acto de lançamento- para poder colocar no meu portfólio “escritor”? Lá escrever, escrevo muito, mas publicar nem um. Ora, este facto, é gravíssimo. É uma lacuna sem precedentes. Numa altura em que se publicam 40 livros por dia em Portugal, quer dizer que num ano dão ao prelo aproximadamente 14600, e nem ao menos um é meu? Isto é reduzir-me à molécula existencial. Não conto mesmo nada para o universo cultural. É lógico que, perante tão fracas provas de saber, não mereço mesmo ser convidado para um programa de rádio. Até porque, segundo o aforismo, um homem para ser homem e se sentir plenamente realizado tem de plantar uma árvore –já plantei-, fazer um filho –já fiz dois, pelo menos registados que eu saiba- e publicar um livro –não publiquei. Ora aqui é que bate a porta na ombreira. Por silogismo, deduzindo do adágio, sou mesmo só dois terços de homem realizado, porque falta publicar o livro. Mas, calma, em minha defesa, invoco que os tempos mudaram, e antigamente a premissa “escrever um livro” era obrigatória porque não havia blogues. Ora, mais uma vez apelo à compreensão, eu tenho um blogue, logo, devo sentir-me realizado. É ou não é?
E este palavreado barato serve para tentar dizer que devo ser convidado para um programa de rádio? Acho que não. Aliás, tenho a certeza que não. O que é que eu sei de relevante que me torne diferente neste mundo de iguais? Pouco, muito pouco, para não dizer nada. Sou ignorante até dizer chega. Às vezes, como um cágado, até chego a enterrar a cabeça pela carapaça pela vergonha da minha ignorância. Juro, palavra de honra, que dou cada calinada que parece coisa do outro mundo. E se me convidassem por eu escrever no blogue? Bom, poderia ser, mas também…não sei, não! Acho que só escrevo vulgaridades. Só transmito o óbvio. Só relato a morte de alguém depois de ele morrer. Se ao menos adivinhasse uma qualquer tragédia eminente. Sei lá, imaginemos que era sensitivo e tinha uma intuição fora de vulgar, mas nada. Ora então, está visto que, se existisse, esse convite seria um desperdício. Não haverá gente muito mais qualificada? Ah, pois há!
Mas, continuando a especular, cogitemos que, por eu ser um tipo tão vulgar, tão vulgar, até me convidam mesmo e até me perguntam que tipo de programa faria eu? Então eu sei lá? Fui apanhado de surpresa, ora deixe-me pensar…
Se calhar, faria um programa semanal, assim de tertúlia, sempre sobre um tema “caliente”, como diz o meu compadre da horta do outro lado da antiga fronteira. Focaria essencialmente assuntos que dissessem respeito ao burgo, embora, naturalmente, a conversa fluísse para a política nacional. Como por exemplo, o metro ligeiro de superfície, e até, onde, poderia convidar alguém ligado ao falhado projecto que dá a Coimbra metros e metros de água pela barba.
Outro exemplo ainda, agora que o feitor da quinta do paço da 8 de Maio mudou, convidava o novo fazendeiro e metralhava-o (salvo seja, é claro!) com perguntas assim do género: “o senhor doutor desculpe, mas tendo em conta que o seu ex-chefe, há nove anos atrás, prometeu muito para a Baixa de Coimbra e não realizou nada, sobretudo para a sua revitalização social e económica, como a recuperação de edifícios e soluções para o comércio que estão há anos entranhadas entre a má vontade e o deixa correr –a ordenação da venda ambulante, o licenciamento sem custos de toldos, de publicidade, de reclamos luminosos, as crónicas licenças de utilização que a autarquia teima em onerar e complicar a vida a todos os comerciantes e em não acompanhar o espírito do legislador que seria no sentido de isentar todos os edifícios com uso comercial anterior a 1951 e no âmbito do REGEU, Regime Geral das Edificações Urbanas, etc,- e, no dia-a-dia, por quem cá anda, vê e sente o seu definhamento, o que pensa fazer o doutor Barbosa de Melo?
Irá o senhor presidente da Câmara Municipal de Coimbra, pela primeira vez, encomendar um estudo de urbanismo comercial no sentido de mostrar as lacunas de investimento e os excedentes de oferta na cidade? Esta carta-guia seria um indicador para novos investidores. Por outro lado, há perguntas, em relação ao presente e ao futuro, que exigem respostas urgentes para quem cá vive: QUE CIDADE TEMOS? QUE CIDADE QUEREMOS?
Sendo o comércio um motor de desenvolvimentos dos grandes aglomerados essencialmente no último século, porém, nos últimos 25 anos, devido à proliferação de grandes áreas comerciais, com a alteração dos costumes, nas novas formas de comprar, todo o conceito de comercialização foi alterado, o que pensa a câmara de Coimbra a este respeito? Terá em conta que o “velho comércio de sapatos e roupa”, por ser excedente, terá de ser planificado e obrigatoriamente terá de dar lugar a novos estabelecimentos de hotelaria, pequenas mercearias finas, alfarrabistas, casas de antiguidades e velharias? Saberá o novo inquilino do palácio de Santa Cruz que, dentro das possibilidades legais –que não são muitas-, deve obstaculizar –ou chamemos-lhe antes desmotivar- novas implantações de comerciantes chineses na Baixa, para que este Centro Histórico não se transforme a breve prazo numa “Chinatown” e, com isso, descambe num comércio descaracterizado, sem variedade e qualidade?
Terá o novo presidente em conta que a Empresa Municipal de Turismo –porque é uma empresa municipal- passará a incluir nos seus roteiros a visita guiada a estabelecimentos de reconhecido mérito comercial, e, sobretudo, tendo em conta os mais vetustos?
Será o novo economista Barbosa de Melo capaz de, enquanto parceiro estratégico da Universidade de Coimbra, sensibilizar a Reitoria no sentido de certas aulas se deslocalizarem para a Baixa, para que, pela primeira vez, para além, das festas académicas, os estudantes, com a sua permanência, possam constituir a matriz de uma nova ressocialização da zona histórica?
Será o novo prefeito municipal capaz de admitir que o planeamento de trânsito na Baixa e na Alta pode, actualmente, estar obsoleto e, efectivamente, não estar a contribuir para uma necessária revivificação destas zonas de antanho?
Saberá o novo homem novo da autarquia coimbrã que estará perante o conceito “rei morto, rei posto?”. Quer dizer que, para todos os efeitos, existe um tempo “antes” –de Carlos Encarnação- que, concorde-se e goste-se ou não, passou. Agora, perante o munícipe, há um “depois”, que é preciso dar resposta, e como o povo é esperançoso, naturalmente e comparando, espera muito mais de Barbosa de Melo. Ora este novo ocupante terá de vir dizer que “milagres” se poderá esperar da sua varinha mágica.
Ah, é verdade, se estivesse num programa de rádio deste género talvez lhe chamasse…”CONVERSAS POR UM FIO”!
1 comentário:
Se ainda não foi convidado... DEVIA SER!
Se já foi... DEVIA ACEITAR!
E o título do programa está perfeito, porque fica por um fio a pachorra do metralhado, com toda a certeza, e a um fio de sair porta fora, mas é o preço da liberdade de expressão e informação.
Acredito, sinceramente, que ninguém era mais indicado para um programa assim que o Luís, pela capacidade de ver os dois lados da moeda e explicar tão bem coisas que parecem tão complicadas!
Quando não apareçam os convidados, basta meter ao barulho a vidente de serviço, o repórter fotográfico e afins, e temos quorum!!!
E sim, o blogue conta para o terço que já não falta, mas o livro continua a ser sempre bem-vindo!!! ;-)
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