quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

BAIXA: FOI-SE UM DE NÓS

(IMAGEM DA WEB)


 Júlio Mendes foi um estimado comerciante na Rua de Sargento-mor. Até há poucos dias todos os vizinhos puderam sempre contar com o seu apoio e solidariedade no seu minimercado Mendes. Hoje, talvez pelo desígnio do destino, foi separado da comunidade. O Júlio, com 58 anos, morreu esta noite de doença fatal; dessa moléstia que anda por aí a minar os humanos.
Eu conhecia o Mendes há mais de vinte anos, mas não tinha grande noção da sua forma de interagir com os mais chegados, sobretudo nos confinantes ao seu estabelecimento. Vou então interrogar alguns vizinhos. Como é que era o Júlio?
“O Júlio, pá, era um espectáculo –está bem que depois de morrermos todos somos boas pessoas. Mas, aqui, não é isso que quero dizer. O Mendes era uma pessoa boa, entendes? Era porreiro. Dava-se com toda a gente. Era amigo do seu amigo. Era uma pessoa disponível”, enfatiza um comerciante seu vizinho, com algum pesar na voz por ter sido surpreendido com o seu precoce desaparecimento.
Já agora outra vizinha, com loja quase ao lado, como era o Júlio? Interrogo.
“Era excelente! Era um trabalhador nato, daqueles, como nós, que levaram a vida a lavrar e a semear no comércio para que nada faltasse aos seus. E por serem tão boas pessoas acabam por fazer parte de nós. É como se fossem da nossa família. Era um sujeito bem disposto. Quase todos os dias, a meio da manhã, quando estava a comer uma sandes, vinha à porta e gritava: “ó vizinha, é servida do meu mata-bicho?”.
Continua a comerciante, “é evidente que o ser bom camarada são apenas pormenores, mas, diga-me, não é verdade que a nossa vida é feita de momentos e de pequenas coisas? Não são esses “comezinhos” que todos nós guardamos em memória de alguém? Afinal, o senhor Júlio, como tantos de nós, que lutamos todos os dias para sobrevivermos, era um herói anónimo que se não deixa o seu nome perpetuado numa rua, tenho a certeza, deixará uma boa recordação em todos nós que tivemos o grato prazer de conviver com ele aqui na Rua de Sargento-mor”, enfatiza esta minha amiga comerciante desta rua.
À família enlutada, nesta hora difícil, resta apresentarmos em nome de todos, particularmente dos seus colegas comerciantes, as nossas sinceras condolências.

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