São 17H00, junto à Câmara Municipal de Coimbra uma mulher, sentada sobre a calçada, de aspecto misterioso onde não faltam uns óculos escuros e um xaile preto, ostenta um cartaz: “VIVO SEM ÁGUA”.
Questiono, posso tirar-lhe uma foto? É para publicar num blogue que fala sobre a Baixa. “Pode, claro, mas deixe-me compor que quero ficar bem parecida na fotografia”, ao mesmo tempo, puxa o xaile sobre a cabeça e ajeita os óculos sobre o nariz.
-Como se chama? Interrogo.
-Maria do Rosário…
-Então –volto a perguntar- conte-me, o que se passa? Porque está aqui?
-Cortaram-me a água…estava com um contador de obras…
-Onde mora?
-Moro no edifício do antigo colégio Portugal, na Sé Velha…
-Onde eram os desaparecidos “Móveis Pereira”, não é? Inquiro em forma de ajuda.
-Sim, é aí mesmo.
-Então e porque lhe cortaram o contador? Certamente avisaram-na antes, de que não poderia continuar assim…
-Pois…o problema é que disseram…mas fui para férias, e agora deparei-me sem água.
Eu comprei uma casa certificada…mas não tenho a certificação da água. Quando a pedi desapareceram os documentos na câmara…
-Mas já tratou do assunto, indago, já fez novo contrato, certamente…
-Sim, já fiz, mas só amanhã é que me vão colocar lá um contador…e até lá estarei sem água…
-E, diga-me, o que espera deste seu protesto…o que a move?
-Estou aqui porque acredito em princípios…e estes foram violados…
Amanhã, logo pelas 8 horas, e até que me seja restabelecida a ligação, estarei aqui…
Acho que, nestas coisas, entre as instituições e o cidadão, há muita desumanidade e desonestidade…
-Está ressabiada com a forma como foi tratada…é por isso que está aqui? Interrogo.
-Não. Estou fria…estou ferida…só isso!


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