quarta-feira, 15 de setembro de 2010

OS JORNAIS LOCAIS VISTOS À LUPA PELO "OLHO DE LINCE"



 Estava eu ontem descansadinho sentado no auditório do Instituto Superior de Engenharia do Porto, a fazer a reportagem da passagem do primeiro-ministro, José Sócrates e do ministro do Ensino Superior, Mariano Gago, quando de repente, ai minha nossa Senhora dos Aflitos! Inesperadamente, irromperam pelo palco três estudantes a quererem entregar uma medalha ao meu amigo Mariano. Alegavam eles que era uma justa homenagem “por fazer com que Portugal seja o país da Europa onde as famílias mais gastam com a educação”.
Perante aquilo, a fazer lembrar o protesto de Alberto Martins, em 17 de Abril de 1969, na Faculdade de Matemática, em Coimbra, em que este pediu a palavra ao então Presidente da República Américo Tomás, eu fiquei branco como a cal da parede. Eu nem sabia se havia de olhar para os estudantes, se para o meu amigo “Zé” Sócrates, se para o Mariano, que apesar de ser Gago de apelido, acho que ficou mais titubeante que o Albertino “Já-já-já-lá-vou”.
Não deixa de ser curiosa esta manifestação. Dá que pensar. Não sei se conseguem acompanhar o meu estonteante raciocínio. Hoje, apesar de todas as variantes societárias, não tem nada a ver com os tempos idos do autoritarismo do Estado Novo. Que saberão estes jovens estudantes da liberdade? Conhecem-na? De onde? Pelo nome, parece, é uma mulher. Pois! Mas, para estes rapazes que não enxergam o outro lado, esta libertina, que convivem todos os dias, é uma fêmea boa de perna aberta. Nunca se embrulharam com outra: aquela liberdade, aquela velha, desconjuntada, de pêlo na benta, que cheira a mijo e só toma banho de ano a ano. Que quando fala, ou melhor tartamudeia, mostrando uma boca desdentada e mal amanhada, lança um odor fétido mais intenso que a fábrica de Cacia. Ora, aí é que está, se estes jovens conhecessem esta velha e, no mínimo, já tivessem levado dela um sopapo de mão cheia a cinco dedos, até deteriam alguma força moral para o protesto, assim não. Bem sei que sou um velho, que já comeu cornos de boi e solas de sapatos para matar a fome, e, talvez por isso, me sinta um pouco desenquadrado deste tipo de manifestações. É assim uma espécie de fumo sem substância de fogo. É uma gordura balofa, sem ser consubstanciada numas boas tainadas ali no “Zé Neto”, na Rua das Azeiteiras. Não sei se estou a ser claro. Se calhar não. Também não admira, para o ser, teria de ter talento, e não tenho.
Por outro lado, não deixando de ser caricato, precisamente por ser o Partido Socialista que está no governo, sendo justos, é legítimo estes jovens protestarem? Claro que é! Têm tanto direito como o teria Alberto Martins em 1969. Todos sabemos que a evolução é feita através do dissenso. Para se chegar ao estádio de desenvolvimento que se atingiu nos nossos dias –mesmo não sendo perfeito, jamais o será- teve que se calcorrear muitos caminhos de escolhos. Por muito que custe aos governos é através da reivindicação social que, através da negociação política, se alcança um patamar melhor e a contento de todas as partes.
Estava eu então a ver tudo isto, e a pensar que não é fácil de ser governo quando todos querem fruta e não há nem sequer um limão para distribuir, quando toca o meu telemóvel.
-Alô, “Olho de Lince”?... por onde é que você anda, sua besta? –era o cabrão do meu director lá do blogue a dessincronizar-me o juízo. Filho da mãe…
-Ó senhor director, tenha tento na língua, se faz favor, que eu não sou da sua família…
-Deixe-se de merdas, ó “Olho de Lince”, você está armado em quê? Em bom…é? Para mim vem de carrinho…onde é que está? Responde ou é preciso meter um requerimento?
-Ó chefe, se você tem Alzheimer isso não sei. O que sei é que você mandou-me para o Porto cobrir as actividades do Governo –que aliás, já ando desconfiado…anda a bater-se às boas graças do Sócrates…não? Talvez espere uma “subvençãozita”, sei lá, uma publicidade lá no blogue…é isso não é, ó seu caramelo?
-Olhe lá, ó “Olho de Lince”, que confiança é essa?...Sou o seu patrão…esqueceu…esqueceu?
-Não, não esqueci. Sobretudo os ordenados em atraso que me deve há mais de um ano…
-Lá vem você com a mesma conversa entaramelada…
Faça o favor de regressar imediatamente a Coimbra!
E lá vim eu de comboio, e apresentei-me na sede do jornaleco.
-Olha o “Olho de Lince”, meu querido amigo, meu camarada, atira-me o Luís Fernandes, e envolvendo-me num forte abraço –shô…shô…que é isto? Ai o raio da puta velha…está para me lixar, de certeza absoluta.
-Ó “Olho de Lince”, eu precisava que você fosse espiolhar a concorrência, os dois jornais da cidade…está a ver? O Diário de Coimbra e o Diário as Beiras…
-Mas, espiolhar como? Ler os jornais? Porque é que você não faz isso? Ah, pois…não sabe ler! -e atirei uma forte gargalhada que até ia fazendo parar a redacção.
-Sim, leia os jornais de hoje e faça-me um relatório completo. Virtudes…fragilidades…futuro…está ver? Você é bom nisso…
-Ó chefe, mas chama-me você a todo o vapor por causa disso? Eu dava-lhe as conclusões pelo telefone. Até porque já li os dois jornais hoje…
-Ai já? E o que lhe parece a edição de hoje? Diga…diga…-ao mesmo tempo que se ia chegando outra vez a mim. Mau…mau!
-Ó chefe, começando no Diário de Coimbra, acho que, apesar de ser o meu jornal de eleição, está perder-se nas entrelinhas…
-“Entrelinhas”…que é isso? Faça o favor de ser claro…
-É assim chefe, vira-se para as grandes notícias de título e deixa as minudências –é assim como a Rosete, a nossa jornalista-estagiária que você anda a comer. A gaja é boa, você sabe melhor do que eu, mas quando a gente olha fica logo preso naqueles brutais melões todos à mostra, que apetece apalpá-los…está a ver? Valia mais a rapariga ser um pouco mais recatada e mostrar outras qualidades ocultas…está a perceber?
-Não, nada mesmo!
-O que quero dizer, chefe, é que, por exemplo, ontem na reunião do executivo, passou-se lá muita coisa, um munícipe a acusar a autarquia de “tráfico de influências”. Por exemplo, cá fora, no átrio, estava uma senhora a protestar com um cartaz…ora no jornal de hoje não vem nada. O que aparece em grande plano é apenas o título: “Referendo em Coimbra vai decidir horários dos hipermercados”. Não sei se está a fazer a analogia com as mamas da Rosete…
-Então….mas…não estou a ver. Certamente virá publicado amanhã…
-Pode vir, chefe, mas já não é a mesma coisa. Que, se for publicado e se tomarmos em conta o habitual, só vem uma coisita por outra. Ora o público-leitor precisa de saber tudo o que se passa ali. Aquilo é um laboratório social. É o pulsar do povo…as suas angústias…os seus sonhos não realizados, tantas vezes pela incompreensão político-partidária…
-Fogo, ó “Olho de Lince”, apesar de você ter um aspecto de pileca lazarenta, às vezes, consegue surpreender-me. Vou mas é mandar este seu relatório para o meu amigo Adriano Lucas…o que você está dizer é muito importante. Sim, senhor!
-E o que tem a dizer sobre o Diário as Beiras?
-Ó chefe, os problemas são idênticos, é a mesma coisa. Desculpe a franqueza, mas o Diário as Beiras teve sempre um problema congénito: nasceu e viveu sempre à imagem do pai…do Diário de Coimbra. Não sei se está ver…uma espécie de complexo de Édipo mal resolvido…
-Interessante…nunca tinha pensado nisso…continue!
-Atente no grafismo do jornal…bonito, sem dúvida –faça outra vez analogia com as mamas da Rosete. Parece-me haver uma preocupação imensa em que os articulistas sejam de renome mundial…de caserna, daqui do burgo, não sei se está compreender?!
Políticos partidários e mais políticos a escrever no jornal que até chateia.
Vira-se muito para a zona metropolitana…Soure…Mealhada…Figueira da Foz…Oliveira do Hospital… Viseu…Leiria…mas nós não temos zona metropolitana! Além disso, publica o que se passa lá e não liga ao que se passa aqui –não sei se está ver… é como eu a dar conselhos sobre Finanças Públicas…e as minhas estão todas rotas!
Sabe o que lhe digo chefe? Aposto que dentro em pouco tempo este jornal estará transformado em Semanário…
-Deixe-se disso, homem de deus! Você parece aqueles brinquedos de lata antigos…dão-lhe corda e nunca mais páram. Fosca-se! É preciso paciência para o aturar! Valha-me o santo!










2 comentários:

Jorge Neves disse...

GOSTAVA MESMO DE SABER O PORQUE DAS NÃO NOTICIAS DOS JORNAIS LOCAIS.
QUAL O MOTIVO?
AMORDAÇADOS?
NÃO EXISTE LIBERDADE?
ESTÃO AO SERVIÇO DO PODER?
SE NÃO QUEREM FAZER NOTICIA ESCRITA, PELO MENOS UMA FOTO, AS IMAGENS TAMBEM FALAM E MUITO.

Sónia da Veiga disse...

Só não percebe o seu raciocínio quem ainda anda de palas nos olhos e a tapar o Sol com a peneira...

Quanto aos estudantes, tremo de pensar que retaliação terão de enfrentar, considerando que jornalistas que criticam o Governo não conseguem emprego e o presidente do Sindicato da PSP ter sido suspenso após o pré-aviso de greve na altura da cimeira da NATO...

Quanto aos jornais, realmente, como cidadã de Coimbra, gostaria de saber o que saiu da assembleia, mas conto com o blogue em questão para me esclarecer, especialmente depois da sua senda para conseguir lá comparecer!!!
Mais depressa aqui clico na ânsia de notícias, que abro o DC (o DB nem conheço, não fomos devidamente apresentados...).