domingo, 31 de julho de 2022

MEALHADA: A POLÍTICA CÁ POR CASA…





Num comunicado plasmado ontem à noite na página do Movimento Independente Mais e Melhor, no Facebook, ficámos a saber que esta força política, que ganhou a Câmara Municipal nas últimas eleições autárquicas na Mealhada, reuniu com Guilherme Duarte, novo presidente nomeado há cerca de um mês pelo Governo para dirigir os destinos da Fundação Mata do Bussaco (FMB) durante os próximos cinco anos. Relembra-se que o agora escolhido, foi ao mesmo tempo, durante oito meses, de Fevereiro a Setembro do ano passado, ex-vice-presidente da edilidade e presidente interino da FMB em regime “pro bono”, trabalhar para o bem, sem retribuição, designado por Rui Marqueiro, presidente da Câmara Municipal, na altura. A partir de Setembro de 2021, por o Partido Socialista ter perdido as eleições, sem salário de autarca, durante dez meses, ficou apenas com o ordenado de professor, vinculo a que estava adstrito ao Ministério da Educação.


MÁS LÍNGUAS


Dizem as más línguas, do costume e do contra, obviamente, que Marqueiro, que nunca tivera uma amizade por aí além pelo indigitado, pensando que a vitória estava no “papo”, ao remeter Guilherme para os confins da serra, longe da vista, longe do coração, por um lado, livrava-se de um “empecilho”, por outro, ficava bem na fotografia social.

Mas o destino é como uma faca que só tem um gume visível mas o outro não pode ser escamoteado e, a qualquer momento, numa total imprevisibilidade, pode surpreender o mais precavido. E foi o que aconteceu. De repente a casa política, estruturada num só homem vencedor, logo aceite tacitamente pelos seus pares sem revolta mas à espera da oportunidade do momento certo, caiu com estrondo, e com o fragor arrastou tudo. Como o vento que veio de longe e sopra perto com ferocidade, levou as amizades interesseiras e temporais de ocasião. Com a perda de poder de facto, afastou as moscas que voavam no círculo mais restrito e, nos dias que decorrem, politicamente, o outrora homem forte, bem assessorado e apaparicado, é hoje um homem sem exército, abandonado e sozinho, que, no balanço entre o bom e o mau, vale apenas pela marca que deixou no concelho nas últimas três dezenas de anos.

À frente da Concelhia do Partido Socialista- Mealhada desde 2009, alegadamente, será o resultado de uma gestão de longo-prazo, partidária unipessoal implantada na vertical, de cima para baixo, sem ligar aos “aparelhistas”, da base. E isto não é recente, já começou em 2013, com nomeações pouco ortodoxas – lembremos o caso da freguesia de Luso -, em que os preteridos, de arma em punho na barricada, aparentemente em “banho maria” mas totalmente alertas para, na altura certa, desferirem a palmada sem mão, só esperavam a sua queda. E, inevitavelmente entre o alho e o reviralho, o momento aconteceu.

Embora já afirmasse recentemente em reuniões de Câmara Municipal que “é muito provável que tenha de abandonar a vida política, pela minha saúde e a da minha mulher… e o seu contrário: “Se me querem calar, tirem o cavalo da chuva. Eu vou estar cá quatro anos”, é mais que provável Marqueiro, por falta de apoios internos, do partido, e externos, do povo que o elegeu, não aguentar o cumprimento do mandato.

Além de mais, mesmo fazendo parte da Comissão Política Nacional do PS, em Novembro, próximo, vai haver eleições para a Federação Distrital de Aveiro. Por conseguinte, se não deixar a concelhia nos próximos quatro meses por sua livre vontade, mais que certo, vai ser pressionado para renunciar. E esta falta de averbamento será a primeira “cambalhota” pessoal dentro do ciclo pós-eleitoral.

Mas não se pense que o ex-presidente camarário, que, no desempenho político, só olha olhos-nos-olhos quem o confrontar se for do mesmo grau, vereador, ou superior ministro, entrega o jogo facilmente ao adversário. Reconheçamos com admiração mais que merecida, Marqueiro, com a sua aparente pose humilde e pouco carismática – que ainda há pouco tempo em sessão de Câmara afirmou “Eu tenho uma mágoa na vida: fui acusado de ser desonesto. (…) Eu tenho uma vida de impoluto; a minha fortuna resume-se a cento e tal mil euros. Pode ver a declaração no tribunal.” - para além de não temer o confronto político e ser persistente nas suas intervenções, concorde-se ou não, é um político de rara coragem. Quem assistiu à última reunião de Câmara através de “streaming pode ver, no período atribuído ao público, um munícipe, de “peito-feito”, alegando ter sido destratado, intervir para lhe pedir explicações. Numa revira-volta argumentativa digna de registo, o chefe da oposição pareceu colocá-lo no seu lugar e o cidadão retrocedeu, quase pedindo desculpa.


LER NAS ENTRE-LINHAS DO COMUNICADO DO MIMM


Nitidamente, o comunicado emanado do Movimento Independente Mais e Melhor, presumidamente, pretende acentuar as clivagens políticas, e, mais que certo, até pessoais, já existentes entre Guilherme Duarte, presidente da Fundação Mata do Bussaco, e o ex-”maire, agora líder da oposição na Câmara Municipal. Relembramos que, mesmo sendo os dois filiados e companheiros de estrada no PS, na última reunião Marqueiro mandou umas farpas subtis ao seu correlegionário.

Embora a mensagem esteja assinada pelo MIMM, implicitamente, é subliminar a ressalva vincada da contradição das declarações feitas e, claramente, estamos perante um recado de Guilherme Duarte para Rui Marqueiro: Não venhas com um navio de promessas novas que a minha faina mudou.

É como se, inexplicitamente, o presidente da FMB aproveitasse a boleia para, sem falar directamente, dizer o que pensa sobre o seu ex-chefe hierárquico.

Por outro lado, a meu ver, o MIMM quer forçar a Concelhia do PS, presidida (ainda) por Marqueiro a sair do mutismo, do estado comatoso, onde se encontra há cerca de nove meses e a ganhar nova vida.

 

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