sábado, 23 de julho de 2022

NOVO MERCADO DA MEALHADA: SACO SEM FUNDO OU UMA OPORTUNIDADE?




Ao primeiro olhar a sua imponência volumétrica impõe-se e estranha-se. Por momentos, damos por nós a pensar que é um monstro de cimento a conspurcar a paisagem.

Damos uma volta, à sua volta, e a leveza da arquitectura paulatinamente entranha-se. Espreitamos através dos vidros e verificamos, com agrado, o seu arejamento saudável e complementado pela sua total exposição à luz solar e pouca dependência de energia eléctrica. Com mais uma circulatura em volta da área rectangular do edificado, estamos rendidos à sua beleza impressionista e moderna.

Aparentemente tudo parece pronto para cortar a fita da inauguração. Quer lá dentro do prédio, quer cá fora na área circundante, não se avista vivalma, como quem diz, qualquer operário a reparar seja o que for. Só o silêncio nos acompanha nesta empreitada de “espreita” e faz-nos sentir nefastos invasores de uma quietude quebrada.

No exterior, cerca de meia-centena de lugares de estacionamento, e onde será realizada a feira semanal, esperam a sua ocupação.

No interior, com uma área coberta de aproximadamente 2000 m2, ao longo de toda a superfície visível pelo olhar, cerca de quatro dezenas de bancas individuais, apetrechadas com tudo do mais contemporâneo, para assegurar o asséptico, livre de germes, e a adivinhar o cheiro a novo, esperam os pequenos produtores do concelho. E também com dois alinhamentos de bancadas fixas, permitindo a existência de 80 mesas de venda", in Bairrada TV.

A Norte, a Sul, a Nascente e a Poente, em torno do palco de gentes, operadores e clientes que se adivinham, entre espaços administrativos, 16 lojas aguardam novos locatários.


PERGUNTAS QUE NOS ASSALTAM


1ª CONSTATAÇÃO


Sem fazer juízos de valor sobre a construção do novo mercado, quer no investimento, quer na localização – neste momento são externalidades, como quem diz, discussões estéreis -, sabe-se que o que está na origem deste projecto de implantação foi o facto do proprietário do terreno, onde funciona actualmente a velha praça junto à Igreja de Santa’Ana, a Santa Casa da Misericórdia da Mealhada, reivindicar a sua posse para ali construir uma valência geriátrica.

Em péssimas condições de alojamento, em chão de terra-batida, funciona apenas ao Sábado e, presumivelmente, com uma vintena e meia de pequenos retalhistas, entre fornecedores de “comida de rua” e pequenos produtores e intermediários.


2ª CONSTATAÇÃO


Com um concelho com cerca de vinte mil habitantes, a cidade da Mealhada detém actualmente duas médias superfícies: o Intermarché e o Lidl. A curto prazo um novo operador, o Continente e, ao que parece, a médio-prazo o Aldi.


3ª CONSTATAÇÃO


Tal-qualmente como outras pequenas cidades do Interior e Litoral, o comércio local, de rua, dito tradicional, na Capital do Leitão, no momento em que escrevemos, alegadamente, em resultado da uma procura rarefeita e incipiente, é pouco pujante a nível de oferta.


PERGUNTAS


Sem se saber nada acerca do Regulamento do Novo Mercado, interroga-se:


a) Pelos valores do investimento, mais de dois milhões de euros cabimentados, 2,148,000 € (mais IVA), o novo edifício comercial vai ter de funcionar todos os dias, de Segunda a Domingo, em regime de condomínio fechado, com um horário entre as 8 e as 19h00, certo? Ou errado?


b) Onde se vai contratualizar mais de uma centena de operadores para preencher os espaços disponibilizados? De que forma se vão conseguir receitas para amparar o seu funcionamento?


c) Perante a concorrência desenfreada que se adivinha, com custos acima da média, se não enveredar por uma linha inovadora, diferente de tudo o que se fez até agora, vai o novo Mercado Municipal aguentar-se? Se sim, durante quanto tempo?


INOVAÇÃO PRECISA-SE COMO PÃO PARA A BOCA


Num tempo em que tudo parece já inventado, e não é fácil ser-se original seja lá no que for, haverá alguma forma de, através de novos conceitos comerciais, criar no novo Mercado Municipal uma exclusividade, uma atractividade, única e singular, que faça convergir visitantes do país inteiro para a Mealhada e assim engrandecer em sinergias a riqueza local?


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