(Foto retirada com a devida vénia da página de Rita Osório, no Facebook)
“Mais do mesmo até
que as autoridades competentes façam alguma coisa”
“E todos os dias é o
mesmo... Além do mau cheiro é a falta de educação que têm e o mau
aspecto que assusta as pessoas... Infelizmente ninguém faz nada” -frases retiradas do Facebook.
O
caso dos vadios que permanecem sentados na via pública, na Rua da
Sofia, e que já há meses tem resvalado para os queixumes, como estes em epígrafe, por parte dos comerciantes e hoteleiros daquela via
classificada, pela Unesco, como Património Mundial, como não tinha
nadinha que fazer, deu-me para escrevinhar umas larachas de
pouco interesse:
1
-Não
sei se deveria estar a meter-me neste assunto, mas, como sou
metediço, não resisto a enfiar a colherada.
Começo com umas
ressalvas: não sou polícia, não tenho especial simpatia pelos
membros do grupo de que se fala, nem percebo nada de direito. Mas,
com todo o respeito pelas opiniões de outros, tenho uma coisa: quando estou
mal, ou alguém me incomoda, trato directamente do caso. Como quem
diz, começo por tentar sozinho resolver as coisas através do
diálogo. Não dá? Não consigo? Se é assunto que interfere com
vizinhos, formo um grupo e, juntos, vamos tentar desbloquear a
situação. O grupo não consegue nada? Em seguida, escrevo às
entidades competentes -ou apresento queixa. Estas não respondem?
Sobretudo quando é assunto respeitante à cidade, apresento-me
pessoalmente a pedir explicações para a inércia ao responsável
administrativo. Não dá? Apresento o caso à entidade política que
a superintende -vereador do pelouro, por exemplo. Não resolve? Tenho
várias saídas: apresento-me na reunião do executivo municipal, na
primeira reunião mensal, e cara-a-cara, digo o que me vai na alma.
Continua tudo na mesma? Vou à Assembleia Municipal. Não resolve?
Todos os meses me apresento no executivo com o mesmo propósito até já
não poderem olhar a minha cara.
Pareço-lhe arrogante? É
verdade, sim, sou mesmo. Se calhar até pior do que isso. Mas uma
coisa lhe garanto: esta táctica dá frutos. Ao longo da última década fiz isto e algumas vezes, quase sempre, resultou.
Pareço-lhe que tenho a
mania da superioridade? Tem toda a razão. Tenho mesmo -só para
disfarçar o sentimento contrário. Deixe lá! Mas, passando a
imodéstia, não tenho só isso. Conduzo a minha vida por dois
princípios: chamar a mim a mudança e ser justo.
O primeiro,
significa que a mudança do mundo começa em mim. Ou seja, não
estou à espera que os “outros” -uma massa abstracta que
não se sabe quem é nem quem são- resolvam um problema que é meu e
de muitos mais. A revolução começa em nós. Demos nós o primeiro
passo e outros nos seguirão.
O segundo, ser
justo, quero dizer que não critico as autoridades, policiais ou
políticas, sem ter a certeza de que estou a ser recto -imparcial,
sobretudo para os políticos. Para além disso, quem me lê sabe que
é assim, subjacente à crítica, em contraposição, apresento sempre uma
solução que, a meu ver, me parece mais indicada. Isto é, não
censuro apenas por censurar.
2
-Depois desta
investida dura, e que está carregada de cagança, presunção e água-benta sem ser benzida, duvido que alguém continue a ler este
desabafo. Mas como escrever não paga imposto, não tenho absoluta
necessidade de alguém ler os meus gatafunhos, vou fazer de conta que
você até está todo embalado e vou continuar.
E nada melhor do que
fazer perguntas:
1.ª questão:
identificar a acusação.
Um grupo de seis
pessoas, mal-cheirosas, mal-vestidas e fisicamente mal-apresentadas,
acompanhadas de vários animais, permanecem durante o dia sentadas
num passeio público a beber vinho, e, por vezes, pedem moedas.
Dissecando a queixa com interrogações.
À LUZ DA LEI:
A) -Pode proibir-se um grupo de
pessoas, mesmo emporcalhadas e assumidamente a cheirar mal, de permanecer na via
pública?
B) -Pode proibir-se um grupo de
pessoas, pelo facto de beber vinho, de permanecer na via pública?
C -Pode proibir-se um grupo de
pessoas, por praticar a mendicidade, de permanecer na via pública?
D -Pode proibir-se um grupo de
pessoas, por estar acompanhado de animais, de permanecer na via pública?
Quanto a
mim -repito que não percebo nada de direito-, nas três primeiras
premissas, ainda que esteja em causa o desvio da moral e da ética, a
lei não contempla nenhuma sanção -aliás, a implicância
desmesurada por parte das autoridades para o grupo pode vir a gerar
problemas sérios para a polícia -a Amnistia Internacional adora
estas intervenções policiais.
Já na
quarta premissa, no tocante aos cães de acompanhamento, podem as
autoridades averiguar se os animais estão vacinados e não expostos
a maus-tratos.
Então,
imaginemos, a PSP, acompanhada pela autoridade veterinária, actua
em função da salvaguarda dos irracionais. Verifica-se que não está
tudo em conformidade com os animais e aplica-lhes uma coima, ou, no
limite, retira-lhes os acompanhantes. Resolve o problema da exposição
pública destes vadios? Creio que não, porque, no dia seguinte os
maltrapilhos apresentam-se e instalam-se no mesmo local mas
sem os companheiros de quatro patas. E o “quid pro quo”,
tomar uma coisa por outra, subsiste.
Então, a
ser assim, é preciso atacar o problema de outro modo.
Voltamos às perguntas: estas pessoas instalam-se ali, exactamente
naquele local, porquê?
-Adoram
a Rua da Sofia?
-Os
comerciantes e residentes gostam mais delas que chocolate? E os
carinhos são tantos que nem sabem onde os colocar?
Não
senhor. Nada disto. Este grupo permanece diariamente ali,
precisamente naquele sítio, porque a loja está encerrada e o seu
espaço em frente às montras está devoluto e pronto a ser ocupado.
Então o que é preciso fazer? Através da Câmara Municipal -esta
servindo de mediadora- contactar o proprietário do estabelecimento
e, nem que seja temporariamente com uma associação, dar vida ao
espaço comercial. Imediatamente o grupo zarpa dali.
Dá um
bocado de trabalho? Pois dá. É preciso tocar os serviços da
edilidade como se toca um burro de carga a subir a montanha? Pois é!
Mas, verdadeiramente, se querem resolver o problema têm mesmo de o
tomar em mãos e, juntos, chamá-lo como interesse de todos.
Continuar
a chutar a bola para canto -para os outros-, e acusar as autoridades
de nada fazerem, a meu ver, não resolve nada.
1 comentário:
Meu caro, até conheço uma Associação porreirinha para ocupar o espaço, ainda que temporariamente :
Aquele abraço!
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