(Imagem da Web)
Meu
caro amigo “Tony” Costa, sinceramente, espero que esta
minha carta te vá encontrar bem de saúde e com os mesmos cabelos
brancos que entraste para o Governo.
Como já há um tempito
que não te enviava uma cartita pessoal, para que não te
esqueças cá do rapaz -até porque, como sabes, as eleições estão
à porta e, como o comércio tradicional já foi, estou a precisar de
emprego -não de trabalho, que isso já tenho, cansa e provoca-me
ciática. Pode ser qualquer coisinha leve, sei lá, para teu
assessor, a atender o telefone no ministério, ou talvez, porque
não?, escrever a tua narração de vida. Sem grande modéstia, sou
bom a escrever histórias de vida.
Decidi
enviar-te esta missiva por tudo e pouco
-bem sei que não sentes grande saudade da minha escrita, até
adivinho que quando recebes o envelope e vês o remetente, mesmo
antes de o abrires, começas a arranhar na cabeça e pensas logo:
“mau, mau! Lá vem o gajo azucrinar a minha tranquilidade.
Daqui, não se espera nada, ou é fado ou canelada. Para isso já me
bastava a Catarina e o Jerónimo.”
Por
tudo, poderia falar-te do desmesurado aumento dos fogos que
incendeiam o país, da tentativa falhada de aumentar o IMI, Imposto
Municipal sobre Imóveis, da embustice continuada do Metro Ligeiro de Superfície, do teu empenho em cumprir a palavra
eleitoral de baixar o IVA para a hotelaria, mas, em contraposição,
não honras a promessa do Estado, dada pelo anterior governo, de
aumentar as rendas antigas a partir de 2017, como se percebe,
respeitas e dás mais valor ao partido que ao Estado -não precisas de
te desculpar com os partidos-muleta onde te apoias. Se queres ser um
grande estadista, perante o povo que representas, tens obrigação de
te demarcares. Mesmo que te custe o esfrangalhar da aliança. Pela
tua dignidade e futuro político, não te podes deixar enrolar em
teses marxistas-leninistas -sabes melhor que eu que os teus aliados,
pelo centralismo em cúpula e desprezo pela sociedade privada, têm
uma visão deturpada do Estado. Se permites a sugestão: tomas
atenção ou sais mais chamuscado desta troica que os montes e
vales da Serra de Monchique.
Por
pouco, mas que me parece demasiado, Tony, gostava de falar-te
da teia emaranhada que foi armada ao camarada “Manel da Pera”
-não estás a ver quem é? Não me digas, homem de Deus, que não
te lembra alguém? Bem sei que ele não foi teu apoiante no Congresso, deu o seu
voto pelo “Toino” Seguro, mas isso já lá
vai. Que diabo, já devias ter esquecido isso! Não recordas mesmo?
Tens a certeza? Não sejas casmurro e ressabiado, carago! É o Manuel
Machado, o presidente da Câmara de Coimbra. Já estás a ver?
Óptimo.
Ó
pá, foi com a mais completa surpresa que li ontem no jornal Público
que a “forma
apagada como tem gerido o município” prejudica o PS e corre o
rumor de que há outros nomes a serem testados”.
Aquilo caiu mal de mais, Tony. Cheira mal, ou melhor, fede a fossa malcheirosa. O
odor de internas guerras de poder no Partido Socialista invadiu ontem
a cidade. Só se viam máscaras no nariz.
Antes
de continuar, Costa, gostava de fazer uma ressalva, não sei se sabes
mas nem eu nem ele, juntos, damos uma volta num dos novos autocarros
adquiridos para os transportes colectivos. Não sei se estou a ser
claro, o que digo é que não voto nele, no entanto, isso não quer
dizer que, enquanto presidente da minha cidade, eleito por sufrágio
universal, não o considere como um dos nossos e lhe dê pancada
verbal ou, em antítese, não o respeite e defenda quando entender.
Prosseguindo,
escrevia eu, Tony, que mesmo já depois das declarações noticiadas
na imprensa de hoje, apressadas e atabalhoadas, da camarada Ana
Catarina Mendes a dizer que vem hoje à noite a Coimbra “para
anunciar, junto do líder da federação distrital e mais autarcas do
distrito, que a direcção do partido quer a recandidatura de Manuel
Machado à presidência da Câmara Municipal de Coimbra” o mal
está feito. É uma desconsideração clara para o “Manel da
Pera”. Isto não se faz! Dá a parecer que, para além das
guerras internas de divisão do poder no partido, que saltam à
vista, mostras assim que só tens apreço pelo “yes-man”,
por aquele que dobra a espinha à tua passagem, mesmo que seja
hipocritamente. Por outro lado, empregas na cidade a mesma tática
que o PSD está fazer com João Paulo Barbosa de Melo, o anterior
líder da autarquia. O PS e o PSD, servem-se das pessoas e depois de
as usarem, como lenço de papel, jogam-nas fora. Não gosto disso,
pá! Haja respeito pela política, sobretudo por aqueles que,
sacrificando um pouco da sua vida, se dedicam à causa pública -bem
sei que estás a estranhar eu escrever isto quando tantas vezes
apregoo cobras e lagartos contra alguns dos vendilhões do poder.
Tudo é preciso, Tony.
Põe-te a pau, Costa! Se
não tens cuidado, ainda perdes a Praça 8 de Maio para um general
laranja. Não te ponhas com fífias, armado em Bonaparte das
Beiras. Não te iludas pelo assobiar dos passarinhos. Não esqueças que
o apoio do camarada Marcelo é como o vento. Quando tu menos
esperares muda para sentido contrário -não lhe contes isto, que eu
não quero problemas, e ainda posso precisar dele. Por tudo e mais
alguma coisa, é melhor apostares no certo. Quem te avisa teu amigo
é...
Para terminar, Tony, já
reparaste que eu dava um bom assessor do teu séquito? Vê lá isso!
Um abraço apertado cá
do rapaz, e até um dia destes. Qualquer coisa é só ligares.
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