sexta-feira, 9 de setembro de 2016

CARTA AO CAMARADA COSTA

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(Imagem da Web)





Meu caro amigo “Tony” Costa, sinceramente, espero que esta minha carta te vá encontrar bem de saúde e com os mesmos cabelos brancos que entraste para o Governo.
Como já há um tempito que não te enviava uma cartita pessoal, para que não te esqueças cá do rapaz -até porque, como sabes, as eleições estão à porta e, como o comércio tradicional já foi, estou a precisar de emprego -não de trabalho, que isso já tenho, cansa e provoca-me ciática. Pode ser qualquer coisinha leve, sei lá, para teu assessor, a atender o telefone no ministério, ou talvez, porque não?, escrever a tua narração de vida. Sem grande modéstia, sou bom a escrever histórias de vida.
Decidi enviar-te esta missiva por tudo e pouco -bem sei que não sentes grande saudade da minha escrita, até adivinho que quando recebes o envelope e vês o remetente, mesmo antes de o abrires, começas a arranhar na cabeça e pensas logo: “mau, mau! Lá vem o gajo azucrinar a minha tranquilidade. Daqui, não se espera nada, ou é fado ou canelada. Para isso já me bastava a Catarina e o Jerónimo.”
Por tudo, poderia falar-te do desmesurado aumento dos fogos que incendeiam o país, da tentativa falhada de aumentar o IMI, Imposto Municipal sobre Imóveis, da embustice continuada do Metro Ligeiro de Superfície, do teu empenho em cumprir a palavra eleitoral de baixar o IVA para a hotelaria, mas, em contraposição, não honras a promessa do Estado, dada pelo anterior governo, de aumentar as rendas antigas a partir de 2017, como se percebe, respeitas e dás mais valor ao partido que ao Estado -não precisas de te desculpar com os partidos-muleta onde te apoias. Se queres ser um grande estadista, perante o povo que representas, tens obrigação de te demarcares. Mesmo que te custe o esfrangalhar da aliança. Pela tua dignidade e futuro político, não te podes deixar enrolar em teses marxistas-leninistas -sabes melhor que eu que os teus aliados, pelo centralismo em cúpula e desprezo pela sociedade privada, têm uma visão deturpada do Estado. Se permites a sugestão: tomas atenção ou sais mais chamuscado desta troica que os montes e vales da Serra de Monchique.
Por pouco, mas que me parece demasiado, Tony, gostava de falar-te da teia emaranhada que foi armada ao camarada “Manel da Pera” -não estás a ver quem é? Não me digas, homem de Deus, que não te lembra alguém? Bem sei que ele não foi teu apoiante no Congresso, deu o seu voto pelo “Toino” Seguro, mas isso já lá vai. Que diabo, já devias ter esquecido isso! Não recordas mesmo? Tens a certeza? Não sejas casmurro e ressabiado, carago! É o Manuel Machado, o presidente da Câmara de Coimbra. Já estás a ver? Óptimo.
Ó pá, foi com a mais completa surpresa que li ontem no jornal Público que a “forma apagada como tem gerido o município” prejudica o PS e corre o rumor de que há outros nomes a serem testados”. Aquilo caiu mal de mais, Tony. Cheira mal, ou melhor, fede a fossa malcheirosa. O odor de internas guerras de poder no Partido Socialista invadiu ontem a cidade. Só se viam máscaras no nariz.
Antes de continuar, Costa, gostava de fazer uma ressalva, não sei se sabes mas nem eu nem ele, juntos, damos uma volta num dos novos autocarros adquiridos para os transportes colectivos. Não sei se estou a ser claro, o que digo é que não voto nele, no entanto, isso não quer dizer que, enquanto presidente da minha cidade, eleito por sufrágio universal, não o considere como um dos nossos e lhe dê pancada verbal ou, em antítese, não o respeite e defenda quando entender.
Prosseguindo, escrevia eu, Tony, que mesmo já depois das declarações noticiadas na imprensa de hoje, apressadas e atabalhoadas, da camarada Ana Catarina Mendes a dizer que vem hoje à noite a Coimbra “para anunciar, junto do líder da federação distrital e mais autarcas do distrito, que a direcção do partido quer a recandidatura de Manuel Machado à presidência da Câmara Municipal de Coimbra” o mal está feito. É uma desconsideração clara para o “Manel da Pera”. Isto não se faz! Dá a parecer que, para além das guerras internas de divisão do poder no partido, que saltam à vista, mostras assim que só tens apreço pelo “yes-man”, por aquele que dobra a espinha à tua passagem, mesmo que seja hipocritamente. Por outro lado, empregas na cidade a mesma tática que o PSD está fazer com João Paulo Barbosa de Melo, o anterior líder da autarquia. O PS e o PSD, servem-se das pessoas e depois de as usarem, como lenço de papel, jogam-nas fora. Não gosto disso, pá! Haja respeito pela política, sobretudo por aqueles que, sacrificando um pouco da sua vida, se dedicam à causa pública -bem sei que estás a estranhar eu escrever isto quando tantas vezes apregoo cobras e lagartos contra alguns dos vendilhões do poder. Tudo é preciso, Tony.
Põe-te a pau, Costa! Se não tens cuidado, ainda perdes a Praça 8 de Maio para um general laranja. Não te ponhas com fífias, armado em Bonaparte das Beiras. Não te iludas pelo assobiar dos passarinhos. Não esqueças que o apoio do camarada Marcelo é como o vento. Quando tu menos esperares muda para sentido contrário -não lhe contes isto, que eu não quero problemas, e ainda posso precisar dele. Por tudo e mais alguma coisa, é melhor apostares no certo. Quem te avisa teu amigo é...
Para terminar, Tony, já reparaste que eu dava um bom assessor do teu séquito? Vê lá isso!
Um abraço apertado cá do rapaz, e até um dia destes. Qualquer coisa é só ligares.

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