POR MÁRCIO RAMOS
Coimbra,
sem dúvida, tem uma vasta riqueza arquitectónica. Concentrada na
Baixa e Alta, ruas como a Sofia, no sopé da colina, têm um vasto
património cultural inaproveitado.
Mas
por estas ruas estreitas e largas da cidade também vemos atentados.
Só para ilustrar o pensamento, temos o Arco de Almedina, uma das
portas para a Alta, com séculos de existência e bem preservado. Ao
lado, paredes-meias, uma instituição bancária com arquitetura do
séc. XX. Um autentico mamarracho.
Para
evitar atentados à monumentalidade -aquele foi perpetrado na década
de 1970-, a Câmara Municipal decidiu criar regras para a recuperação dos
prédios. Porém, algumas são de tal modo extremistas, que vão ao
ponto de ser a autarquia a escolher a cor e não o dono do imóvel.
Não admira, portanto, que muitos contornem as regras. O antigo, se
tem hipótese, acho bem que deva ser recuperado. Será um legado para
as gerações vindouras e um espólio magnificente para turista ver.
Nesta
cidade há uma farmácia culturalmente riquíssima, com frescos,
mobiliário antigo, e com uma história de quase dois séculos.
Escrevo, claro, como se adivinha, da Pharmacia Nazareth,
situada na Rua Ferreira Borges, onde os proprietários sempre
quiseram manter a traça antiga. Merece uma visita cuidada e deveria
ser acoplada aos roteiros turísticos.
Recentemente
tivemos a notícia neste blogue que este museu dos medicamentos vai encerrar, deslocando-se para outra zona da cidade. Se tal acontecer,
como tudo indica, a Baixa, Coimbra, perderá um grande marco
histórico, pois quem adquirir o espaço, presumo, não quererá
saber dos belos frescos, ou da mobília antiga. O mais natural, sem
surpreender, é pintar de branco as paredes, meter tectos falsos com
lâmpadas e assim se destrói algo que deveria ser preservado.
Embora
se adivinhe, levanta-se a questão por que razão vai encerrar?
Hoje
de manha falei com uma vizinha deste estabelecimento e fiquei a saber
os possíveis motivos: alegadamente, querem que a farmácia se
modernize; que tenha aqueles móveis chiques para colocar os
medicamentos que tenha tecnologia, enfim... que façam obras de
modernização do espaço.
Alguém
na sua sábia sabedoria, tendo em conta o interesse especulativo,
provavelmente, terá decidido que é melhor “destruir” um
património cultural, que sendo privado, pela sua riqueza memorial, é
de todos, do que colocá-lo ao serviço da comunidade. Muitas
perguntas se levantam, mas atiro uma: em prol da modernização, da
tecnologia, do interesse financeiro, vale tudo?
Qual
a opinião do pelouro da cultura da Câmara Municipal de Coimbra? Não
terá nada a dizer aos conimbricenses? Porque não age? Porque não segue o exemplo de Lisboa, para manter activos estabelecimentos antigos? Para que
serve o departamento de cultura municipal? Porque não indaga junto
do proprietário do prédio e tenta sensibilizá-lo para o valor
cultural em apreço?
É triste quando em moda de fixação futura, sem levar em conta a memória, se destrói o passado. Se nada for feito, como tudo indica, infelizmente, Coimbra irá perder um grande monumento.
É triste quando em moda de fixação futura, sem levar em conta a memória, se destrói o passado. Se nada for feito, como tudo indica, infelizmente, Coimbra irá perder um grande monumento.
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