sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

LEIA O DESPERTAR...


LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "REFLEXÃO: OS NOVOS MENDIGOS", deixo também as crónicas "UMA PRAÇA SEM DIGNIDADE"; "NESTE NATAL, AS MELHORAS PARA O PINTO"; e "65 ANOS DEPOIS...".


REFLEXÃO: OS NOVOS MENDIGOS

Os outrora pedintes espalhados pelas ruas destas pedras carcomidas pelo tempo, talvez pela diminuição de transeuntes, nos últimos anos foram desaparecendo e hoje, tirando um ou outro invisual, contam-se pelos dedos das mãos. Porém, como rei morto, rei posto, como vírus de pandemia, a mão estendida alastrou a toda a Baixa. Simplesmente agora são mãos finas e a lengalenga é em nome de uma qualquer instituição de solidariedade. Haja pachorra para tanta pedinchice! Quem nos livra destes novos mendigos?


UMA PRAÇA SEM DIGNIDADE

Na segunda-feira da semana passada, cerca das 10h30, a Praça 8 de Maio estava com vários automóveis estacionados que, presumivelmente, ali teriam passado a noite. De tal modo que um deles teve de permanecer no meio da esplanada e após a arrumação das mesas e das cadeiras. É certo que um agente da PSP estava a fazer-lhes a folha, como quem, diz a passar-lhes multas e a colocá-las nos vidros dos veículos.
A questão que se deve levantar é, numa análise simples, porque acontecem diariamente casos como este? Poderíamos começar pela vigente cultura do desenrasca do cidadão. Para muitos automobilistas qualquer local serve para estacionar. Seja nesta praça, seja na Praça do Comércio, seja numa qualquer praceta desta zona velha.
A seguir a mesma observação, já se sabe e até nem vale a pena bater no ceguinho, desde há muitos anos que a Baixa está sem policiamento noturno e entregue à sua sorte. É puro milagre não acontecer por cá mais vandalismo e atentados ao património. Num procedimento governamental, de contenção de custos, desde há uma década para cá, a segurança de pessoas e bens durante a noite deixou de ser uma preocupação. Em vez de se apostar na prevenção, no antes, a montante, acomoda-se tudo no depois, a jusante. E entre o destino a sorrir para quem é dono de alguma coisa e o “deus queira que não aconteça nada”, há sempre uma explicação que, como capote de encobre misérias, serve para tudo. Na “Conferência A Baixa no Centro da cidade: turismo pelo património e(m) segurança”, Paulo Dinis, o chefe da área de operações do Comando de Coimbra da Polícia de Segurança Pública afirmou que a criminalidade desceu 29% na Baixa da cidade desde que, em 2009, entrou em funcionamento o sistema de videovigilância. Curiosamente já li isto mesmo em 2010 mas, mesmo assim, não duvido dos dados noticiados. Porém, estabelecer a causa da redução da criminalidade por efeito da instalação das 17 câmaras eletrónicas -12 com sistema de gravação e 5 apenas para visionamento do trânsito-, é quase como acreditar em prodígios por obra e graça do Espírito Santo. Que há muitos crentes que admitem a possibilidade, lá isso há! Tenho muita pena mas não comungo da tese e demarco-me totalmente da opinião expressa. Acompanhei muito de perto a instalação da vigilância digital. A meu ver, o decréscimo do crime nesta parte histórica nem de perto nem de longe se deve a este meio. Aliás, salvo erro até hoje, só uma ocorrência foi detetada através dos ecrãs: um assalto à desaparecida Perfumaria Pétala, em Abril de 2012. Se afirmarmos que esta diminuição se deve ao bom trabalho das brigadas à civil, de rua, da PSP, assim, e juntamente com outros recursos instrumentais, talvez me convença mais. E um deles, estrutural, assenta no excelente acompanhamento que as instituições de apoio aos toxicodependentes fazem na zona do Terreiro da Erva –e que, curiosamente, como andam todos ocupados com a sua liquidação total ninguém fala deste bom trabalho. Hoje a pequena criminalidade nesta parte de antanho socorre-se do roubo por esticão a pessoas na via pública e furto nas lojas em pega e corre que se faz tarde.
É evidente que a PSP se agarra aos dados estatísticos que detém e, entre a conveniência de apresentar trabalho feito e os princípios da segurança e tranquilidade das populações, sem grande preocupação de os analisar em profundidade –interessa mesmo é mostrar que estamos cada vez mais próximos do paraíso-, parece-me, projeta-os sobre uma ação falsamente preventiva –que no caso da vigilância digital nem isso chegou a ser. A eficácia deste meio impeditivo ainda está para se provar. Salvo melhor opinião, embora seja a minha convicção, as câmaras foram somente uma medida política de Carlos Encarnação, ex-presidente da edilidade coimbrã. Tratou-se de um fogo-de-vistas, um investimento de cerca de 150 mil euros, que serviu essencialmente para calar os comerciantes da zona histórica –que entre 2007 e 2008 sofreram uma vaga de assaltos, por arrombamento, sem precedentes.
Voltando à análise da ocupação fácil da Praça 8 de Maio, está de ver que este átrio em frente ao Panteão Nacional precisa de uma outra dignidade. No mês passado a Câmara Municipal não deu licença para a realização de uma feira de artesanato urbano naquele local. E fez muito bem. O que se espera é que continue a fazer o mesmo para todos os certames, sejam eles quais forem. Este belo rossio, no respeito pela ancestralidade, não pode continuar a ser um vazadouro de manifestações de compra e venda. Há outros locais interessantes como, por exemplo, a Praça do Comércio –já agora, porque não cobrir esta praça com painéis de vidro e realizar ali todos os eventos e alegorias?-  e as ruas largas da calçada. Mais ainda, a antiga praça de Sansão não pode continuar a ser palco de um mau gosto sublinhado, como agora, na instalação de um pinheiro no meio do lago. Custa-me dizer mal mas tem de ser. Colocar uma árvore recentemente cortada –na qual há anos se pede proteção nesta quadra- no meio de um lago com água, sinceramente, é de um mau gosto que brada aos céus. E que alternativa? Pode perguntar-se? Pedir a uma escola de artes que promovesse uma escultura para as festas natalícias. No Mercado Municipal, com o patrocínio da edilidade, fez-se isto mesmo com uma árvore em garrafas de plástico, recicladas. Um bom exemplo a seguir!


NESTE NATAL, AS MELHORAS PARA O PINTO

O quadro não pode ser mais terno e impressionante. Faz lembrar uma tela de um pintor famoso da Renascença. No hospital, um septuagenário, de cara doce rosada e envolvido em tranquilidade, está deitado com a cabeça ligeiramente elevada e sobressai no branco imaculado dos lençóis. Está acompanhado de uma velhinha com a mesma bagagem etária, de cabelos brancos curtinhos e olhar vivo de contemplação. Ela está curvada sobre o doente com um prato na mão e uma colher faz a ponte até à boca do homem. Uns murmúrios ininteligíveis em jeito de negação saem do enfermo e são abafados por umas claras frases de amor: “só mais um pouquinho, querido! Vá lá, meu amor! Só mais esta!”. E os olhos dele, como tomados por um arco-íris de carinho e força, fitam-na e, como se dissesse algo em concordância sem dizer, abre os lábios com doçura.
O senhor Guilherme Pinto, o nosso amigo, o companheiro da serenidade, depois de um gravíssimo acidente de automóvel há cerca de um mês, está internado nos HUC, Hospitais da Universidade de Coimbra. Embora com prognóstico reservado, com toda a força de tantos e que tanto gostam dele, o Pinto, lentamente, está a recuperar depois deste trambolhão do destino.
Embora já soubesse há mais tempo, só agora obtive autorização da família para dar a notícia. Faço-o com a certeza de que muitos amigos, da Baixa e de outros pontos do país, e até do Brasil, neste Natal estarão todos a torcer para que o nosso querido companheiro e amigo de tantas décadas a comerciar na Rua da Louça se restabeleça e rapidamente possa retomar o nosso convívio. Para ele, para a família, em nome de todos nós comerciantes, se posso escrever assim, um grande abraço de muita força e coragem. Seja por obra da Natureza, por milagre e graça de Deus, do Menino Jesus, de São José e Maria, na sua bondade e divindade, e connosco, com a nossa fragilidade de humanos assente na amizade, precisamos todos do senhor Guilherme por cá e depressa!


65 ANOS DEPOIS…

Mais de seis décadas depois as humildes irmãs das Criaditas dos Pobres abandonaram a Cozinha Económica, no Terreiro de Mendonça. De idade avançada presumo que este facto poderia ter contribuído para o corte com este exemplar serviço de solidariedade social na Baixa de Coimbra. Apesar de ter tentado chegar à responsável e obter umas palavras tal não me foi possível –o que também não é de admirar já que esta congregação prima pela discrição e pelo fazer bem sem olhar a quem.
Sem pretender lançar achas numa fogueira silenciosa, mesmo assim ouso especular –e é mesmo pura suposição- que a notícia no Diário as Beiras (DB), neste último 15 de Maio, pode não ser alheia a este facto e ter feito derramar um copo que, pela indiferença de quem manda e pode e deve tomar mais atenção, já estaria cheio há muito. Noticiava o DB, “A Associação Cozinhas Económicas Rainha Santa Isabel alertou esta quinta-feira para a dificuldade em garantir a sustentabilidade da instituição e disse prever um défice de cerca de 15 mil euros para 2014 devido ao número de refeições gratuitas fornecidas. Em 2013, a Associação Cozinhas Económicas Rainha Santa Isabel (ACERSI) registou 92 mil refeições fornecidas de forma gratuita, sem que tenha sido “atualizado o apoio da Segurança Social”, fazendo com que “pela primeira vez” na direção de Arminda Lemos, que é há quatros anos presidente da associação, o orçamento anual preveja “um défice” de 15 mil euros. A presidente da instituição alertou que as Cozinhas Económicas “não têm mais capacidade de resposta”, caso o número de refeições continue a aumentar. Arminda Lemos referiu também que tem “esperança” que a celebração de novos acordos, por parte da Segurança Social, com outras cantinas sociais, leve a “uma redistribuição” das pessoas.
Uma certeza posso garantir, toda a Baixa, toda a cidade está em dívida com o altruísta e prestimoso serviço que durante mais de seis décadas a congregação das irmãs das Criaditas dos Pobres prestaram. A Câmara Municipal de Coimbra, mesmo que a responsável da ordem se demita da homenagem, deve tomar em conta uma consagração futura, por exemplo, no Dia da Cidade.
Na parte que me toca, enquanto comerciante e escrevinhador do que se passa por aqui, em nome da Baixa, em nome de tantos pobres e desabrigados da sorte que durante tantos anos puderam contar com o desinteressado apoio destas irmãs do bem-fazer, o nosso MUITO OBRIGADO!


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