sábado, 6 de dezembro de 2014

EDITORIAL: A BAIXA CHEIRA A A NATAL



É o primeiro Sábado de Dezembro. Oficialmente está aberta a corrida às compras na Baixa da cidade. A maioria das lojas comerciais já esteve a receber clientes durante a manhã e a tarde. Hoje é também o primeiro dia das ornamentações natalícias. Os técnicos da firma Teixeira Couto, Lª –a propósito, pessoal muito simpático- estão a todo do gás nas afinações finais para que, por volta das 18h00, se dê à luz com o beneplácito da autarquia e esta parte histórica da cidade, pelo brilho encantador das luzes e dos ornatos em suspensão, conquiste uma nova esperança com sorrisos brilhantes de humanidade e gosto em viver.
Ao longo de algumas ruas, das colunas de som colocadas nas paredes, ainda em experiência, ouvem-se canções de Natal a dar-nos uma sensação de paz e amor. As artérias, pela quebra do silêncio tantas vezes incomodativo, como um novo espírito de alegria misturado em nostalgia, ganharam uma nova vida. Até São Pedro, normalmente tão sisudo e sempre pronto a mandar chuva como se fosse castigo divino, hoje parecia estar bem-disposto e ofereceu-nos um dia espectacular, maravilhoso, com uma temperatura amena e ambiência leve de luminosidade e cor.
Embora ainda seja apenas o começo de uma época comercial que se espera profícua e, pelo menos com alguns bons negócios, sente-se nos comerciantes uma expectativa renovada, como se fosse desta vez que as palavras anunciadas tantas vezes pelo Governo se concretizassem, no renascer da economia. Esta classe comercial, que tanto respeito nos deve merecer, como milhares de portugueses, há uma década que sofre a bom sofrer as agruras da queda do consumo interno.
Por parte dos visitantes da urbe que, morando nos arrabaldes ou zonas altas, tantas vezes largam aquela expressão que irrita o mais apático e cordato “há mais de seis meses que não venho à Baixa”, parecem ter acordado de um longo sonho letárgico e estão a regressar em massa aos estabelecimentos, ruas e ruelas que contribuíram para serem os citadinos que são hoje.
É uma verdade que, mais que certo pela classificação de Património Mundial pela Unesco, temos muito mais turistas do mundo inteiro a visitar-nos e, mesmo a adquirir pouco em lembranças pequeninas e gota-a-gota, as suas compras contribuem para acreditarmos que havemos de ter futuro.
Como já falei também, estamos a assistir a uma procura intensa de locais para arrendamento comercial e para se habitar -já escrevi, se é certo que as rendas baixaram bastante pelo aumento da oferta, é também uma constatação que ainda estão muito acima do que qualquer agregado pode pagar. De qualquer modo este interesse intenso em querer vir para cá deixa-nos contentes e faz-nos ver que, provavelmente, outras cidades nacionais estarão muito pior do que nós. E, quando nos parece que está sempre tudo na mesma como a lesma, esta migração está a transformar completamente esta zona de antanho. Estão a surgir novos espaços comerciais com ramos diferenciados e a desencadear uma diversidade que julgávamos perdida.
Pelo menos nesta quadra, retiremos os olhos do chão e olhemos para o que nos rodeia. Façamos um esforço para não dizer mal de tudo –eu estou a tentar fazer isso. Recuperemos o gosto de viver aqui. Esta Baixa é a nossa terra. Lutemos por ela, mas sem perder o ânimo. Contem comigo!

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