Quem atravessou hoje a Praça 8 de
Maio à hora do almoço, se, em frente à Igreja de Santa Cruz, não se apercebeu
de uma figura humana, hirta, pintada de branco como saída das trevas e das
trovas do vento, quando alguém colocava uma moeda no pequeno cesto, de repente, o
largo era invadido por uma voz melodiosa, bem timbrada e afinada, de anjo, numa
harmónica sinfonia celestial. Então vamos lá saber quem é esta imagem
mitológica.
"Chamo-me Cláudia Santos. Tenho 24
anos, e sou desempregada activante. Frequentei o conservatório na área de
guitarra e estudei fotografia no ensino superior. Como estava sem nada fazer,
reuni comigo os meus heterónimos de emergência, e, dando uma metafórica palmada
em cima da mesa, um deles gritou: Cláudia, isto não pode continuar assim. Tens
de te atirar à vida, rapariga. O que é que sabes fazer? Ali mesmo, tratei de
inventariar os meus talentos. Tenho alguns. Fixei-me no canto. Eu sempre gostei
de cantar, mas, por uma razão ou outra, nunca o consegui fazer. Foi assim que
descobri que o poderia fazer. Afinal eu sou dona da minha vontade. É ou não é?
Como tudo na vida, a primeira vez foi um pouco difícil. Agora já é para mim
quase normal. Está correr muito bem. Por acharem a ideia muito original, as
pessoas páram e dão uma moeda para me ver e ouvir e eu sinto-me muito bem. Pressinto
que estou a alegrar as ruas da cidade, a fazer algo de útil. Que acha o senhor
da minha performance?"
1 comentário:
Eu vi! E gostei muito.
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