Acompanhado do Francisco Veiga,
hoje, durante parte da manhã, percorremos as lojas da Baixa convidando os
comerciantes a estarem presentes logo num jantar, no Restaurante Jardim da
Manga, para apresentação pública da já legalmente constituída Associação de
Beneficência ao Comerciante de Coimbra e elaboração de listas concorrentes a sufrágio
para os novos corpos-gerentes.
O ambiente que se sente nos
estabelecimentos vazios, sem um único cliente, sem espírito de alento, é
simplesmente aterrador. O desânimo é simplesmente palpável a olho nu. Em uma
qualquer loja, desde a Rua Adelino Veiga, a Eduardo Coelho, Corvo, à Rua da
Louça ou outra qualquer artéria, transpomos a porta principal e o que vemos em
quadro repetido? Num lado, dois velhos, marido e mulher, encostados ao balcão,
de caras fechadas e carregadas de preocupação. No outro canto um funcionário de
braços cruzados, como se esperasse a pancada demolidora para o mandar para o
desemprego. Começo a expor o que nos leva ali. Em respostas passadas a papel
químico, nem deixam acabar: “não posso. Tenho os anos do meu neto!”. Não posso,
é muito em cima, à quarta-feira vou à aldeia!”. Não posso, tenho de preparar
logo as coisas para amanhã!”. Não posso. Eu nunca janto!”. Não posso… se ao
menos fosse ao almoço…”.
Mas o que mais me impressionou
pela recorrência foi: “até ao fim do ano vou fechar! Estou aqui a fazer o quê?
A matar-me?”
Esta semana encerrou a Boutique
Romy, no Largo da Freiria. Até ao fim do mês, segundo alegações dos próprios,
vão encerrar diversas lojas: uma na Rua Visconde da Luz, uma na Rua Eduardo Coelho, outra
na Rua das Padeiras e ainda outra na Rua da Gala. Para além disso, até Agosto, também na Rua Eduardo Coelho, a outrora muito conhecida rua dos sapateiros, duas quase centenárias sapatarias, da mesma sigla familiar, ou serão concessionadas a uma marca internacional ou claudicam de vez.
Perante estes encerramentos em
massa, e que até ao fim do ano vai ser arrasador, o que vai acontecer à Baixa?
Neste momento, sobretudo nas ruas estreitas, a tristeza, a solidão, e a falta
de esperança invadiram cantos, recantos e becos. Esta zona comercial, outrora viçosa e prenhe de vida, agora parece, de facto, um
cemitério. O que torna este clima ainda mais sui generis é que nos campos-santos vêem-se pessoas a chorar. Aqui não. Como sombras de um silêncio perturbador, adivinham-se esboços de gente que se arrasta sem ânimo e sem vontade de lutar por ideal perdido há muito. A angústia tomou conta destes residentes. Talvez porque o percurso de dor tenha
sido demasiado longo, as lágrimas secaram e já não sai nada. O que se sente são
espasmos estrangulados em farrapos de ansiedade. Fará algum sentido tentar
remar contra a maré, constituindo novos instrumentos que permitam acudir a
estes estados de alma? O que vai ser o futuro desta zona comercial?
1 comentário:
há dias ia com o meu irmão na rua principal da baixa e reparamos numa loja fechada (vazia), desviamos um pouco o olhar em direcções diferentes e logo dissemos : E, ali está outra!
Nos poucos metros que a vista alcançava contamos 7 lojas vazias...
É impressionante!
Enviar um comentário