sexta-feira, 3 de maio de 2013

LEIA O DESPERTAR...



LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "JORNADAS CIDADÃS DO CPC", deixo também as crónicas "UMA IMAGEM, POR ACASO..."; "ROSTOS NOSSOS (DES)CONHECIDOS: O FURAMUNDOS";  "MÚSICOS DE RUA ACTUARAM NO PAVILHÃO DE PORTUGAL"; e "POLÍCIA MUNICIPAL CUMPRIU O SEU DEVER".



JORNADAS CIDADÃS DO CPC

 Na tarde deste domingo, último, num anfiteatro bem composto do Conservatório de Música de Coimbra e com cerca de duas centenas de pessoas, o independente Movimento Cidadãos Por Coimbra (CPC) apresentou a síntese das sessões de debate programático realizadas durante a manhã e a apresentação dos cabeças de lista à Câmara Municipal e à Assembleia Municipal de Coimbra.
Com uma mesa de painel constituída por Luísa Bebiano Correia, Catarina Martins, Isabel Campante, José Dias, José Vieira Lourenço, Fátima Carvalho e Pedro Rodrigues foi exarado o resultado das intervenções matutinas. Em resumo de explanação dos vários oradores, fica um cheirinho do que lá se passou. Por parte de Catarina Martins, professora universitária, foi dito o seguinte: “É preciso travar a discussão do PDM, Plano Diretor Municipal, que está a ser feito no maior dos segredos. É necessário acreditar na reabilitação urbana, impedir a edificação de novas construções e apostar na renovação de novos moradores para o centro da cidade. É preciso travar a privatização da água. Deve-nos preocupar também os SMTUC, Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra.”
Fátima Carvalho, ex-sindicalista, defendeu que “estamos todos a precisar de esperança. É necessário envolver os cidadãos. Por isso mesmo temos de saber o que pensam. Se eles não vêm aqui, teremos nós de ir até eles. A economia da cidade é melhor do que a sua política. Há uns anos atrás viam-se alguns dos seus sectores a fazer parte do empobrecimento. Agora verificamos que há muitos mais sectores a incluir este enfraquecimento. Há na cidade um empobrecimento encapotado. Temos de nos preocupar com esta pobreza envergonhada. Há muita gente desesperada com os serviços públicos.”
José Vieira Lourenço, professor, enfatizou: “A política de inclusão não pode ser uma política de exclusão. Porque não criar sítios para os cidadãos dormirem a sesta? O Conselho Municipal de Educação não funciona. A última ata é de 2008. Vivemos em uma cidade cujo peso do passado pesa demasiado na relação com o presente. É preciso colocar as desigualdades de avesso. Todos temos a ganhar com a partilha.”
Pedro Rodrigues, ator e encenador, em sumário das jornadas, concluiu que “não há falta de oferta cultural na cidade, há é uma insuficiente e desequilibrada visibilidade para o exterior do que aqui se faz. As instituições trabalham de costas voltadas, como por exemplo a Câmara Municipal e a Universidade. Temos aí dois fatores muito importantes na cidade: a candidatura a Património Mundial, pela Unesco, e a inauguração do Convento de São Francisco.”
No período reservado ao público presente, Carlos Sá Furtado, professor, interrogou: “Há 2000 fogos desabitados na cidade? Havendo tantas casas vazias vai-se continuar a construir?”
Serafim Duarte, deputado na Assembleia Municipal, exclamou: “Se há um assunto importante a tratar é a revitalização do centro urbano. Por mais “Noites Brancas” e outras iniciativas que se façam serão sempre paliativos. É urgente desenvolver a revivificação e ocupação da Baixa. Não precisamos de mais espaços. É preciso densificar os existentes. A Rua da Sofia tem uma série de antigos colégios desabitados. O Terreiro da Erva e a Praça do Comércio precisam de atividades âncora.”
Pedro Bingre, professor, em resposta a uma intervenção na plateia de um cidadão sobre o que se passa na Baixa comercial, defendeu que “construiu-se uma casa nova em cada 6 minutos. (Na última década) o PIB, Produto Interno Bruto, subiu cerca de 40 por cento e a dívida hipotecária cresceu para os 2300 por cento. Vivemos em uma cidade que vive do rentismo –especulação absolutista das rendas. Os comerciantes têm de vender cada vez a mais baixo preço e as rendas mantêm-se. Aos estudantes a mesma coisa. É urgente acabar com esta exploração. Não se pode permitir que alguns proprietários parasitem num setor tão importante para a cidade.”
Sob a música de fundo dos Deolinda, “Agora sim, damos a volta a isto. Agora sim há pernas para andar”, subiram ao palco o mandatário, Abílio Hernandes, docente da Faculdade de Letras, e os candidatos à Assembleia Municipal e à autarquia, respetivamente José Reis, diretor da Faculdade de Economia de Coimbra, e Ferreira da Silva, reconhecido advogado na cidade.


UMA IMAGEM, POR ACASO…

 Esta mulher, retratada esta semana à hora do almoço na Baixa, vasculhava num caixote de fruta fora do contentor umas laranjas abandonadas no lixo. Certamente ali deixadas por uma loja de fruta da zona porque impróprias para vender no estabelecimento mas ainda boas para suprir carências alimentares.  Ainda bem que houve o bom senso de não as colocar dentro do recipiente da imundice.
Não é a primeira vez que assisto a um quadro do género nos últimos tempos. Atente-se no pormenor de a senhora estar bem vestida e apresentar a mala a tiracolo. Olhando o anúncio ao lado, especulando, é mais que certo já ter vendido todo o ouro, a prata, a joia de família e o último prato de Sacavém que, como memória de um país industrial que se perdeu nas chinesices,  ainda resistia na parede da sala. Agora, numa declarada pobreza envergonhada, o estômago fala mais alto e, mesmo atentando contra a dignidade subjacente e impróprio de uma nação que se outorga Estado de direito não respeita os que sempre trabalharam para o seu Produto Interno Bruto, esta pessoa e outras como ela, terão de se atirar à procura e o que jamais pensaram algum dia fazer.
Até há um ano atrás era comum ver alguns sem-abrigo a apanhar géneros diretamente dos escolhos, hoje, curiosamente, poucos se avistam em imagens assim –talvez porque a cobertura por parte de instituições é salutar. Numa inversão que deve fazer refletir, como se pode verificar, são pessoas como esta que, no ato e em modelo, ocuparam o lugar deixado vago na imagem de ferir a consciência. São cidadãos que viveram bem até há pouco tempo e agora, pelas políticas discriminatórias de austeridade apenas para alguns, foram empurrados para a indigência.
Devemos pensar seriamente sobre o que está acontecer à frente dos nossos olhos. Não se sabe se amanhã seremos nós. Tomemos atenção!



O FURAMUNDOS

 Os centros urbanos, em metáfora, são um lago onde convivem harmoniosamente todas as espécies piscícolas. Há os peixões, aquelas castas que, residindo em luxuosas cavernas do fundo, descendem de grandes famílias que sempre governaram a mancha de água já desde pelo menos um século para trás. Quando emitem sons todo o universo local se coloca em sentido e a maioria bate palmas às suas manifestações sonoras, mesmo que anedóticas e patéticas. Lá no tanque, encontramos os seus apelidos na universidade da biodiversidade, na biblioteca de algas marinhas, nos funcionários do paço regedor da vida animal e que gere os destinos da peixaria.
Depois há os peixitos, aquele grupo que só conta enquanto alimento e mão-de-obra para os peixões. Como formigas em verão de estio, atrelados com alguns filhos, vemo-los esfalfados a atravessar o lago de um lado para o outro, num rodopio incessante em busca de alimento. Algumas vezes rebuscando as migalhas caídas dos opíparos repastos da classe soberana. Para além de serem os primeiros a cair no arrasto, aquando da faina dos predadores porque estão mais expostos, este agrupamento também serve para votar e eleger sempre os mesmos na autocracia da mancha líquida de história retorcida e sem narrativa reconhecida.
E no meio destas duas classes há então os híbridos, aqueles que, para além de andarem permanentemente de boca aberta como se estivessem continuamente a pedir comida, não servem para nada ou quase. Não trabalham, não votam, não bajulam. Mesmo desprezados por todos, pela classe dominante e pela classe dominada, como tábua de mandamentos, servem apenas para marcar as fronteiras entre a senilidade e o bom senso e o remedeio e a miséria. Apelidados por todos de loucos, estranhamente são livres. Não conhecem horários, dormem em qualquer recanto das profundezas do lençol de água, mesmo que imundas, e, ainda mais extraordinário, sorriem, sorriem como nascituros livres de preocupações.
Estranhe-se também como é que eu querendo escrever sobre o senhor Mendes, personagem de mistério, que vagueia por estes becos e ruelas, e que apelidei de Furamundos, dei uma volta ao figurativo interior dos elementos somente para dizer que pessoas como ele, cromos e projeções de nós, e que existem em todas as comunidades, têm um encanto natural. Dificilmente conseguimos passar ao lado das suas interessantes formas de estar e (com)viver a pulular pela cidade, nem que seja, pelo menos, com um olhar fugidio.


OS MÚSICOS DE RUA ATUARAM NO PAVILHÃO DE PORTUGAL

 A denominada “Orquestra de músicos de Rua de Coimbra”, num gentil convite de Emília Martins e presidente da Direção da Orquestra Clássica do Centro, atuou no Pavilhão de Portugal. Inserido na comemoração da 39ª comemoração do 25 de Abril esta banda constituída essencialmente por fantásticos músicos de rua, mais uma vez, esteve presente neste grande salão cultural da cidade. Este agrupamento, formado em finais de novembro do ano passado, com cerca de uma dezena de executantes, depois da fase de maturação sempre normal nestas coisas, neste momento e já em resultado de escolha apurada tem seis componentes que nunca falham, o Lourenço, o Emanuel, o Paolo, o Luís Cortês, a Celeste e este vosso servidor, que é uma espécie de faz-tudo, compõe e musica os temas (pessimamente, porque não há outro), toca (desafinado), canta (mal, evidentemente) e faz umas palhaçadas (porque é um desavergonhado) na rua para levar os transeuntes a contribuírem para ajudar estas generosas pessoas que fazem o favor de o acompanhar. Para além dos que nomeei, há ainda um eventual, o Gastão, um espetacular instrumentista, de clarinete, que sempre que pode nos segue. Já agora, aproveitando este momento de publicidade que eu próprio me concedo e aos meus colegas, gostaria muito de ver outras pessoas a tocar connosco. Tem sido muito difícil de conseguir. Juro por minha honra que, a começar por mim, para além de uma certa demência notória, com queda para o show business, não sofro de nenhuma doença transmissível e não tomo qualquer medicamento ou droga, incluindo álcool. Pelos meus colegas, atesto que, para além de serem humildes e umas ótimas pessoas (que são grandes defeitos nos tempos que correm) também não padecem de qualquer patologia assim de mais e que possa prejudicar alguém. Nenhum deles tem uma qualquer doença grave e que possa ser nocivo à comunidade. Quer dizer, estou a lembrar-me agora, a Celeste Correia, para além de ser uma bonita mulher, não tem complexos de tocar com os músicos de rua. Ora, vendo bem, e olhando à volta, tenho dúvidas de que tenha mesmo os parafusos todos na rosca certa. Quase aposto que não tem. Como é que pode? Como é que uma mulher, que não precisa daquilo para nada, se expõe a estar com estes malucos de sanidade de normalidade acima da média? É certo que não lesa ninguém, antes pelo contrário alegra todo o meio envolvente, mas, mesmo assim, cá para mim, esta senhora está muito doente. Só pode. Provavelmente será maleita de gaiteira. E isto, convenhamos, é uma doença gravíssima. Curável não será de certeza, porque, penso, é crónica e não há ainda medicamento inventado. Isto tudo para dizer que se aceitam candidatos envergonhados e que queiram perder os “três vinténs” da timidez. A entrada é imediata e não precisam de ter experiência.



POLÍCIA MUNICIPAL CUMPRIU O SEU DEVER

 Na sexta-feira da semana passada, agentes da Polícia Municipal deixaram umas lembrancinhas a uns certos abusadores que, reiterada e abusivamente, fazem da Praça do Comércio, uma das mais antigas pracetas da Baixa, um estacionamento privado. Como já se viu, os cívicos multaram e muito bem todos os veículos estacionados irregularmente no vetusto largo e símbolo histórico da compra e venda. Que não lhe doa a mão que prescreve a sanção. Aliás, façam o favor de vir todos os dias para ver se esta gente aprende. Se a maioria coloca os seus carros nos estacionamentos a pagar, por que razão há-de haver uma dúzia de munícipes, quase sempre os mesmos, a furar o esquema? É evidente que o fazem na razão direta da permissividade concedida no deixa correr. Por outras palavras, se há um pino junto ao Banco de Portugal, na entrada da Rua Sargento-mor, porque não está a funcionar? Lembro que este sistema de pinos de impedimento de tráfego nas ruas estreitas custou em 1999 qualquer coisa como 80 mil euros e, tal como outros abandonados e mal cuidados, estão inertes e não servem para nada. Perante investimentos públicos desta envergadura não admira que as coisas estejam como estão!
Voltando à Praça do Comércio, não sou de modo algum partidário de um Estado-polícia onde a ordem só funciona à cacetada, mas, perante certas posturas individuais de usurpação da liberdade coletiva, tenho de confessar que não há mesmo volta a dar-lhe. Já por duas vezes fui falar pessoalmente com um comerciante desta praça para não colocar o lixo durante o dia e não estacionar a sua carrinha ao lado e em frente à Igreja românica de São Tiago, construída no século XII. Pelas duas vezes me respondeu que, sim senhor, iria tomar cuidado. Nos dias seguintes a lixeira e o carro de mercadorias lá continuam. O que esperam estas pessoas que, ganhando aqui a vida, deveriam dar o exemplo?




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