terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O 1º DE DEZEMBRO ENVOLVIDO NO MANTO DIÁFANO DO FUMO DAS CASTANHAS...






A cidade corre no mesmo discorrer,
alheia ao que se passa e a quem passar,
pouco lhe importa se há-de ou não saber,
que hoje é dia importante a lembrar;
Gravado na história, é dia da Restauração,
poucos se lembram, atravessando o fumo,
se ao menos de lá saísse um D. Sebastião,
então sim, talvez a vida tomasse novo rumo;
Mas o tempo, para mal de nós, não volta atrás,
e se voltasse, também nada traria de novo,
era preciso que das brumas saísse um capataz,
alguém, um homem de esperança, saído do povo;
Mas, para mal de todos, desta fé que nos há-de levar,
do vapor, em nuvens, só sai o cheiro a castanhas,
que nesta vida, a morte teima em nos acompanhar,
arde o fruto no fogo e aumenta crença nas patranhas;
Apesar do paradoxo, não virá de terras de Cervantes,
quem sabe, a união a residir na economia, a salvação,
do fantasma historicamente odiado, como mutante,
sairá da tumba, um qualquer Filipe, para a recomposição?;
Já não há outro Afonso Henriques ou Mestre de Aviz,
o primeiro repousa, na igreja, pensamos, em paz,
o segundo talvez surpreso, abismado com o que se diz,
neste descaminho, pergunta: Afinal de que é Portugal capaz?

7 comentários:

Anónimo disse...

Era aqui, na Praça 8 de Maio que os meninos da MP (Bufa)se concentravam depois do habitual desfile.

Havia uma cerimónia, cantava-se o hino da Restauração...todos faziam parte daquele número idiota...eu também lá estive.

Os tempos mudaram agora, nem o feriado faz sentido...

Coimbra sempre.

Luís Pereira

Anónimo disse...

Só mesmo fumaça a época de natal na baixa.

LUIS FERNANDES disse...

Obrigado aos dois pelos comentários. Ao Jorge Neves, como é frequentador da casa, já nem lhe pergunto se o café está bom, ou lhe agradeço por participar na feitura diária do "estabelecimento".
Quanto ao Luis Pereira, tenho visto, com muito gosto, que começa a ser frequentador deste "estabelecimento" de leitura. Começo por lhe agradecer, e, nem preciso de lhe dizer que as portas estão sempre abertas. E mais: já vi que tem muitas memórias armazenadas de antanho. Se as quiser partilhar connosco, é com muito gosto que farei parte dos seus leitores. Pode enviar para o meu mail: choupalapa@sapo.pt
Quanto à questão que formula sobre as manifestações da Mocidade Portuguesa, olhe, sinceramente, não sou saudosista, mas também não embandeiro em arco no sistema vigente. No entanto uma coisa lhe digo: se o Estado Novo abusava no "gravar a ferro" as datas históricas de efemérides, este sistema democrático exagera na obliteração. Parece quase que nos faz envergonhar da nossa história. Para mim, história é história, e tanto faz que o personagem seja Lenine, Hitler, Mussolini, Franco Salazar, Cunhal ou Mário Soares. Todos tem lugar na galeria do tempo. Os juízos de valor que cada um faz, isso é outra coisa e não deve colidir com o mérito histórico.
Abraço e obrigado aambos.

Anónimo disse...

Quero aqui recordar o dia 1 de Dezembro de todos os anos em que frequentei a escola primária em Santa Clara, no quais a professora nos levava à Igreja Santa Cruz, todas muito aprumadas em que a melhor aluna levava a bandeira (calhou-me na 4ª classe levar a dita bandeira). Não sei se na altura percebia bem o significado da data, mas que ia feliz e muito vaidosa lá isso ia.E não foi por ter sido incluida nesses acontecimentos(MP e outros) que me tornei menos digna do meu país.
Ana

LUIS FERNANDES disse...

Tem toda a razão, Ana. A nossa vida é feita de episódios; uns que recordamos com saudade, outros nem por isso e outros ainda que não temos posição. Aconteceram, pura e simplesmente, porque estávamos lá. Não temos nada que nos envergonhar disso. Mas também entendo -e aí já entra o tal juízo crítico de cada um- que nem sempre a apreciação possa ser igual para todos. Vamos respeitar a opinião de cada um. Formulo-lhe também o mesmo convite de cima, se lhe der prazer, escreva as suas memórias. É tão bom recordá-las. As recordações nunca serão uma brisa menor. É algo que, quem a viveu, toca profundamente. E digo-lhe isto, porque acabei de ler um e-mail das "Histórias Devida", da Antena 1, a comunicar-me que no próximo domingo vão ler uma "estória" da minha infância que lhes enviei há muito tempo. Já nem me lembrava. Fui lê-la, e, acredite, até as lágrimas me vieram aos olhos. As memórias, as emoções, têm preço? Só terão para quem não as tiver.
Abraço e obrigada.

Anónimo disse...

Acabei neste momento de ouvir a história da sua musa encantada nas «histórias devida» e eu é que fiquei encantada.Um relato excelente .Espero sinceramente que tenha encontrado a sua Cidália, não a da sua aldeia, mas aquela que o fez feliz, a mãe dos seus filhos.Acho que todos nós temos uma história parecida com esta, alguém que foi importante na nossa adolescência, os namoricos dos 15,16 anos. Como eu gostaria de os ver ainda que à distância
Parabéns por tudo
Ana

LUIS FERNANDES disse...

Obrigada, Ana, pela apreciação elogiosa.
Muito agradecido mesmo.
Um grande abraço e, já sabe, as portas estão sempre escaqueiradas para si.