quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
VENDO OU TROCO...
Algumas pessoas não saberão mas eu comercializo arte. Claro que dizer que vendo e compro arte será a mesma coisa que dizer que mercantilizo ferro-velho, pedras do chão, ou objectos deixados junto ao contentor. Porque “arte” é tudo o que nos rodeia e impregna os cinco elementos. Existe arte na madeira, no fogo, na terra, no metal e até na água.
“Arte” será até no mínimo o brilho intenso do nosso olhar. Ora, por conseguinte, a arte está em todo o lado, o problema é descobri-la. Mas isso, já não está ao alcance de qualquer um. Quem vê “arte” é como um "desenterrador" de talentos. É ver aquilo que a generalidade de pessoas não descortina. Isto, deslumbrando as coisas pelo lado “resaliente” que toda a gente vê. Visto do outro lado oculto, pode dizer-se que todo aquele que venda arte é, no fundo, um vendedor de sonhos, um alienado, um obcecado, um manipulador, tratado por miúdos, um especulador. Naquilo que, aparentemente, não tem ou esgotou a sua utilidade, nós fazemos renascer esse interesse perdido. É graças ao nosso interesse visionário que muitos objectos do passado se mantém, como testemunho, para os vindouros tomarem contacto com uma realidade material.
Eu, tal como os meus colegas, sou um pouco de tudo isso. E porque venho eu com esta lengalenga? –parece que estou a ler os seus pensamentos, este quinto sentido da presciência também existe em nós. Olhe, porque estou de mudança. Hoje, mais propriamente logo à meia-noite, vou mudar-me –já estou a vê-lo interrogar-se, “oh…oh…porquê?”. Porque sim, pronto! Estou farto deste ano, só me deu chatices, não me deu aquele prémiozito de Lotaria ou no Totoloto que eu estava a contar. Para além disso, já começa a fazer uns ruídos de fundo esquisitos, assim como se tivesse os rolamentos gripados. Para mim, esgotou a validade. Até porque, entendam, um vendedor de arte como eu (talentoso, modéstia à parte), por muito que seja nostálgico e um pouco conservador, todos os anos, por esta altura, deve mudar de ano. Já viram se não fosse assim? Bolas, nem quero pensar! Acho que me chamavam logo Salazarento e outras coisas terminadas em “ento”, como bolorento, cinzento e sei lá mais o quê.
Bom, isto para dizer o quê? Que tenho um ano passado para vender ou trocar. Quer dizer, verdadeiramente, preferia vender. É que se for trocar, às tantas ainda me calha um igual ou pior do que este. Porque este –que eu quero vender- nem é nada mau, palavra de honra. É certo que tem umas coisitas menos boas -mas foi mesmo só para mim, pouca coisa é claro!-, mas a maioria é tudo bom. Sério. Acreditem em mim. Por exemplo, por cá, teve três eleições –lembram-se de algum ano assim? Deu os “Gatos Fedorentos” no “esmiúça os sufrágios”, que nunca mais acaba, aquilo é uma fonte a jorrar publicidade na SIC; fez renascer o Santana Lopes como Fénix. Ainda “habemus Papa” outra vez, como quem diz, ainda havemos de levar com ele outra vez à frente do PSD; O advogado Castanheira Barros lá continua na peregrinação das assinaturas para líder do partido; Continuamos com o Manuel Alegre a dizer “segurem-me, se não avanço para Belém”; os partidos todos, da direita à esquerda, desde o CDS/PP até ao PCP, continuam a chamar à atenção para o drama social e económico e todos a pedirem (a Deus) protecção para as PME’s; mesmo com o elevado desemprego no País, continuamos a comprar, comprar; cá por Coimbra, vamos continuando a evitar a queima de resíduos perigosos na Cimpor, em Souselas, e continuamos a querer mandar o lixo para os nossos vizinhos. Somos boa gente, está de ver!
Lá fora, na “estranja”, apesar do cai, não cai das bolsas, a coisa até nem correu mal de todo. Foi eleito para presidente dos “states” um afro-americano; a China e a Índia, apesar da crise mundial, continuam a crescer quase nos dois dígitos, a rebentarem com a economia europeia, e todos continuamos impávidos e serenos, assim muito “cool”, estão a acompanhar o meu raciocínio?
Foi ou não foi um ano bonzito? Claro que foi. Continuamos tesos mas alegres. Sempre atrás do “carp diem”. Assim é que é, como quem diz, assim é que somos! Tudo bons rapazes, nada de stress! Tudo numa nice!
Portanto, vamos lá, então, acertar o negócio: quanto é que me dão pelo 2009? Deixo a coisa assim pendurada, para não estar a criar base de licitação. Vendo pelo melhor preço. Mas atenção, só aceito propostas até à meia-noite…
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