quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A BAIXA, A GREVE E AS ILAÇÕES A RETIRAR



(ESTA MAGÍFICA FOTO A PRETO E BRANCO, MOSTRA BEM O ESTADO DE ALMA DO PEQUENO COMÉRCIO. FOI CAPTADA POR LEONARDO BRAGA PINHEIRO, QUE, INFELIZMENTE, JÁ NÃO ESTÁ ENTRE NÓS)




Bem podem argumentar os sindicatos dos motoristas dos SMTUC, o STAL e o STRUP, dirigindo-se aos comerciantes em comunicado, que as “dificuldades estão sobretudo relacionadas com a falta de poder de compra dos trabalhadores”. É verdade, “sobretudo”, o que, neste momento, afecta o comércio de rua é realmente o poder de compra dos portugueses, mas, sejamos sérios, esta paralisação dos transportes urbanos de Coimbra está também a afectar profundamente todo o comércio da cidade.
Antes de continuar, por uma questão de honestidade, tenho de dizer que se estivesse no lugar dos motoristas, a reivindicar melhores condições, faria a mesma coisa. Isto é, escolheria a época que causasse maior dano. Esta é uma verdade inquestionável. Para avaliarmos um comportamento, nada melhor do que pormo-nos no lugar do morto (salvo seja).
Analisando friamente a questão, os motoristas, obrigatoriamente, tendo em conta o seu legítimo interesse, não têm que se preocupar com o prejuízo social que podem causar a terceiros. Aliás, sem essa lesão a greve seria sempre ineficaz. A sua eficiência reside essencialmente nos danos que pode provocar intrinsecamente na empresa patronal. Acima de tudo pelo seu incumprimento perante os clientes. Depois, como toda a nossa economia está enredada em teia, consequentemente, o espirrar de um motorista na Guarda Inglesa, na cidade, pode provocar um surto de gripe H1n1 em Coimbra e uma pandemia em Lisboa.
E é exactamente neste efeito dominó que o comércio da Baixa está a sofrer e muito. As ruas estão muito mais vazias do que os outros dias. As lojas estão às moscas, como quem diz vazias. Quase todos os dias, desde Domingo, passo, e paro, no peixeiro, na frutaria, no pequeno café da minha rua e falo com os donos. Eles são o desânimo em alma de gente. Todos dizem a mesma coisa: a greve dos transportes está a melindrar fortemente os seus negócios. Em lamentos pungidos, lá vão dizendo que não sabem como hão-de pagar a renda deste mês de Dezembro. Alguns deles pagam cerca de 1250 euros por mês ao seu senhorio.
Já não falo do comércio de bens duradouros, porque este, regressivamente, nos últimos anos, está, já há muito, habituado a sofrer nas vendas.
Refiro com maior ênfase, exactamente, o pequeno negócio de bens perecíveis. É aqui que, quanto a mim, se sente o pulsar do efeito da greve desta semana.
Por outro lado, esta paragem nos transportes colectivos, tendo em conta a razia que provoca no fluxo de utentes do Centro Histórico, leva-nos a retirar ilações. Uma delas é que, perante este desertar, o cliente do comércio da Baixa, nos dias de hoje, pertence à classe média-baixa; por outro lado, se depende dos transportes colectivos para se deslocar, notoriamente, o seu poder económico/financeiro é escasso; não terá viatura própria e, mesmo perante essa possibilidade, não vindo, será de idade avançada.
São dados a levar em conta no futuro que se deseja para a revitalização das zonas velhas das cidades. O Governo deveria, com urgência, flexibilizar o petrificado Regime de Arrendamento Urbano, de modo a que sejam os próprios moradores a potenciar os negócios destas zonas de antanho.
Esta paralisação, pelos seus efeitos, dever-nos-ia fazer pensar. Porque, se, por um lado, o ónus cai na greve dos transportes, por outro quem governa tem obrigação de conseguir desfocar-se do acessório, vendo para além da bruma, e visualizar lá longe o fundamental.
Comparativamente com os imensos problemas que o comércio tradicional atravessa, esta greve, mesmo considerando-a prejudicial. É um pequeno grão de areia na engrenagem já de si tão viciada por calhaus enormes.

1 comentário:

Anónimo disse...

Isso mesmo , Coimbra á muitos anos que está cheia de calhaus com olhos.Não é a greve que esta a prejudicar o comercio na baixa, a greve tem 4 dias e os problemas da baixa agravam-se diariamente á anos, sem que nada se faça por ela e seus habitantes e comerciantes.