quinta-feira, 21 de agosto de 2008
EDITORIAL: CARTÃO VERMELHO PARA A ACIC
O que se está a passar no centro histórico, por muito distraídos que andemos, não pode deixar ninguém indiferente. Nos últimos anos encerraram várias dezenas de estabelecimentos. Em Março, deste ano, para melhor me consubstanciar, andei de rua em rua e contei cerca de 50. Perante o autismo das entidades representativas dos comerciantes, nomeadamente a Agência de Promoção para a Baixa de Coimbra (APBC) e a Associação Comercial e Industrial de Coimbra (ACIC), fui à Assembleia Municipal e, neste plenário, apresentei as minhas preocupações. Fui olhado, segundo o meu juízo de valor, pelos deputados municipais como “avis rara”. Para além do presidente da Junta de Freguesia de São Bartolomeu, que chamou à colação o problema, os outros vereadores, quer do executivo, quer da oposição, ninguém pareceu importar-se com a presente situação –neste blogue, andando para trás, pode ler o que senti perante aquelas “criaturas” insensíveis, em "A ASSEMBLEIA É DE TODOS".
Posteriormente, em conversa com o presidente da Câmara, Carlos Encarnação, acerca do encerramento do Museu da Ciência e da Técnica, aflorei, com preocupação, o problema que se estava abater sobre o comércio de rua na Baixa. Respondeu o presidente: “que quer que faça? É um comércio envelhecido, não se adaptou aos novos tempos. Não tenho nenhuma varinha mágica para mudar a situação!”
No tocante à ACIC, e como ressalva de interesses, fui membro da direcção desta instituição de 1998 a 2003. E se refiro este pormenor não é por acaso. Eu sei (senti) a dificuldade que é querer fazer coisas e não conseguir. Os comerciantes são uma classe “instalada”, agarrada a velhos hábitos e costumes ultrapassados. É muito difícil criar-lhes entusiasmo seja para o que for. São individualistas, pouco solidários e egocêntricos no superlativo absoluto. Preferem morrer de pé, cheios de dívidas, sem um pio, como quem diz, sem pedir ajuda, enquanto têm tempo, a reivindicarem apoios, expondo as suas dificuldades financeiras, e, assim, poderem aguentar a presente crise, que já vem de 2002, sobretudo a partir do “discurso da tanga”, de Durão Barroso.
Depois de apresentada a minha introdução em forma de incompatibilidade de interesses, prossigo então no meu ponto de vista. Apesar da ACIC marear em oceanos de turbulência, estes estados rebeldes dos tempos que se vivem não podem, nem devem, explicar tudo. O presente executivo, neste momento liderado por Paulo Mendes, é o mesmo que em 1998 eu fazia parte e cujo líder era Horácio Pina Prata, que se na altura se apresentou aos comerciantes e à cidade como um novo D. Sebastião, foi um profundo flop. Este pseudo-salvador o que fez foi usar os colegas de direcção e a ACIC como trampolim para voos mais altos do seu interesse pessoal e particular, cujos anos à frente daquela associação, na parte financeira, foi um descalabro, pelo menos em negócios mal geridos, e não deixou saudades. Quanto muito deixou profundas inimizades nos seus outrora amigos do peito. Claro que, saliento, através da sua protecção, alguns aproveitaram a sua sombra mediática (enquanto durou) em benefício próprio. Hoje a ACIC é um resquício de guerra, um farrapo, uma amostra da instituição centenária com 145 anos. Só institucionalmente representa os comerciantes e industriais, porque na prática poucos lhe reconhecem autoridade moral para pugnar pelos interesses de uma classe que já não vive, vegeta pelas ruas de amargura deste centro histórico de Coimbra.
O melhor que este executivo da ACIC deveria fazer era demitir-se e ser criada uma comissão de salvação do comércio local. Isso sim era um dever regional patriótico nacional. Há muitos anos, e o mesmo se passa com o actual líder Paulo Mendes, que o seu papel é negar a evidência. Ou seja, estão diariamente a encerrar lojas? Será isso motivo de preocupação? Não, nada disso! O que se passa em Coimbra é o mesmo problema transversal do país, é a crise, refutam os membros representativos desta associação. Então interrogo: se estes representantes dos comerciantes, continuadamente, afirmam apenas que vêem com preocupação o actual estado de coisas, mas que, no conjunto geral são meia dúzia de casas encerradas, e que os negócios vão sendo substituídos, e mais: que perante a actual conjuntura as coisas até estão muito bem. Pergunto: se aos seus olhos a situação não é preocupante nem calamitosa, como podem eles, perante o Ministro da Economia, perante o governo, reivindicar seja o que for para uma classe profissional que está prestes a cair na indigência?
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