sábado, 12 de abril de 2008

SOS-SALVEM A LOJA DE RUA

A RTP andou na Baixa, na 5ªfeira, a filmar e a entrevistar alguns comerciantes. Os seus lamentos são transversalmente pungentes. Há verdadeiros dramas, por entre balcões, nesta cidade de Coimbra. Há vidas, que mal vivendo, sobrevivem, e aos poucos se vão apagando, como luz de velas fenecendo numa longa noite de breu.
A situação é calamitosa. Se nada for feito urgentemente os comerciantes de rua serão, num futuro, que já é hoje, os indigentes do século XXI. E isto não é demagogia. Eu sei do que falo. Não tenho só informação, tenho também conhecimento de casos que bradam aos céus. O que é estranho é o facto de ninguém falar no assunto. Nem as estruturas representativas nem os próprios intervenientes nesta purga de genocídio profissional. Quando falo com alguns, para darem a cara, expondo o seu caso pessoal, todos se recusam a expor-se. No limite, talvez os entenda: estão tão frustrados e tristes, com depressões à mistura, que nem força têm para se lamentarem.
No caso da reportagem da RTP, felizmente, conseguiu-se que algumas pessoas dessem a cara. Sem vergonhas camufladas, disseram que estavam a viver momentos aflitivos. A peça televisiva vai mostrar imensos estabelecimentos encerrados. Cerca de 50, só na zona do perímetro comercial da Baixa, posso adiantar estes números com verdade, porque andei a contá-las de rua em rua. Até uma agência bancária encerrou na Baixa (BCP, na Praça do Comércio).
Prevê-se que até ao fim do ano em curso uma dúzia de lojas comerciais possam encerrar na Baixa de Coimbra. Há ordenados em atraso de vários meses. Há impostos e taxas em contencioso, por impossibilidade de cumprimento;
Então a pergunta que surge nas nossas mentes é o que é preciso fazer para salvar o que resta deste vasto património comercial que, num cantinho da nossa memória, está bem vivo? Quem não se lembra da mercearia do senhor Joaquim? E a loja de ferragens do Ganilho, na Praça 8 de Maio, ou o Augusto Neves, na Rua da Sofia? Ou as imensas Tascas vadias que existiam na Baixa da cidade?
A resposta não é fácil, mas penso que ainda vamos a tempo de evitar o apocalipse no comércio de rua. Vou expor algumas premissas que considero essenciais:
-É urgente a criação de um fundo de pensões, que permita a sobrevivência para os insolventes. E evitar que caiam na indigência. Lembro que os comerciantes em nome individual, estupidamente, não têm direito a subsídio de desemprego;
-É necessário uma linha de crédito que dê solvabilidade, e possibilidade de salvar os comerciantes viáveis economicamente;
-É absolutamente necessária a criação de um motor incentivador de revitalização dos centros históricos, que eleve a confiança e a auto-estima dos operadores comerciais de rua. Um “clique” que traga mais pessoas, de Segunda a Domingo, e, por outro lado, “obrigue” os comerciantes a entender que têm de mudar de horários. Os horários do comércio estão desfasados no tempo;
-É imperioso e necessário uma nova mentalidade e espírito de cidadania por parte dos, ainda, comerciantes em actividade. Os homens do comércio, escudados em velhos fantasmas, numa modorra incomodativa, escusam-se em contar a sua vida financeira em ruptura. Teimam, duma forma estática, em não alterar os horários, representativos de uma época, mas completamente desactualizados nos dias que correm. Estupidamente, preferem morrer de pé do que apelar a quem de direito;
-É imperativo que as autarquias não se vendam por umas rotundas, uns pavilhões multi-usos, e entreguem os comerciantes de rua, numa bandeja de barro, ao grande comércio. Tenho fé que, para além destes políticos de ocasião serem julgados nas urnas, através do voto, o sejam, em tribunal plenário, por gestão danosa das cidades. Os pelourinhos esperam por eles.
Seria bom que o Estado, através dos governos presente e futuros, retomasse o seu necessário papel de “ecologista ambiental”. Visse que só há equilíbrio quando há lugar para todas as forças vivas da natureza. E essa defesa, equitativa, é, por direito, um papel que não pode escamotear. A lei da selva leva ao desaparecimento dos entes mais frágeis.

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