quarta-feira, 2 de abril de 2008

DESALENTO

Quando eu morrer, minha morte
não lamentes, caro amigo;
O sepulcro é um jazigo
onde devo descansar;
A minha triste existência
é tão pesada, é tão dura
que a pedra da sepultura
já não me pode pesar.
Uma lágrima, um suspiro,
eis quanto custa morrer;
Custa-nos sempre o viver
prantos suspiros sem fim:
Que tormento fora a vida
se não fosse transitória!
Não me risques da memória,
porém não chores por mim.
Enchem trevas o sepulcro,
mais ninguém dele se queixa
quando o morto os olhos fecha;
Não quer luz –quer descansar;
Aquele fundo silêncio,
aquele extremo abandono,
dão-lhe tão tranquilo sono,
que não pode despertar.
Já tive medo da morte,
agora tenho da vida;
Sinto minha alma abatida,
sem vigor o coração;
Já cansado de viver,
para a morte os olhos lanço,
vejo neles o meu descanso,
a minha consolação.

(Extraído do TROVADOR -jornal de modinhas-,
De 7 de Maio de 1865)

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