quarta-feira, 2 de abril de 2008

LUNDÚ

LUNDÚ
(ENGRAXATE, IMBERNIZATE A LA MODE DE PARIS)

Que maldita é esta vida,
sois e chuvas suportar,
escovas, graxas em potes,
eu sozinho a carregar.

Não sabem? Já meu retrato
no caixão mandei pregar,
para ver si com tal luxo
atenção vou despertar.

Porém se eu vejo um freguês,
com força o colega diz:
Imbernizate, ingraxate,
A la mode de Paris.

Então fico a ver navios,
num mar de graxa atolados,
quando os pés dos tais fregueses
pedem ser assim chamados.

Mas aos males tão cruéis,
que sente meu coração,
encontro meus namoricos
por terna compensação.

Namoro toda a crioula,
Seus olhos têm atracção;
Das brancas nem mesmo a cor
Me causam mais sensação.

Que casamento feliz
Dentro em pouco irei gozar,
Indo abrir com a crioulinha
Uma casa para engraixar.

Seremos muito felizes,
O meu coração me diz;
A ela unido p’ra sempre
A la mode de paris.

(Extraído do TROVADOR –jornal de modinhas-,
De 14 de Maio de 1865)

Sem comentários: