terça-feira, 8 de dezembro de 2020

PROCURA-SE A MAGIA PERDIDA DO NATAL

 

(Imagem da Web)



Estamos a cerca de duas semanas do Natal. Como prisioneiros que esperam apenas o anúncio da hora da execução, os comerciantes em geral, a restauração e a hotelaria, enrolados num manto de melancolia causada pela pandemia, perdidos num estado de emergência, que, sendo alegadamente excepção, passou a ser a norma vigente, dentro de outro Estado avassalador.

Olhando a porta de entrada - sempre que a podem manter aberta -, à espera do cliente-surpresa que lhe safe o mês, vêem o fim cada vez mais próximo – este início de texto é desgraçado e apocalíptico? É, sim senhor! Mas fique o senhor leitor a saber que é a verdade. Este é o ambiente que se vive atualmente em Portugal.

Com poucas saídas, o pequeníssimo comerciante de roupas, fazendo directos em vídeos de vendas, repetitivos, uns atrás de outros, vira-se para o online. Sem se aperceber que está a dar um tiro no pé, prossegue o seu caminho em busca da salvação financeira. Sem dar conta que o que vende, sob honrosas excepções, é tudo igual e provém do mesmo fornecedor chinês, no norte do país, o seu horizonte, a curto prazo, é a destruição individual e colectiva de todo o sector. Substituindo a técnica da feira popular de rua, invadindo tudo o que é página da Internet, a vulgaridade veio para ficar até ser compulsivamente arredada por ineficácia.

Na sua filosofia, a compra sempre esteve envolvida em três premissas: o desejo, a originalidade e o mistério. Ora, está de ver que estas compulsivas ofertas em massa arrasam todos os princípios de motivação social.

Por outro lado, o preço sempre foi o fiel da balança que separa a sociedade, mas sempre a cair, inevitavelmente, contribui para a vulgaridade e o desinteresse geral.

O usuário da Internet é como um predador em busca da sua presa. Incessantemente, procura galinha gorda por pouco custo e a novidade. Se quanto ao preço estamos conversados, por que à medida que os preços embaratecem por força desta concorrência selvática, a margem de lucro diminui e o vendedor, sem o conseguir evitar, vai resvalando mais para o fundo do fosso; já no que toca à originalidade, sendo quase tudo igual, está à vista uma overdose colectiva, cujas consequências se adivinham pessimistas.

Escamotear esta veracidade é negar a própria vida e fazer de conta que tudo vai bem.

É difícil não ser negacionista e não aceitar o que está a acontecer como uma tese da conspiração. Que o que se perspectiva, por um lado, é o desmantelamento da economia social, tal como a conhecemos até aqui, assente numa classe média com auto-emprego nos seus pequenos negócios, por outro, um ataque certeiro à liberdade. Assente nas actuais condições de ciclo, produzir, vender e comprar, se a venda e a compra desaparecerem na micro-economia o processo económico das famílias desmantela-se como um castelo de cartas. Quem sai bem deste desastre anunciado? O império das grandes marcas e a grande economia, naturalmente.

Felizes daqueles que, extasiados num amanhã que nunca chega, se negam a aceitarem esta certeza e continuam a pedalar numa bicicleta presa ao chão.

No conjunto, os comerciantes mais antigos, sem força anímica, desbaratando diariamente as poupanças de uma vida, estão velhos pela idade e os mais novos, recém-chegados à actividade, descapitalizados e sem chão, estão envelhecidos pela frustração de verem os seus sonhos, carregados de otimismo utópico agora realizados, serem esmagados pela brutalidade da realidade.

Se o desanimar é o verbo, a esperança numa época de vendas como era o Natal já foi. Para aumentar o desalento crescem interrogações para o futuro.

Com uma CCP, Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, débil na defesa do comércio nacional, com associações locais insolventes ou com um pé na falência, os lojistas, sem um órgão associativo forte que os defenda institucionalmente, estão entregues à sua sorte.

Uma coisa é certa, os pequenos operadores, neste Natal e outros que virão, estão entalados entre um presente cheio de incógnitas e um futuro que, infelizmente, cada vez mais se augura pouco auspicioso. Mesmo Assim, sem se saber onde e como, tenhamos fé.


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