terça-feira, 22 de dezembro de 2020

PIETÁ





Não, a mulher está dormindo,
juntamente com o menino,
talvez sonhe que está indo,
levando o seu pequenino,
para a sua terra, partindo;
Ali, na Loja do Cidadão,
onde começa o Eldorado,
para uns, que já cá estão,
pensam: “está tudo arrumado!”,
outros, valorizam até tostão;
Tal quadro não deixa de ser irónico,
o “hoje”, afirmativo, da cidadania,
a disfunção entre o “ser” e o biónico,
concentrando a vontade e a mais-valia
na máquina, desprezando o “ser crónico”;
A alma desta mulher é a “Piedade”,
retrato dum tempo corrente,
sofrida, chora de saudade,
pela injustiça que sente,
nos humanos, a sua maldade;
Lá, o menino representa Jesus a morrer,
nos braços caídos da Virgem Maria,
a mulher dorida simboliza o sofrer,
a Loja do Cidadão, a fé, a utopia,
a gente que passa, a insensibilidade do “ser”. 


Sem comentários: