quinta-feira, 3 de março de 2016

A BAIXA VISTA DA MINHA JANELA





TEXTO ESCRITO A QUATRO MÃOS.
Por Márcio Ramos e Luís Fernandes


Ainda estamos no Inverno. A Primavera espreita na vidraça e levemente bate à nossa porta. A luminosidade vence a  escuridão e, consequentemente,  temos mais luz natural.  Os dias alongam-se pelas noites adentro. O Sol estende os seus raios e com eles abraça-nos com calor. Se bem que, previsivelmente,  ainda voltemos a ser borrifados com alguma chuva e o frio nos belisque ao romper das manhãs e ao cair das tardes, uma coisa temos certa: caminhamos a passos largos para receber o Verão. Esta estação do ano é luz, vida, cor, imaginação, liberdade.
O Verão  é a época alta na cidade. Curiosamente, a urbe transfigura-se e torna-se num catalisador –reduz a energia interna e aumenta a sua velocidade de reação sem, contudo, participar nela. Diminui a sua velocidade interna pela saída dos seus naturais para vários destinos, entre estes as praias, mas, pela vinda de turistas estrangeiros, em compensação, aumenta a sua velocidade de reação sem participar nela –por não fazer grande coisa pela riqueza que lhe cai no regaço.
A urbe, pelo fluxo de turistas estrangeiros que nos invade e que vem compensar o seu esvaziamento de nativos, mexe-se e reme-se nos interstícios negociais, pelo menos para os comerciantes que, como formigas, tentam facturar o máximo para assegurar o ano todo. Acima de tudo direccionada para quem nos visita, há maior animação nos cantos e recantos e praças. A tristeza endémica que nos invade nos meses cinzentos, sobretudo entre Novembro e Fevereiro, dá lugar à música, à alegria, e o desertificado transforma-se em vivificado e a falar vários idiomas do mundo inteiro.
Então, voltando atrás, se os conimbricenses largam a sua terra e partem em busca de emoções novas, mais que certo, é porque a cidade não lhes oferece o que precisam para preencher os seus anseios.
E para evitar quer saiam poderemos completar os seus desejos? Se calhar podemos.
Quando eu era novo o Mondego tinha ilhas de areia e mantos de água à sua volta –sei que na década de 1940 durante cerca de cinco anos existiu mesmo uma praia fluvial com estruturas em madeira e serviços de apoio.
Segundo a imprensa noticiou, o desassoreamento do rio já foi aprovado entre o Ministério do Ambiente e a Câmara Municipal. Ora, aproveitando as obras de dragagem das areias, por que não investir numa moderna praia fluvial em frente ao Choupalinho –que foi a área de localização em 1940? A cidade virava-se para o rio, já que, desde a construção da Ponte Açude em 1980, a população citadina abandonou e esqueceu o seu amigo bazófias. Verdadeiramente, só o recorda e toca nas suas águas quando o Mondego submerge as suas margens e invade tudo em redor –como aconteceu há cerca de um mês.
Ainda no campo da animação para manter cá dentro os que vão para fora cansados da rotina de uma urbe sempre igual, por que não criar uma festa identificativa de marca? Poderia até ser um festival musical do género Sunset, que se realiza na Figueira da Foz. Ou tentando ir mais longe, por que não (re)criar uma feira de artes e ofícios tradicionais durante uma semana em todas as ruas da Baixa e bem ao jeito de Oliveira de Azeméis, que se realiza em finais de Maio e em que são mostradas todas as profissões em extinção?
Talvez valha a pena pensar? O que lhe parece?

1 comentário:

Anónimo disse...

Senhor Luís Fernandes, um festival musical do género Sunset, acho bem. Artes e ofícios tradicionais, já não sei. É que Coimbra não é Oliveira de Azeméis. Mas, se for assim, até podíamos recriar os tempos em que os rebanhos de ovelhas atravessavam o largo de Sansão em direcção ao mercado, para abate, conduzidos por pastores castiços de barrete (se não era bem assim, está bem achado, heim?). Podiam até ser seguidos, em cortejo, pelos afiadores de facas, a assobiar naqueles apitos e por vendedoras de hortaliça descalças. Ia ser um assombro para os turistas, se bem que hilariante para os coimbrinhas menos tradicionais. Mas acho mesmo que devíamos deixar extintas as profissões extintas. Se se justificar, faz-se um museu.