quarta-feira, 2 de novembro de 2011

UM PESCADOR ABSORTO

(FOTO DE LEONARDO BRAGA PINHEIRO)


Um pescador está sentado a ver o mar,
ao longe avista a linha da separação,
fronteira do horizonte na Lua a beijar,
promessas de enleio e brilho de afeição,
uma onda vem, quebra-se num enrolar,
a praia está vazia, prenha de solidão,
fica um rasto de saudade, de marear,
gesto continuado, repetido à exaustão,
porque não se afadiga aquele ondular?,
um sopro de vento varre a imensidão,
uma folha seca luta para não se afogar,
sobe acima, baixa abaixo, de supetão,
alheia a esta luta,  sem parecer afrouxar,
a onda, quebrando o silêncio, faz “oão”,
uma gaivota, em pirueta, tenta alforrar
um peixe careca sem dissimulação,
é a luta pela vida, na morte larvar,
uns ganham amor, outros amargarão,
alguém ficará feliz com outro chorar,
pensa o pescador, ferido no coração,
leva a mão ao peito, mal sente o pulsar,
o bater ritmado de um sino no porão
de um qualquer barco sem arribar,
é a sua vida em tapete de artesão,
olha o oceano, está o Sol a brilhar,
enroscando-se na água em fecundação,
fazem amor sem tempo, sem acalmar,
assim é a Natureza a dar-nos uma lição,
reflecte o pescador a olhar o mar.


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