terça-feira, 29 de julho de 2008

PORQUE É QUE "ESTÁS TÃO EM BAIXO" Ó LUSO?





No domingo, como habitualmente, passei, pelo menos duas horas, a ler a jornal, em frente à “recauchutada” Fonte de São João. Já o aqui escrevi: que pena! Que “plástica”, como quem diz, que “pedrada” este projecto! O que torna esta obra unanimemente má é a convergência de opiniões. Tanto faz ser no quiosque de jornais, como na “Flor de Luso”, a opinião é comum: “depois de dois anos em trabalhos de parto, infelizmente para todos, vai sair um aborto!”
Fugindo ao habitual, no domingo dei uma grande volta, a pé, pelo Luso. O estado de alma das ruas é simplesmente decadente. Para um fim de Julho, pouquíssimos banhistas. Que saudades de outros tempos! Bem sei que, com tristeza, não é um problema único do Luso, esta falta de gente é transversal a todas as urbes e vilas. Mas que dói, dói! Se não há dinheiro para comer, como é que se pode ir para as termas passear?
Aquela artéria principal, outrora cheia de vida, com um animado comércio de rua, hoje, constata-se, há imensas lojas encerradas. Até o emblemático Café Casino está fechado. Fui andando a pé e entrei dentro do Parque de Campismo, da Orbitur, uma desolação. O abandono é notório com muito poucos campistas. Jardins mal cuidados, com erva demasiado grande. É notório o ar deprimente daquele parque. Em vez do Campo de Ténis porque não constroem uma piscina? Aquele espaço precisa urgentemente de uma mexida. Dei uma palavra à minha amiga Ana, que explora o bar-restaurante do Parque. Sem entrar em grandes detalhes, lá me foi dizendo que, “este ano, o negócio está muito fraco”.
Fui andando a pé, visitei quase todos os moinhos de água. Uma lástima, uma dor de alma! Abusivamente, penetrando pelo orifício da janela (sem janela de madeira), entrei dentro do moinho do “Ti” Benjamim “Moleiro”. Tudo abandonado, a apodrecer. Lá está a carroça, o curral da mula, a bigorna, os restos de carvão, e as três mós em posição para, se alguém quiser tomar o lugar do velho moleiro, começar a moer milho e centeio. Bolas! Aquilo é um museu. Aposto que naqueles imensos litros de água, que a vala transporta, vão muitas lágrimas do espírito do “Ti” Benjamim. Podem crer! Um homem morre fisicamente, mas a sua alma, o seu espírito, paira no local, onde viveu intensamente. Onde fez amor, onde fez pela vida, onde desfez tantos sonhos impossíveis de realizar. E aquele moinho é o berço e a história daquele homem desaparecido. Bolas! Não deixem morrer um património destes. Bem sei que não é fácil. Certamente o moinho estará inserido no mesmo artigo da casa (que está à venda), mas, a Junta de Freguesia deve sensibilizar a Câmara da Mealhada para que esta, na impossibilidade de adquirir a propriedade, pelo menos, desenvolva esforços para que o novo adquirente mantenha o moinho em funcionamento. Ao lado deste, outros dois jazem como monumento à incúria e ao desleixo de quem manda.
Continuo a andar e sigo em direcção a Carpinteiros, a Espanha, como era conhecido no meu tempo de miúdo. A mesma lástima! Pelo menos seis moinhos encontram-se em decomposição. Tudo a cair, com os telhados semi-destruidos, as rodas dentadas, na base de água, que faziam andar as mós, tudo em estado decrépito. Merda para isto! Não posso evitar esta imprecação. Falei com alguns habitantes dos Carpinteiros e é notório, sente-se o seu envolvimento e, ao mesmo tempo, o desânimo. O que eles não dariam para ver aqueles monumentos da história da freguesia a trabalhar.
Além de mais, atentemos naquele constante caudal de água. É uma pena não ser aproveitada para fins turísticos e nada melhor que pôr os moinhos em funcionamento. Depois é criar uma rota pedestre de moinhos. As nossas crianças, que pouco sabem acerca de pão, agradecem.
Bem sei, devo dizer, que o problema dos moinhos não é muito fácil de resolver, e porquê? Porque qualquer um daqueles moinhos, facilmente pode ter dezenas de herdeiros. Depois uns querem vender, outros nem por isso, preferem deixar cair tudo, outros, sabendo do interesse da Câmara em revitalizá-los, quererão uma fortuna –isto é típico. De qualquer modo, a autarquia da Mealhada tem obrigação de resolver tudo isto e, no limite, pode fazer uso de um instrumento jurídico, a expropriação, por interesse cultural.
É urgente que se faça alguma coisa, enquanto há pessoas vivas que sabem reconstruir e trabalhar com estes velhos moinhos. Se nada se fizer, qualquer dia, para além de já nada restar do edificado, nem sequer haverá memórias de um tempo que esteve na base da nossa contemporaneidade.
Alguém disse um dia que um povo sem memória é um povo sem futuro. Eu acrescento que quem trata assim os seus antepassados não pode esperar ser bem tratado pelos vindouros.

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