quinta-feira, 17 de julho de 2008
"ESTA É A DITOSA PÁTRIA MINHA AMADA"
Há dias andou na Baixa de Coimbra um indivíduo, aparentemente cinquentão, a distribuir, à “surrelfa”, panfletos dentro dos estabelecimentos comerciais. Sub-repticiamente entrava, fazia de conta que estava interessado num qualquer artigo, e, se ninguém estivesse a ver, deixava um panfleto encimado com as armas de Portugal e com a efígie de Salazar. No cabeçalho, entre comas, citava:
”ESTA É A DITOSA PÁTRIA MINHA AMADA”. Mais abaixo, “PORTUGAL. Nas ruas, nas fábricas, nas escolas. Nos bancos, nas igrejas, no exército. Nos hospitais, na Polícia, nos cafés. Nas bancadas dos estádios! No mar, nos campos, por toda a parte resistiremos!
Em todos os lugares da Nossa Terra iremos lutar!
Somos nacionalistas. Nunca nos renderemos!
Nossa é a Terra, a Nação e a Glória. Nossa é a Pátria e nosso é o sangue. Nossos são os 800 anos de História.
Lutaremos sempre, até à vitória final!
JUNTA-TE A NÓS!”
A primeira interrogação que surge será o porquê desta clandestinidade? Provavelmente, quem o faz, terá razões de sobra para este comportamento. Mas, numa democracia, onde aparentemente há liberdade de expressão, fará sentido esta forma receosa de divulgação? Certamente, agem desta maneira por necessidade. Mas, a ser assim, dever-nos-ia envergonhar a todos, ou, no mínimo, questionarmo-nos. Cada um deveria ter o direito de divulgar a ideologia que defende, desde que essas ideias não conduzam, ou instiguem, à violência. E, sinceramente, não me parece que estas ideias nacionalistas tenham a menor ponta de instigação à violência.
Parece-me que passados 34 anos de abertura à livre expressão, alguns portugueses, presos a fantasmas enterrados nas catacumbas da recordação, que hoje, legitimamente fazem parte da história, ainda não entenderam que há lugar para todos os credos e ideologias, desde, sublinho, que não conduzam ou instiguem a violência.
E aqui, tenho de dar nome a quem duma forma descarada, autoproclamando-se donos da verdade, descriminam quem pensa de maneira diferente. Obviamente que me refiro a uma esquerda petrificada, herdeira do marxismo-leninismo.
Alguém tem medo do fantasma de Salazar? Se há, eu, pessoalmente não tenho. Salazar foi um grande estadista que retirou Portugal da banca rota, tomando a seu cargo a pasta das finanças públicas de 1928 a 1932. Como todos sabemos dirigiu os destinos de Portugal até 1968. Fez asneiras? Certamente. Mas se cada um de nós é o produto do meio em que é criado, evidentemente que António Salazar também o foi. Se a primeira República, a partir de 1910, nas finanças públicas, foi um desastre, se formos honestos intelectualmente, teremos de entender que este grande estadista deveria ter vivido sempre sobre o anátema da miséria e do descalabro financeiro.
Se a história é um continuum que assenta numa linha infinita que se perde no início do verbo do mundo, contrariamente ao que muitos nos querem fazer crer, esta mesma história não é feita em corte, como placas tectónicas, então, se não renegarmos as nossas origens teremos de dar valor a quem nos antecedeu. Foram maus governantes? Certamente. Muitos inocentes morreram? Infelizmente assim foi, mas teremos o direito de os julgar a posteriori? Admito que sim, mas antes de, sumariamente, os condenarmos deveremos ter em conta as atenuantes do seu tempo. Sermos justos é um imperativo comportamental, não acham?
E com isto, não se pense que estou a tentar branquear seja quem for. A cada um, dentro da história universal, ser-lhe-ão assacadas responsabilidades. O que não podemos nem devemos é retirá-los da longa galeria da história de Portugal e do mundo.
E aqui, inevitavelmente, não posso deixar de falar no Museu que a autarquia de Santa Comba Dão legitimamente quer construir e que uns (demasiados) pseudo-intelectuais, em nome da ocultação duma verdade, que consideram duvidosa, a todo o custo querem evitar.
Mais uma vez, reitero, que este movimento de intolerância provém de uma esquerda ressabiada e plena de má consciência. Como (mau) exemplo lembremo-nos de Lenine e dos milhares de opositores mortos por fuzilamento na antiga URSS. Recordemos os Gulags –sistema de campos de trabalhos forçados para criminosos e presos políticos, de 1918 a 1956- de Staline, na Sibéria e na Ucrânia.
Sejamos apenas honestos intelectualmente. Só isso.
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