quarta-feira, 30 de julho de 2008

AS "BRANCAS" DO JOÃO PAULO


(IMAGEM DA WEB)


  No dia 28 de Julho, do corrente, João Paulo Craveiro (JPC), Presidente da SRU, Sociedade de Reabilitação Urbana, e emérito filiado de relevo no PSD/Coimbra, assinou, como habitualmente, uma coluna de opinião no Diário de Coimbra, com o título “Noites brancas em Coimbra”. O conceito “Noite Branca” foi importado do estrangeiro. Consiste em manter o comércio aberto toda a noite ou parcialmente, com animação à mistura. No fundo, este “mix” tem por objecto o tentar fazer regressar os consumidores desaparecidos para os grandes centros comerciais.
Neste seu apontamento, JPC, aborda a problemática do comércio tradicional no centro da cidade, a Baixinha, em Coimbra. Aí, nesse texto, discorre sobre as vantagens de comprar no comércio de rua, até aí tudo bem, é a sua opinião subjectiva. O problema é quando faz a apologia das “noites brancas” como um sucesso. Quando escreve: “Com o objectivo de demonstrar que é possível diminuir ou mesmo eliminar estas desvantagens, a APBC (Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra) organizou mais uma vez aquilo a que chamou “Noite Branca” na última sexta-feira do passado mês de Junho, naquela que foi já a terceira edição da iniciativa. A “Noite Branca” consistiu numa alteração dos horários dos estabelecimentos comerciais aderentes que tiveram as suas portas abertas entre as 21 e as 24 horas. Em simultâneo, houve animação de rua que não esteve circunscrita a locais fixos, antes percorreu as artérias principais da Baixa. (…) Largas dezenas de lojas aderiram à iniciativa, um pouco por toda a Baixa. Os visitantes contaram-se por milhares. As lojas aderentes, na sua maioria, reconheceram que as vendas foram excelentes nessa noite, traduzindo-se a iniciativa num sucesso do ponto de vista comercial. Uma das áreas comerciais que mais beneficiou foi a restauração da Baixa que serviu muito mais jantares do que é habitual. (…) esta “Noite Branca” foi realmente um sucesso, estando de parabéns os organizadores, designadamente a Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra (…)”.
Se o leitor chegou até aqui, certamente estará a interrogar-se da razão de eu transcrever esta opinião. “Afinal é uma opinião e vale o que vale”, pensará você. É verdade, digo eu. Mas se acrescentar que a única verdade neste texto é que de facto houve realização e o resto é um ror de mentiras? Acha que muda alguma coisa? Para mim muda e muito.
Nos últimos anos, aqui em Coimbra –não sei se é ou não transversal ao país-, todos os intervenientes com poder de decisão em relação ao comércio tradicional, desde a ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, a APBC, a Câmara Municipal (de maioria PSD, em coligação) e elementos ligados a este partido político, parecem todos ler pela mesma cartilha. Ou seja: as vendas no comércio tradicional estão más? “Xiu!”, ninguém deve saber. O que deve transparecer para o público é que está tudo muito bem. Do ano passado até este ano, na Baixa, houve uma vaga de assaltos sem precedentes às lojas –uma delas foi assaltada 18 vezes-, “Xiu!”, estas notícias não devem ir para os jornais, e muito menos à Assembleia Municipal, que os consumidores ao saberem disto, gera neles insegurança e, se souberem, não vêm cá; a “Noite Branca” foi, como as antecedentes, um fiasco, mas, calma!, o que se deve apregoar é que foi um sucesso.
Então, chegados a este ponto, num exercício mental, ponhamos as cartas na mesa: terão estas criaturas razão? No limite, eu até admito que a possam ter, se tivermos em conta que, no conjunto, faço um esforço para entender, a Baixa paga tudo com juros a médio prazo. Mas, nestas coisas de tomarmos decisões, na ponderação da escolha entre o mal maior, na sua harmonização, é preciso escolher o mal menor. E, neste caso qual será? Deveremos escolher a Baixa no seu todo, calando-nos, não denunciando assaltos e outras tropelias, enveredando pelo “politicamente correcto” esquecendo os prejudicados, ou deveremos tomar a escolha da verdade? Defendendo acerrimamente os comerciantes lesados pelos furtos e todos aqueles que, numa aflição diária, se arrastam para tentar aguentar um situacionismo decadente que, sem ajudas de ninguém, os conduz à falência? É como, no entender desta gente, fosse normal que muitos mártires, ao caírem, o façam de sorriso nos lábios. O que importa é o princípio da salvação da maioria. Se alguns “morrem”, no entender destes falsos defensores, é normalíssimo. Devem morrer em silêncio. Isto é verdadeira cidadania.
Como me custa muito a perceber esta postura de quem tem por missão pugnar até à exaustão nem que seja um único associado ou não, vitima de uma qualquer arbitrariedade, e não o faz, protegendo pela continuação de um sistema injusto e arbitrário, devendo dizer a verdade, não alinhando em doutrinas partidárias questionáveis, explique-me você leitor se esta gente estará certa?!
Para mais, se todos apregoam que está tudo bem, que as cerca de meia centena de lojas que encerraram na baixa é normal, como é possível reivindicar o que quer que seja e evitar que o que resta das lojas de rua desapareçam de vez?
Admito que o tonto sou eu. É verdade que muitas vezes me questiono se estas criaturas, em cima de uma migalha de poderzinho, defendendo unicamente o seu interesse e de mais ninguém, não estarão certas. Se calhar estarão mesmo. O que acha você leitor?

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